“A tremer como varas verdes, de cólera e de angústia, olhou à volta.
…o manequim de lantejoulas caminhava (…), bateu o pé direito no chão e gritou:
Infelizmente, o fantasma, que aparecia e desaparecia no mesmo instante, escondera-se covardemente de novo por detrás da mancha atordoadora.
O espectro doirado lá estava sempre.
Sem lhe dar tempo, com quanta alma pôde, Miura lançou-se-lhe à figura, disposto a tudo.
Não trazia.
E, por isso, quando se encontraram e o outro lhe pregou no cachaço, fundas, dolorosas, as duas farpas que erguia nas mãos, tinha-lhe o corno direito enterrado na fundura da barriga mole.
Gritos e relâmpagos escarlates de todos os lados.
Passada a bruma que se lhe fez nos olhos, relanceou a vista pela plateia.
Como não recebeu qualquer resposta, desceu solitário à consciência do seu martírio.
Avançou de novo.
Os olhos já lhe doíam e a cabeça já lhe andava à roda.
Humilhado, com o sangue a ferver nas veias, escarvou a areia mais uma vez, urinou e roncou, num sofrimento sem limites. (…)
Parou. Mas não acabaria aquele martírio?
Num último esforço, avançou quatro vezes.
Quando? Quando chegaria o fim de semelhante tormento?
Subitamente, o adversário estendeu-lhe diante dos olhos congestionados o brilho frio dum estoque.
Quê?! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio da sua humilhação?!
Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era de submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume."