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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A PISCINA



A PISCINA


Com o intento de predizer o tema aqui aportado, às primeiras horas deste dia da Assunção de Nossa Senhora ao Céu e da bênção da bicharada de Janas, outra bendição se abateu sobre o cabeço e arredores sob a forma de uma carga de água de três em pipa, sendo exactamente sobre esse maravilhoso líquido imprescindível à vida planetária que por ora e aqui se verte quão profunda e singela orgia literária.
Recuando cerca de quinze anos, naquele tempo as cigarras cravadas nos ramos das frondosas árvores atenuavam o calor com estridentes trinados ludibriando a música difundida pelas colunas penduradas nas paredes, dissimulando-se dos melros, pardais e doutros graciosos passarões que beberricando cristalinas gotículas, por entre sebes saltitavam!
Pares de escorreitos corpos esvaíam infindáveis prazeres sobre os toalhões estendidos no gramado.
O olhar do atento nadador-salvador registava transbordantes chapões refrescando a calçada quente e os inusitados gritos dos banhistas soavam distantes...
O bar concessionado facturava sandwiches, snacks, rusks, chips, canada dry e coffe cream aos sedentos veraneantes espreguiçados nas cadeiras tresmalhadas pela sombria esplanada.
Mergulhados nos matutinos, uns inteiravam-se dos acontecimentos enquanto outros derretiam as ceras do tempo nas clássicas obras literárias.
Pelo tom da pele, o local seria frequentado por goesas ou gente que se dedicava ao bronze, de alma e... coração!!! !  !  !
Sem comungar das águas, alguns esvaziavam as tardes sob a brisa fresca dos frondosos castanheiros da índia.
Outros estendiam os toalhões sobre o relvado sonegado o entardecer após furtivo mergulho.
Ali se fizeram e desfizeram arranjinhos.
Ali se partiu ao romance e se alcançou o desengano!
As manhãs estivais de terça a sexta-feira eram dedicadas ao ensino da natação, onde no gozo das férias escolares os papás confiavam os seus petizes à Escola de Natação do Clube Náutico de Abrantes de onde saiam com diplomas de fazer inveja ao Relvas se levarmos em linha de conta que nesta área específica o nível 1 equivale à Licenciatura, o nível 2 corresponde ao Mestrado e o nível 3 acede ao Doutoramento.
Com o aumento da salinidade, no fundo da piscina pequena perfilaram-se dezenas de negros caranguejos esgrimindo suas tenazes sob os pés, rabiosques e barrigas dos incautos petizes que chapinhavam as águas rasas. 
Aquilo constituía um perigo medonho, não havendo cloro que desse cabo de tanto crustáceo, acabando essa bicharada por encravar o mecanismo da bomba de água!
Os afoitos aguardavam ansiosamente pela abertura da prancha que funcionava a horas específicas onde saltavam de cabeça invertida, submergindo e emergindo de repente nas cálidas águas, quais submersíveis que por extravio dos contratos de aquisição ao sucateiro alemão não deverão possuir certificado de matricula, seguro actualizado, inspecção periódica validada e imposto único de circulação em dia e por isso há que tomar bastante cuidado com as insinuações, na medida em que às segundas o oásis encerrava para limpeza e renovação das águas inquinadas pelos pés de atleta, conjuntivites e outras micoses da mais fina estirpe. 
Assim aconteceu durante muitos e longos anos até chegado o fatídico dia em que se avariou a bomba hidráulica que impelia a água da piscina ao filtro!
Entre induzidos e anilhas, só num verão a geringonça negou-se uma, duas e três vezes!
Frustradas, as crianças da escola de natação regressavam a casa e os veraneantes do after lunch batiam com o nariz no harmónio da portaria...
A traquitana era sucessivamente reparada...
Porque a bomba se recusava a debitar quilolitros de H2O, volta e meia a piscina encerrava por uns dias...
Os concertos faziam-se morosos e a câmara municipal não tinha cheta para adquirir uma maquineta nova!
No ano seguinte o motor voltou a pedir reforma....
A velhinha bomba da piscina não estava para proezas...
Vai daí, quando o dispositivo se negava a meio da aula de natação, os monitores do Clube Náutico punham os petizes fazendo na tacinha, ou seja, metiam o pessoal de barriga para baixo, esbracejando a seco, como se atravessassem o Canal da Mancha!
Terminara mais uma época balnear com a bomba de água pedindo retentores...
Talvez porque os leites solares que untavam os veraneantes não fossem de igual estirpe, os ralos tivessem os crivos frouxos ou o buraco do ozono se tornasse devasso, o certo é que o motheurfucker calcinou de vez na época balnear seguinte!
Não girava, nem p'ra diante, nem p'ra ré! 

-Irra pr'á tranca d'àvó!

Trancou!
Dera-lhe o pifo para não escrever “o peido mestre” ou “o canto do cisne,” se usando de expressão mais snob.
Coincidência ou não, descontando o facto das portas terem sido escancaradas ao público no mediático Dia da Cidade, foi a 13 de Setembro desse mesmíssimo ano da graça de 2003 que se procedeu à cerimónia de inauguração do Complexo Municipal de Piscinas, no Vale de Roubam, construído de raiz junto a outra complexidade desportiva onde foi erigido o primeiro campo de basebol oficial de Portugal cuja placa de lançamento é um charco de água choca, hostil à propagação de alfaiates e escaravelhos fluviais.
Supõe-se que nesse dia o Secretário de Estado da Administração Local, Miguel Relvas, terá conseguido o doutoramento em Desportos Aquáticos Por Via da Experiência, na especialidade de Cem Metros Bruços por motivos de alguns anos antes ter observado atentamente os movimentos rítmicos da rã que no mouchão do Nabão tentara escapar dum pato bravo com mórbida fixação pelo exoterismo e conseguido o mestrado em Mariposa por no Colégio Nun’Álvares ter sido surpreendido por uma traça alada que esvoaçando do guarda-fatos, lhe dera luta durante longas horas, sem antes apanhar um dos maiores sustos da sua vida de estudante na firme suposição que a mariposa saída do escuro fosse o fantasma do Dr. Raúl Lopes afagando seu picha-de-porco para uma séria conversa com a rapaziada embravecida cuja soltura dependia do rendimento escolar e que a bruxa malvada a qualquer instante se metamorfosearia no Reitor!
Saído desta experiência sobrenatural e mais recentemente envolvido em viagens fantasma, isto justificava o doutoramento em Ciências Ocultas!
Bem antes da aquisição do BMW, do Àquapólis, do Açude Insuflado por tecnologias tanakas, da prenda de natal para o Barão Vermelho, do projecto cúbico do Museu, da Tenda dos Milagres e do Cais de Acostagem de Rio de Moinhos, já naquelas temporadas a câmara tubuca não tinha tusto para substituir a bomba de água na piscina municipal do Jardim do Alto de Santo António, um dos cartões de visita da cidade de Abrantes, decerto com encargos menos dispendiosos que a manutenção dos tachos da guardiã de sítulas romanas...
...nem chêta para mandar calafetar as fendas que iam avançando nas paredes, por mor das fortes cabeçadas que os banhistas nela ousaram espetar, e assim os amantes do Sol, da sombra das árvores, dos cigarros, das cigarras e do meio ambiente, passaram a rumar às piscinas do Abrantur, do Sardoal, do Aquavital e da gaiola anti-crocodilo do Parque Náutico de Recreio e Lazer da Aldeia do Mato...
Como a coisa resultou fixe e na campanha eleitoral seguinte a plebe se satisfez com os isqueiros de cozinha, os aventais, os bonés, os sacos e as pachachas-porta-cêntimos, tudinho com o punho do poder p’ra não esquecer e, tempitos depois também chegou a vez de se avariarem os motorzecos que purificavam a água das bastas fontes do condado tubuco, levando a que o feudo optasse pelo seu encerramento, na medida em que nos hipermercados da região há bastante água armazenada em parcelas de cinco litros...
Nesse tempo seria dispensável a autarquia ter gasto mais uma parga de €uros promovendo a colocação de muppies junto às rotundas, anunciantes que de facto “Abrantes é uma terra bestial para viver, trabalhar e investir “ porque desses excelentes predicados já os seus munícipes eram sabedores.
No dia em que é lavrada esta cronica a piscina original encontra-se votada ao abandono, à mercê das ervas daninhas que brotam da calçada à portuguesa e na portaria prestada ao cavalo houve quem confundisse o muro vermelho com uma Igreja Anglicana e por tal lhe quisesse chegar o fogo!
Ali não há uma pedra como esta!
No complexo desportivo temos cada macaco em seu galho porque quem pretender  encharcar o físico à pala dos impostos terá que entrar num alguidar inóspito de pouca fundura onde não mergulhará de cabeça nem nas margens achará pingo de sombra de planta onde se acoitar.
Quem pretenda tomar um drink terá que abandonar o ovo estrelado deslocando-se à cafetaria sita no piso superior e quem deseje desfrutar de sossego em comunhão com o meio ambiente necessitará saltar a vedação espojando-se sob os pinheiros do exterior porquanto as folhas das árvores são uma carga de trabalhos para se retirarem da piscina de lazer e das zonas circundantes, exigindo um robôt nocturno para aspiração da camada vegetal e um funcionário à cata de folhas soltas ao vento.
O ovo estrelado.
 As duas piscinas estufadas de interior cujo tecto abre e fecha consoante os vapores, são destinadas à prática da natação desportiva, da hidroterapia e da hidroginástica não servindo para qualquer veraneante mergulhar o frontispício.
Ali os nadadores não sofrem choques térmicos imprescindíveis à tonificação muscular, à diminuição do ácido úrico, à revitalização do corpo e da mente e não desenvolvem o sistema imunitário contra amigdalites, resfriados, gripes e conjuntivites, contribuindo de sobremaneira para a despigmentação cutânea e maior vulnerabilidade à radiação ultravioleta.
Tudo bastante prático e funcional!
Em contrapartida, no Alto do Santo António a infra-estrutura da piscina municipal foi votada ao abandono, não se entendendo se o espaço onde os papás presos à vedação materializam memórias retalhadas, será reabilitado como Museu Aquático de Abrantes para que a terceira idade possa nele humedecer seus artelhos em marés de sargaços.