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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

domingo, 24 de julho de 2011

O CROCODILO III


O CROCODILO III
Terceiro episódio


De tão compenetrado estava... que este Cidadão se esquecera desligar o motor da Coty...
Apeando-se, os seus olhos não se descolavam daquele templo tão simples e singelo... Só o raio da portada é que destoava...
Ah, pois... você que apenas agora tomou contacto com estas crónicas maradas que sobrevivem há três anos, queira saber que de momento este praça não o pode atender porque vão decorridos dois episódios em que anda em busca do crocodilo perdido na Albufeira do Castelo do Bode!
Tendo em conta que o amigo se encontra para aí sentado frente ao monitor em vez de praticar exercício físico, o que lhe faria muito melhor à saúde, este rapaz tem o prazer de o convidar a ler o primeiro e de seguida, o segundo episódios que antecedem o presente, caso contrário não saberá enquadrar-se no enredo desta treta!
Registe-se porém que a leitura deste terceiro episódio é desaconselhada a pessoas sugestionáveis, a cardíacos e a menores de idade,  pelo que este praça não se responsabilizará quanto aos danos dai resultantes.
Pois bem, o coreto ocultava uma senhora bastante idosa, que para abreviar esta crónica, vamos apelidá-la da “Velha,” que enchia um cântaro de barro numa Fonte ali próxima... de facto ao encher o pote, metade da água escorria para fora porque olhava atenta em direcção a este praça... bem sabia que tinha um bom visual e era bastante jeitoso, nas nunca se tinha apercebido que até as raparigas mais idosas o admiravam assim tanto...

-Chrhrum crhum...

Isto fora um pigarreio com o intuito de acertar as cordas vocais...

-Boa tarde, senhora...

-Boa farde...

Neste momento cá o praça apercebeu-se que aquela velha poucos dentes teria...

Procuro um crocodilo...

-O que é ifo?

-É um lagarto enorme... aí assim com dois metros e tal de comprimento...

Explicou cá o Cidadão enquanto exemplificava esticando os braços de par em par, na horizontal e de palmas das mãos enconchadas!

-Afão o fenhor não fira o cafacete?!

-Ah pois,... desculpe!

Só agora houvera reparado que se tinha esquecido do penico amarelo enfiado na carola! Colocado o dito cujo sobre o retrovisor da máquina, voltou à carga... um pouco desconfiado com o que a velha manuseava enquanto o cântaro cheio de água, extravasava para o chão.

-Isso que a senhora tem nas mãos... são ovos de crocodilo?

-Não fenhor.. fão ófus das minhas galinhas!
-È que dizem que há um bicharoco desses ali na Albufeira do Castelo do Bode...

-Fá eu nunfa houfi falar nifo! Há por aqui uns lagartos nas árfores mas fão fastante fais fequenos!

Dali o Cidadão não se safava... para criar mais confiança ainda perguntou...

-Esta capela...está pr’ aqui tão isolada, porquê?

-Óh fenhor! Fem fe fê que não é de cá! Isto é uma história muito longa! Antigamente havia um fastor que andava por aqui com um refanho de ofelhas até que um dia reparou que elas comiam os tojos todos menos um mais verde e viçoso... quando se afroximavam dele destavam a esfirrar como se aquilo tivesse fimenta!

-Era o crocodilo?!!

-Não era, fão fenhor. Debaixo defe tojo que era rodeado for muitos alecrins, o fastor encontrou uma fonequinha muito bonita, protegida pela sombra.

-Era o crocodilo?!!

-Ó hóme, cale-se e oiça! Fegou nela, enfiou-a no barrete, levou-a para casa e escondeu-a numa arca! No dia feguinte quando foi à frocura da foneca, ela já lá não estava! Finha desafarecido. O fastor levou as ovelhas para o mesmo sítio e voltou a encontrar a fonequinha debaixo do mesmo tojo. Foltou a levá-la fara casa, e mais outra vez a fonequinha lhe desafareceu da arca! Na manhã feguinte já lá não estava!

-Foi o crocodilo que a levou!!

-Não fenhor! Fesconfiado, regressou ao tojo lá a encontrando, muito frilhante e fonitinha! Nos dias seguintes enfiava-a na manga do casaco, amarrando as fontas com dois atilhos e quando chegava a casa já ela tinha desafarecido oufra vez...

-O bicho comeu!...

Fale-se um momento se faz favor! Defois contou o que estava a afontecer à mãe e aos fatrões, e mais farde aqui nas aldeias ao redor já o fovo fodo fabia. Aquilo era um milagre da Senhora Virgem Santíssima.

-Então, não era o crocodilo?

-Afinal, o fenhor quer ouvir o resto, ou não? Despois construíram aqui a capela e o altar até está no sítio onde a fonequinha se escondia no tojo. Quando era garota, ainda me lembro que uma fez antes do Ciclone, afareceram umas formas muito esquisitas... eram umas serfentes muito grandes e às cores que vinham a desabar dos céus e o fovo das aldeias em volta correu todo para aqui a pedir à Senhora que os livrasse do tamanho mal que esfava para assentar, e a Senhora do Tojo acudiu-nos às preces!
-Antes do Ciclone? O que é que isso quer dizer?

-Fabe fenhor, for aqui os tempos dividem-se em anfes e despois do Ciclone... e aquilo aconteceu em Janeiro de 1938... e o Ciclone foi... 


-O Ciclone era um crocodilo?

-Arre faita cú fenhor é chato! O Ciclone não era um crocodilo, não fenhora! O Ciclone foi uma femfestade fedonha que levou fudo à frente! Foi no dia 15 de Fevereiro de 1941 que eu fem me lembro! Finha freze anos na alfura!

-Ah! Quer dizer que por estas paragens as eras se dividem em "a.C.Antes do Ciclone, e em "d.C.Depois do Ciclone?

-Fode ser! Mas há outra história inferessante! Uma vez as gentes eram fantas aqui à água que se desentenderam com a vez e armou-se uma briga que só farou sabe como?

-Não!... Não me diga que apareceu um crocodilo e deram todos às de vila diogo!

-Ai fenhor! Focê e o frocodilo!!! A água farou de correr e frontes! As fessoas viram um milagre naquilo e pararam a briga!!!! Frontes! Qual frocodilo, qual quê!!! Frontes!

-Obrigado por me ter contado essas lendas tão lindas, minha senhora. Decerto que saio daqui mais enriquecido. Bem-haja, mesmo!

-Adeus, fenhor.

Neste entretanto cá o rapaz resolveu espreitar por debaixo de umas silvas e de uns tojos ali crescidos...  podia ser que lá encontrasse o crocodilo ou resquícios do senhor sábio da construção que fora vereador camarário... mas népias! Nem vereador nem crocodilo! Nada!

-Enfão o fenhor fensa que a Senhora lhe vai afarecer aí debaixo do mato? É?

-Não... procurava outra coisa...

-O fenhor fem é muita fé!!!

Com a velhinha desaparecendo ao fundo da ladeira de terra batida que levava ao casario arruinado da Brunheta, este praça voltou a colocar o penico amarelo, cavalgar a Coty dando-lhe ao pedal de arranque que estranhamente fez o motor pegar à primeira tentativa e ala que se faz tarde...

-Milagre...

Pensou.
Quer dizer... em sentido contrário vinha a tal furgoneta branca com o casal de pescadores...

-Sinhôriii Compri calquer coisitããn! Uma camisolitããn qui á nôti faiz friúún? Vá lááá?!

Gritava o pescador pela janela, aos comandos da furgoneta enquanto ao lado, a Maria dava a mamada a um bebé!

-Não quero, não quero e... não quero!

-Aíiie cú hóme é um garganêêêruuun???!!

Berrou a Maria a plenos pulmões...
Uns castiços estes pescadores...
Chatos como a putassa... mas uns castiços...
Foi assim este praça rumou sem destino algum, mais para norte... com a motoreta no red-line... passando por umas quantas aldeias perdidas nos vales... Atalaia, Sentieiras, Carrapatoso...
Bairrada...
Sobreira Alta...
...e as Fontes...
Soberbo!
Que vistas espectaculares!
O norte do concelho de Abrantes é bastante rico em paisagens... Sempre com as águas da albufeira ao fundo...
Hummm
O crocodilo devia andar por ali... algures...
O sol descia no horizonte, proporcionando um fim de tarde fenomenal...
Em terrenos tão altos cá o Cidadão abt não se safava... se desvendasse o sáurio, seria junto às águas... e não ali...
Se bem o pensou, melhor o fez... desceu por uma ladeira abaixo com o motor desligado para poupar a gasosa que estava cara cum’ó catano, atravessando o povoado da Portela, seguindo-se a Cabeça Ruiva e...
-Porra!
Havia que meter travões a fundo porque ali se acabava a estrada!!!!
Atingira o fim da picada!
Do sáurio não haviam vestígios de maior...
A não ser... pois!
Era mais do que evidente!
Reparando nas margens, junto à água as rochas estavam completamente estraçalhadas!!!
Que horror!
Como animal deveria ser enorme!
O gerúndio afiava as garras naquelas escarpas ribeirinhas!
Um monstro!
O que o pessoal avistava nas águas era apenas a ponta do iceberg!

-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!

Ora bolas!
Agora só cá faltava o tijolo falante!
Tinha ficado esquecido no fundo da mochila cor-de-rosa desbotada com o usrinho Pooh!

-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!

Havia que tirar tudo de dentro... o chapéu, a toalha com a gaja boa estampada, a carteira, o protetor solar...e bem no fundo... o que era isto... Ah! O capa-grilos! 
Finalmente... o tijolo falante...

-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!

Já vai!... Já vaaai!!

-Tou?

-biririririiririii!

-Sim, querida...

-biririri...ritititi...biriri!!!

-Não querida... Ando à procura do crocodilo...

-rrrrititititititibiririrti ti?

-Desculpa, vá!

-titititi bibibri titi ti!

-Não querida... estou aqui junto às águas da barragem, perto das Fontes!

-ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?

Ah, desculpem também vocês que estão a ler isto!!
Era cá a Companheira a perguntar a que horas este praça chegaria a casa para o jantar e com outras observações que não interessam para o caso...

-ciccisisisiiri pirititi?

-Não querida. Eu cá me desenrasco... Como qualquer coisa numa tasca e pronto!

 -firitidi dititirirdi!

-Está bem, não te zangues, vá!

-tirirtibiciridi?

-Não! Durmo por cá! Logo me desenvencilho,..bem sabes como sou! Com três pauzinhos faço uma cabana!

-ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi!  rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi!  rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi !   rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi!  rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi !   rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti


-Não é ikebana!!! É uma cabana, carais!”””

-dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi!  rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi !   rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti


-Está bem, vá, não te irrites que isso faz-te mal ao coração...

-riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi !  rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi!  rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti?  firitidi dititirirdi

-Vá... não gastes mais no telefone!


-rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi?   ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti? 

-Vou desligar... vá!... que amanhã a gente depois conversa com mais calma...

-dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti?  ninini fifitititiri rititi riri ri  riri ti –

-Um beijinho... vá!

-rrrrititititititibiririrti ti?  tirirtibiciridi

-Prontos, já chega. Dorme uma noite descansada...

-tirirtibiciri ititiri rititi

-Vá... sossega que isto vai correr tudo bem...

-ini fifitititiri

-Pronto, está bem, desculpa lá!

-niffifi

Devem-se ter apercebido que cá a Companheira do Cidadão abt estava por demais furiosa...
Só para nós que ninguém nos ouve... quando ela se irrita, prega com cada seca que não vos digo, nem vos conto!!!!
Depois de desligado o tijolo falante e como a luz do dia ia escasseando, este raça deu-se a contemplar o ambiente. só agora reparara que à sua frente, formando um lombo a sair das águas, havia uma ilhota com um casario... Aquilo era lindo!
Só o Cidadão, a imensa massa de água, a paisagem, o marulhar, duas mesinhas de alvenaria... e a Coty vermelha Ferrari...
De súbito um gemido... um choro de criança... ou de mulher... ou um canto de sereia vindo do delta do rio, era trazido pelo vento...  
O Cidadão resolveu procurar a sua origem... avançando pela reentrância do braço de água... os gemidos sentia-se mais perto... talvez fosse o crocodilo estraçalhando uma criancinha com a enorme bocarra de oitenta e tantos dentes... subiu ao alto de umas rochas... e o que avistou?... Uma jovem tágide ousara subir as águas do Zêzere, entregando-se aos prazeres da carne... de blusa descaída denunciando os voluptuosos seios desnudados, cabelos pretos e longos pendentes sobre o rubro rosto adornado por lábios carnudos, aquela linda rapariga de saia arregaçada revelando os glúteos, sentava-se de cócoras sobre a cintura dum rapaz prostrado no chão duro... e em infindável frenesim, entregava-se a uma cavalgada épica como se mais mundo não houvera! Os gemidos libertados numa cadência constante soavam cada vez mais guturais, intensos, perdidos no espaço... e a ninfa transformara-se numa cruel vampira cravando os dentes no pescoço do companheiro! Ele exausto e ela, fogosa de todo, enganchada, sempre a dar-lhe, numa dança sem música nem fim. As ancas meneavam-se-lhe ritmadas como não fossem sua pertença. O casal abandonado aos prazeres da carne e aos desígnios de Afrodite, deusa do amor, deliciava-se com as forças mais animalescas e telúricas que a natureza humana poderia consentir... e decerto, acedendo às recomendações de Sua Excelência o Senhor Presidente da República... está claro!
O lindo par desconheceria que a profundeza das águas estava infestada de seres estranhos, de serpentes de água, de lagostins, de lúcios, de siluros, de cavacos e de jacarés enormes, caso contrário perderiam a pica toda...
Enquanto este cenário se desenrolava sob uma brisa suave, lá fora o Estado Português aguardava nove meses para atribuir uma dívida colossal ao produto de tanto amor e paixão arrebatadores... tinham que aproveitar bem os tempos enquanto a vida não lhes começasse a fintar as voltas... Naquele frenesim nem deram com a presença deste praça... Espreita ou empata f**** eram os únicos epítetos de que não quereria ser acusado...deixá-los ficar para ali abandonados e na paz do Senhor...
Já o Sol se ocultava por detrás do monte sobranceiro quando houve necessidade de trepar a pé até uma tasquinha que reparara existir naquele povoado da Cabeça Ruiva...de dentro vinha o som de uma telefonia e o aroma a sopa de nabo... é que cá o rapaz tinha resolvido permanecer ali até à madrugada seguinte porque seriam as horas mais indicadas para detectar a presença do réptil... pela fresca é que os bichos acorriam aos cursos de água para se alimentarem e outros darem caça às incautas presas...

-Boas tardes...

-Bõa nôti!

Ou isso...

-Há por aqui alguma coisa que se coma?

-Pode sêri uma sopinha?

-Sim, serve... o que vier à rede é peixe!

-E que mais há-de sêri?

-Sei lá... o que é que têm para aí a sair?

-Uns jaquinzinhos fritos...

-O que vem a ser isso?

-Ó senhor! São carapaus piqênos, embrulados em farinha e fritos no azête!

-Ena, ena! Vêm mesmo a calhar!

-Atão... o senhor já sabia o que era?

-Não... foi um amigo da internet, um tal Aqui-Ali-Acolá que mos recomendou!

-Outra gaita! Amigos na internete? Isso não é os computadores?

-São... porquê?

-Agente conhecemos as pessoas sem ser nos computadores! E p’ra bebere, o que vai sere?

-O que têm?

-Lambrusco!

-Lambrusco?! O que é isso?

-Bem se vê que o senhore não é de cá! Lambrusco é o vinho da casa, uma espésse de vinho verde feito da uva tinta lambrusca, que já se colhe pouca aqui na região e se entorna muito bêm com os jaquinzinhos! Onde se vê mais dessa vinha é ali para os lados de Martinchel e no Souto.

-Pode ser...

Constantemente vigiado pelo taberneiro, depois de em silêncio ter sido degustada uma bela refeição atestada com duas fatias de pão caseiro e rematada por uma bagaceira, chegara a hora de pagar a pequena conta e lançar a questão... fulcral...

-Senhor... por acaso não viu por aqui um crocodilo?

-Outro maluco!

Que resposta sêca!
Bolas!
Isto estava a correr mesmo mal...
Fizera-se noite lá fora e este praça tinha que arranjar sítio onde pernoitar... lembrou-se que no fim da picada vira um recanto com uns banquinhos e umas mesinhas redondas em cimento... aquilo era abrigado... como quem tem boca vai a Roma, foi lançada outra questão ao taberneiro... podia ser que pegasse...

-Senhor... por acaso tem um cobertor velho que me empreste para pernoitar ali em baixo junto à água?

O homem botou um olhar místico de piedade e admiração...

-Isso arranja-se... mas o senhor vai dormir lá em baixo?!

-Vou pois!

-Ouça cá, mas acredita que há por ali um crocodilo a sério? É?

-Quer dizer... ainda não o vi... mas trago cá uma fezada em como o hei-de encontrar!...

-Tá bem... tá...

Foi assim que cá o Cidadão se desenrascou... ali quase debaixo das mesas, deitado sobre a toalha com a gaja boa estampada, um velho cobertor por cima... e a mochila cor-de-rosa desbotada com o ursinho Pooh a servir-lhe de almofada... naquela noite escura não havia luar... o pio do mocho feria as encostas sobranceiras e o vento soprava forte...o marulhar das águas iam rebentando nas rochas arranhadas pelo sáurio... e ao longe, umas luzinhas cintilando  naquela Ilha do Lombo... do outro lado da margem... mais pontinhos luminosos e de vez em quando os faróis de um carro traçavam a escuridão do espaço longínquo... desafiando o firmamento... mais perto, um ou outro peixe chapinhava a superfície da água com o seu característico marulhar... estariam curiosos com a presença cá do rapaz...
O Cidadão olhou para o firmamento... tantas estrelinhas... a Via Látea... as sete estrelas da Ursa Maior... mais além... as trinta... estrelas da Cassiopéia... a Ursa Menor... e a Estrela Polar... a Andrómeda mais adiante... Perseus...
...parecia estar sorrindo... de quando em vez uma estrela cadente desviava a atenção até desaparecer no horizonte... ou caído no outro lado da serra...sabe-se lá... e assim este praça foi perdendo a noção do tempo e do espaço... entregando-se aos braços de Morfeu e ao “Rapid Eies Movement”...
Indeterminado tempo decorrido, sentiu que a água o encharcara... olhou na direcção da albufeira... mais uma ondulação a molhar-lhe o corpo... outra... agora, um chapinhar distante...
Era dia! 
Como as horas passaram rápidas!
Vindo do lado das Fontes, o Sol espreitava por detrás do casario!
Olhou melhor!
Impressionante!
Na direcção à Ilha do Lombo conseguia-se percecionar a ondulação progressiva... qual maremoto que se espraiava violentamente nas margens!
Avistara um vulto medonho progredindo das profundezas!
Do meio das águas erguera-se um enorme sáurio, um ser descomunal!
O bicharoco era um crocodilo dos enormes!
Um monstro colossal! O animal teria para aí uns três metros de envergadura!
Da enorme bocarra saíam dois serrotes de dentes ensanguentados!
Na vertical, erguendo-se das águas volteava-se no ar sistemáticamente e mergulhando de seguida, provocava um enorme chapão!
Outra linha de ondulação contínua esbatia-se violentamente nas margens! Mais uma vez o bicho mostrou o dorso, cortando a tona das águas a uma velocidade estonteante!
Mergulhou novamente...
Fez-se silêncio...
Um silêncio estranho...
Mais um salto para fora de água com um enorme peixe debatendo-se-lhe entre as mandíbulas!
Mergulhou novamente!
Ao longo da superfície avistavam-se cardumes em fuga, sulcando as águas agitadas!
Outro silêncio de morte!
Um odor a cadáver...
-Mas que horror!!!!
O jacaré, ou crocodilo ou o que quer que aquilo fosse, voltou a surgir à tona das águas revoltas...
Com a cabeça de uma cabra estraçalhada nos dentes!!!
Cá o Cidadão abt esperava que aquele colosso não se apercebesse da sua presença no local e na hora errados!!!
Conseguira ver-lhe os olhos alaranjados e flamejantes!!!
Bom... bom... Esta crónica vai longa p’ra caraças e com os dedos imprecisos, tremendo sobre o teclado! Isto pode dar cabo do coração!
Não estão reunidas as mínimas condições para prosseguir este relato!
Aguardem pelo próximo episódio pois cá o praça está necessitando uma cerveja bem gelada...
Até logo!
Ciau, ciau!
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