A TORRE DO TOMBO
Quando a manta é curta, ao cobrirmos a cabeça destapam-se-nos os pés...
Na sequência das pesquisas a Santa Catarina e alertado por um seguidor dos disparates que aqui se vão escrevendo, este praça foi dar um giro até ao Vale das Morenas... ...em busca do Arquivo Municipal Eduardo Campos, não somente pelas primas razões mas para apreciar a exposição alusiva à temática do desporto automóvel em Abrantes...
Em complemento ao anúncio, partia-se do princípio que as acessibilidades a esse espaço fossem praticáveis pelo comum dos cidadãos, dispensando o recurso a uma viatura com estas características!
Tragando a larga Via industrial 1, constatou-se que em termos de sinalética não será fácil descobrirmos o almejado arquivo no final de contas, dista quatro mil e cem metros do nevrálgico centro histórico de Abrantes e consequentemente da Biblioteca António Botto... -Népias, nicles e batatóides!
À semelhança do software necessário para descodificação de determinados suportes digitais, quem pretenda aceder ao espaço físico do Arquivo Municipal, necessitará usufruir de certos requisitos, nomeadamente de excelente autonomia e mobilidade... percebendo-se que o estudante, o investigador ou o turista não têm a tarefa das demandas, facilitada.
Qual não foi a incredibilidade cá do Cidadão abt quando se deparou com o sugestivo pavimento da via de acesso ao Arquivo Municipal...
Partindo do pressuposto que entre outros, ali se empilham documentos quinhentistas, entende-se que o primeiro objectivo do município abrantino seja integrar o visitante nas épocas d’antanho em que os romanos revestiam as vias com pedaços de pedra tosca e posteriormente os povos recorreriam ao seixo rolado e à terra batida... vulgo “caminhos de cabras,” encontrando-se nesta avenida alguns vestígios evolutivos relativamente aos tais trilhos medievais...
O alto-relêvo das caixas de esgotos domésticos e pluviais são a marca da casa! Melhor do que isto?
Temos sim senhor, a Calçada dos Galhardos ou os Caminhos da Transumância!
Fronteiro aos estaleiros municipais onde se albergam as máquinas de terraplanagem e pavimentação, de facto é um extenso edifício, denunciando a sua traça arquitectónica pós moderna em dois volumes, um primeiro esticado na horizontal, entrecortado pelo segundo na vertical onde sobressai a portaria do alçado principal... Correndo o risco de danificar os componentes mecânicos do meio de transporte que convém ser de suspensão elevada, o leitor depara-se com um extenso portão arredado da larga escadaria que ascende ao tal edifício da rota da Rede Nacional de Arquivos...
...À sua direita encontra-se uma rampa de acesso para pesquisadores de mobilidade reduzida, vulgo “rodinhas.”
A monumental edificação está compartimentada em espaços distintos... destacando-se o jardim interior circunscrito ao saguão feito galeria, um amplo espaço administrativo, um salão com doze cadeirinhas distribuídas por diversas mesas rectangulares onde poderemos consultar a documentação previamente solicitada, duas salas para descrição e digitalização de documentos, um compartimento reservado ao depósito e arquivamento de documentações ladeado por duas salas de restauro, tratamento e conservação da papelada, uma cafetaria e as imprescindíveis casas da força...
Jeitosa e funcional...
Outra chatice de sem jeito... Exceptuando nos momentos do consultor abandonar as instalações...
A tal escadaria de acesso é constituída pela conjugação de lajes quadradas em alva cantaria, formando juntas entrecruzadas cuja luminosidade solar reflectida ofusca os transeuntes emergidos da penumbra, quando embrenhados nos raciocínios históricos...
Na justa medida em que a visão humana carece de alguns segundos para se adaptar a diferentes luminosidades, a ampla escadaria detentora de cobertores (profundidade) ligeiramente declinados no sentido da marcha e com espelhos (altura) de oito discretos centímetros, estando os focinhos carentes das respectivas faixas antiderrapantes com a sinalização visual contemplada na legislação. O quadriculado monocromático induz ao transeunte a errónea percepção de estar a descer um suave declive...
Apercebendo-se tardiamente que de facto se trata de esconsa escadaria desprovida de corrimãos, com o pavimento derrapante agravado pela humidade atmosférica. ...Considerando os valores da motricidade humana, o metro de vão do cobertor de cada um dos degraus em nada se coaduna à passada de um adulto de estatura mediana que equivalerá a aproximadamente 3/5 do metro, induzindo que à segunda escancha se assente o calcanhar dianteiro na extremidade do degrau, sobrando a palma do pé em falso, arriscando-se uma entorse, rotura de ligamentos ou mui provávelmente podendo o utente envolver-se em queda aparatosa com a cabeça posicionando-se a nível inferior ao tronco, só tardiamente se apercebendo da evocação alvitrada pelo projectista que desenhou quão esplêndido edifício municipal...
Torre do Tombo!
Se dúvidas houver, analisemos o que nos dita o anexo ao Decreto-Lei nº163/2006, publicado a 8 de Agosto:
Capítulo 1
Subsecção 1.3.1 – As escadarias na via pública devem satisfazer o especificado na secção 2.4 e as seguintes condições complementares:
1) Devem possuir patamares superior e inferior com uma faixa de aproximação constituída por um material de revestimento de textura diferente e cor contrastante com o restante piso;
2) Devem ser constituídas por degraus que cumpram uma das seguintes relações dimensionais:
3) Se vencerem desníveis superiores a 0,4 metros devem ter corrimãos de ambos os lados ou um duplo corrimão central, se a largura da escada for superior a 6 metros. Subsecção 1.4.1 – 1) Os troços em rampa devem ter uma inclinação nominal não superior a 6% e um desenvolvimento medido entre o focinho de um degrau e a base do degrau seguinte, não inferior a 0,75 metros ou múltiplos inteiros deste valor;
Capítulo 2
Subsecção 2.4.3 – 5) Faixas antiderrapantes e de sinalização visual com uma largura não inferior a 0,04metros e encastradas junto ao focinho dos degraus.
Subsecção 2.4.8 – As escadas que vencerem desníveis superiores a 0,4 metros devem possuir corrimãos de ambos os lados.
Atendendo à placa alusiva...
...concluiremos que o estipulado no referido diploma se encontrava em pleno vigor à época da inauguração do Arquivo Municipal de Abrantes...
Tal como as cerejas que puxando por uma, vêm mais duas ou quatro à pendura, viajemos até às escadinhas pedonais que da Rua Nossa Senhora da Conceição acedem ao parque de estacionamento de São Domingos...
E o que por lá vamos encontrar?
Escadarias íngremes cujos degraus suportam cobertores de 25 centímetros de profundidade intercalados em espelhos com 14 centímetros de altura...
Verifiquemos o que estipulava o antecedente Decreto-lei 123/97 de 22 de Maio:
Anexo I
Capítulo I
Subsecção 2.2.3.3 – Os degraus devem ter o focinho boleado. A altura máxima do espelho é de 16 centímetros. O piso dos degraus deve proporcionar uma boa aderência.
Devido ao acentuado desnível entre patamares, consideremos a fórmula universal de proporção desenvolvida pelo Dr. Lehrmann do Kaiser Wilhelm Institut, em Dortmund...
2 espelhos + 1 cobertor = 63 centímetros
Apliquemos esta contita às dimensões recolhidas na escadaria:
(2x14) + 25 = 53 centímetros
São os tais 10 centímetros a menos no cobertor que fazem toda a diferença em usufruir a escadaria com um mínimo de segurança!
Basta reparar na posição lateral, amparando-se no corrimão e colocando ambos os pés, degrau após degrau, com que a maioria das pessoas de meia-idade ali se locomove.
Uma escadaria concebida para utentes ágeis!
De acordo com a fórmula de Lehrmann, para o espelho de 14 centímetros corresponderá um cobertor de 35 centímetros onde caberia não a palma, mas o pé por inteiro!
Analisando o estabelecido na tabela de relações...
...para espelhos de 15 centímetros corresponderão cobertores com um mínimo de 30 centímetros no sentido da marcha!
Aos ciberleitores que pretendam praticar exercício físico sugere-se que ascendam estas escadinhas em bicos de pés, descendo-as assentes nos calcanhares com intuito de exercitarem os glúteos, os iliopsoas, os rectofemurais e demais músculos das coxas, sendo desnecessário participarem nos concursos televisivos do Malato se quiserem ganhar um novo andar na reboleira... ... evitando deslocações à escada infinita escavada na vertente esquerda do Vale do Alcolobre, composta por 297 degraus...
...terminando no Moinho da Roca, cujos focinhos são meros troncos de madeira travados por estacaria que de acordo com as instintivas normas do bom senso popular, nos inspiram mais confiança!
2 comentários:
Olá caro cidadão abt!
Estou a imaginar o que poderá acontecer a quem se aventure por esses acessos fora das normas legais...pernas partidas,braços partidos,no mínimo?Quem se responsabilizará nesses casos?Sim ,porque a incúria de alguns pode ser fatal para outros !"Autêntica Torre do tombo"!
Enfim,porquê ?Desconhecimento ?Não há desculpas para tal.Vão consultar legislação sobre segurança ,como fez o amigo cidadão!Por estas e outras é que se assiste a um fazer e desfazer obras por conta do "Zé Povinho"
Um abraço.
Maria Marques
Maria Marques:
Pelo averiguado in loco, nos locais referenciados é mais fácil arranjar entorses e ruptura de ligamentos do que ao progredir nos trilhos pedregosos de montanha em que temos que saltar de rocha em rocha!
Bom...pernas e os braços partidos são por culpa da descalcificação dos incautos ossos, razão para que hipoteticamente, o seguro não pague despesas de recuperação!
Estão tramados aqueles que beberem água em vez de leite!
Calhando, os acessos à Torre do Tombo ficaram mal traçados porque mais adiante terão que o esventrar para introduzir o gás, depois a fibra óptica etc, e se isso não acontecer, para colocar as coisas com deve ser garantindo o clientelismo de umas quantas empresas privadas contratadas por ajuste directo!
E o povo é que paga, pá!
Volte sempre a esta xafarica!
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