PLANO DE LEITURA
“A biblioteca pública é o centro
local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o
conhecimento e a informação de todos os géneros.
Os serviços da biblioteca pública
devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção
de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social.
Serviços e materiais específicos
devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por qualquer razão, não
possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo minorias
linguísticas, pessoas com deficiências, hospitalizadas ou reclusas.
Todos os grupos etários devem encontrar documentos adequados às suas
necessidades.
As colecções e serviços devem incluir todos os tipos de suporte e
tecnologias modernas apropriados assim como materiais tradicionais.
É essencial que sejam de elevada qualidade e adequadas às necessidades e
condições locais.
As colecções devem reflectir as tendências actuais e a evolução da
sociedade, bem como a memória do esforço e da imaginação da humanidade.
As colecções e os serviços devem ser isentos de qualquer forma de
censura ideológica, política ou religiosa e de pressões comerciais.”
Excertos do Manifesto da
Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas,
aprovado pela UNESCO em Novembro de 1994.
Vencido o tédio das férias, um
destes dias cá o Cidadão
abt tirou-se de cerimónias e foi até ao Fundo Local da Biblioteca Municipal
António Botto, estranhando porém o facto de sendo uma das salas de leitura mais frequentadas do Convento de São Domingos, no momento estar às moscas...
Consultados os canhanhos sobre a histórica Abrantes e sobrando algum tempo, cá o cidadão abrantino resolveu passar uma vista d’olhos
pela imprensa diária, constatando então o facto dos escaparates se apresentarem libertos de papel, ostentando escassas amostras de periódicos
retardados...
Uma volta frustrada pela sala e nada, népias, nicles de
jornais ou revistas recentes...
Decerto que migraram para outro compartimento!
Só pilhas de Záhára's
e pouco mais!
Ainda se fossem por lá de carne e osso...
Sentar para descansar...
No imenso silêncio instalado, este praça apercebeu-se que o espaço está pejado de olhapins, seres muito pequenininhos com quatro olhos que vendo em todas as direcções, fazem ranger o soalho e nos puxam pelos dedos dos pés quando menos esperamos!!!
-Por ventura o ciberleitor já viu algum?
-???
-Pois... não é para admirar... são bastante esquivos!
Teve então o bibliotecário de serviço oportunidade de
explicar que desde o início de Julho o município tubuco deixou de adquirir
jornais e revistas pr’a freguês ler, concluindo-se que o Fundo Local está sem periódicos ou que não haverão fundos que cubram
o local.
Hum...
Casa com esta certificação Herity e sem diário que se leia...
...Ou terá espeto de pau?!
Para
melhor ver a Herity clique 2 vezes
sobre a imagem...
De imediato veio à ideia do Cidadão abt como é que a assessora de imprensa comunicaria as gordas à senhora edil?!
Como é que a senhora presidente se actualizaria sobre
quem, o quê, quando, como, onde e porquê lhe zurzem as orelhas?!
O que irá fazer a menina jornalista durante esse
precioso tempo que lhe era reservado ao recorte dos bonequinhos impressos no
couché, a soletrar as parangonas escarrapatchadas nas manchetes dos diários,
semanários, quinzenários, a ler as previsões ditadas pelas cartas da Maia e
a informar as hostes edílicas sobre o último grito das tendências tanakas com
bué da otakus animês?!
São uma panóplia de questões pertinentes que se esvaem no
espaço sideral e em breve terão de levar uma volta de trezentos e
sessenta graus sob pena das dezenas de leitores irem assentar as
digníssimas nalgas noutras paragens mais hospitaleiras...
Quem é que habitualmente se concentra horas a fio numa
sala em demanda de novas regionais e nacionais?
As cabecinhas pensadoras, certamente, que somando A+B+C, formulam equações, ilações e conclusões
nem sempre consonantes às decisões que o poder autárquico vem tingindo a plebe tubuca, tresmalhando-se do rebanho
que alinha piamente em fados, futebóis e fátimas!
Portanto meus senhores e minhas senhoras, meus meninos e
minhas meninas, a essas cabecinhas pensadoras não interessa passar overdoses de
informação actualizada, senão a parametrizada pelo poder local e para um bom plano de leitura orientada bondam-nos as
brochuras do Passos do Concelho e a Antena Livre a atulhar as ondas
hertzianas com dicas institucionalizadas na medida em que os outros jornalistas da praça abrantina não recebem idêntica verba municipal
tingida de betão nem pertencem à Santa
Casa da Misericórdia que para nos dar uma linguiça, primeiro tem de receber
o porco inteiro!
O mais indicado é ocuparmos as células cinzentas do tálamo com poemas
e prosas pré-formatadas!
Anda por aí uma Galena
a tentar implantar-se no éter cujas ondas emitidas na frequência modulada pelo
rosa-choque não se propagam com o efeito desejado, tornando-se mais fácil o
pessoal ser doutrinado nas palhinhas que lhes dão, adquiridas com os
euritos dos seus mesmíssimos impostos!
O plano concelhio de leitura mingua a olhos vistos!
A política de contenção económica será
justificação aventável para que o edil se recate nos trocados, começando por extinguir os pólos bibliotecários espalhados pelas freguesias e depois com os periódicos
na sede, encetando uma fuga para a frente ao investir ou esbanjar milhares de euros em
retrospectivas ibéricas de arqueologia e arte para o pagode poder apreciar e
sentir as algibeiras lascadas, polidas, delapidadas e as continhas a-gravadas!
Com este bastão importado da Idade do Bronze, é natural que até as pedras da calçada falem, chorem e gemam
sem dó nem piedade!
Quanto aos funcionários da casa das letras, neste enredo causam menos incómodo
ao sistema os inexperientes contratados a termo certo do que os simpáticos funcionários
com anos de serviço efectivo e pestana aberta!
Consta porém que as reclamações e os manifestos de
insatisfação dos leitores têm brotado em catadupa e que vem sendo repensado se
a estratégia do Plano Nacional de Leitura
contemplará a leitura imediata inserida em informações com um dia de atraso, ou
se cingirá à obra literária gravada nas paredes, muros e muretes feudais!
Aguardemos
assim!
Quando o dossel é grande e o cobertor curto, há
que encolher na retrospectiva Ibérica
para esticar no plano de leitura.