.

.

Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

sábado, 22 de dezembro de 2012

O ADVENTO



O ADVENTO


 Os Maias enganaram-se redondamente! Afinal ainda cá estamos!
Esperando ansiosamente pela passagem do 21 de Dezembro sem que as profecias se tivessem concretizado, como por exemplo uma eventual chuva de radiações electromagnéticas, um desaforado pico solar, o Armagedon ou um hipotético Apocalipse que também poderia comprometer a propagação do blogue na Web e para mal dos nossos pecados, nem o tal asteróide chocou com este planeta, largando paletes de nibirurianas de Tétis, ao género do que sucedeu ao Luís Vaz de Camões quando desembarcou na Ilha dos Amores...  
Haja Deus!
Vamos ter que aguardar mais cinco biliões de anos!
Caso se cumprisse tal profecia, jamais valeria a pena queimar neurónios em busca de matéria para elaboração deste post bastante feminino, na medida em que o fim do mundo anularia toda a gestação do trabalho.
O apogeu deu-se às 11horas e 11minutos, estando cá o Cidadão ciente que este post sairá torto porque mais valendo um desengano na vida do que andar toda a vida enganado, além da stressante contagem decrescente, também este rapazola ficou meio desconchavado com a novidade de Joseph Ratozinger que veio a terreiro negar a existência de bicheza em Belém, pervertendo de sobremaneira o imaginário que cada um de nós possui acerca do Menino Jesus nas palhinhas deitado, por vezes assumindo ergonomia algo Azteca!
Poder-se-iam questionar os sábios, os teólogos, os antropólogos e outros estudiosos da matéria se por ventura o Menino Jesus não seria um extraterrestre enviado de Nibiru e a sua cabana, uma nave espacial lowcost que não suportasse o peso do asinino e do bovino?...
Para as crentes almas que em todos os natais armaram o presépio e para quantas os coleccionam às centenas, isto foi de deitar a crença abaixo, e botar o burro e a vaca para o contentor do lixo!
Afirmou o Sumo Pontífice que naquele dia, Jesus da Galileia não foi bafejado!
O agregado familiar passou poucas horas no estábulo, mudando-se rápidamente para uma gruta algures noutro ponto da Judeia, tendo Maria sido assistida em parto ambulatório, surgindo bastantes dúvidas sobre a freguesia da naturalidade, tanto podendo Maria ter dado à luz em Belém, em Nazareth ou até na Maternidade Alfredo da Costa.
Atendendo a Ratozinger, poderemos concluir que o estábulo seria inóspito e logo que o arcanjo Gabriel anunciou a boa nova, José e Maria teriam dado às de vila diogo, ausentando-se para parte incerta antes que de adaga nas unhas, os recenseadores do Rei Herodes a quem os romanos delegaram a província da Judeia, se chegassem à manjedoura e em tom jocoso intimidassem o Messias com um...
Avisaram o padastro da criança para que se acautelasse com as intenções duns reis que cavalgando dromedários e guiados pela supernova, levavam presentes aliciantes para o menino, especialmente o astrólogo olheirento e de tez amarelada que oferendaria incenso bué da potente, altamente valioso e de ganzar por mais, daí surgindo o Valium!
Este rei mago confundia retracção económica com evasão fiscal, ou seja, ele queixava-se que lhe fugiam aos impostos enquanto na realidade o povo vendo-se sem chêta, reduzia nos consumos!
Sei lá se é etíope ou não, o rei negro oferendaria mirra suficiente para mumificar, embalsamar, encolher e branquear os capitais e os dentes ao menino...
O terceiro rei carregado de ouro, mais tarde viria cobrar a oferenda com juros altíssimos.                                                   
A deslumbrante supernova referida anteriormente, guiava a malta não com intenção de anunciar mas denunciar o paradeiro do agregado familiar mais procurado do planeta e igualzinha a todas as estrelinhas do firmamento, também esta seduzia, atraía e dava a volta à cabeça de qualquer pastor!
Sendo tempos bastante perigosos, de borregada às costas os pastores acabaram por dar com a supernova inacessívelmente altiva, contemplativa e um estábulo às moscas!
Aleluiah!
Nos dois anos que se seguiram as taxas de natalidade masculina baixou relativamente aos óbitos na medida em que o obcecado Herodes via o messias em todos os cachopos nascidos nesse ano D.C. ficando-lhe com os escalpos, razão para que o agregado de Jesus fosse nómada, com algum sedentarismo em Nazareth. Outro factor que incentivou ao ambulatório, foi o pai adoptivo recear que através do Google Hearth os romanos lhe reavaliassem o estábulo, atribuindo um valor descomunal pelo metro quadrado e confundissem o lago dos cisnes com uma piscina, aplicando-lhes a taxa máxima do IMI, correndo o risco do agregado vir a ser investigado pelos sinais exteriores de riqueza que ostentava, especialmente na concepção da manjedoura devido aos materiais nela aplicados, e como um azar nunca vem só, foram avisados por uma velha da casa pia para que acautelassem o miúdo porque na região rondavam cinco sacerdotes suspeitos da prática de pedofilia, convindo meterem o Messias a salvo! A velha era fina!
Não havendo mais prendas e porque sobrava bastante mês ao fim do ordenado, o agregado fugiu para a Galileia, estabelecendo-se em Nazareth e como o ambiente era de cortar à faca, mais adiante, para fazerem frente às despesas e poder liquidar os impostos que sustentavam os romanos, partiram para o Egipto onde o messias deitou mão ao ofício do pai que era carpinteiro!
Regressado a Jerusalém, um dia Jesus danou-se, escaqueirando a negociata consumista que se desenrolava nas arcadas do templo onde se negociavam velinhas, terra sagrada, púcaros de barro e demais souvenir's, causando enormes prejuízos aos vendedores e fartos ucros na indústria da olaria, deixando os sacerdotes com essa atravessada nos paramentos.
Repare o ciberleitor no seguinte fresco:
Só cá para nós que ninguém nos ouve, há quem diga que Jesus manteve um caso com Maria Madalena sendo quem na Última Ceia estaria sentada à direita d’Ele, fazendo concorrência ao Judas que a troco de trinta dinheiros e a título difamatório, andava deserto por beijar a face do messias em público, para tal abancando imediatamente à sua esquerda!
Aquilo acabou mal aos trinta e três anos, frente a Pilatos, um general romano com o TOC (transtorno obsessivo e compulsivo) da higiene... O oficial tinha ouvido falar da gripá!
Num fim de tarde de intempérie, Jesus foi crucificado entre dois criminosos de delito comum, onde na parte superior da cruz os seus carrascos pregaram uma tabuleta com as iniciais que constam nas matrículas das viaturas da GNR, porque os romanos tinham uma fixação mórbida por géninhos e o Judas, com remorsos, acabou por se enforcar numa oliveira!
O que mais chateia é durante as últimas cinco décadas este Cidadão ter armado éne presépios com enorme quantidade de figurinhas de barro onde afinal só por lá constaria a manjedoura desnudada.
Espertos foram os que optaram pela Árvore de Natal e... prontes! Ao desarmar o estaminé ainda se lhe comem as figurinhas que podem constar de bolinhas, anjinhos, prendinhas, ovelhinhas, sininhos, pais natais enforcados, estrelinhas, pombinhas, reis magos, botinhas vermelhas e até coelhinhos de chocolate!
Ná!... Varinhas mágicas, tostadeiras, ferros de engomar, despertadores, telemóveis, rádios, aquecedores, teclados, lâmpadas, secadores, circuitos integrados, cêdês, batedeiras, escotilhas e exaustores são espelhos que reflectem a ressaca desta sociedade de consumo... 
A coisa está a ficar preta... 
-Mãe, nem parece Natal... No ano passado isto estava cheio de gente a embrulhar as prendas...

Reparava uma rapariguinha de cabelos louros chovendo sobre as costas e mais alta que os progenitores, enquanto a operadora da caixa registava os códigos de barras, ensacando as peças de roupa recém escolhidas...
O pai afastava-se discretamente como que apreciando os artigos expostos e a mãe rebuscava o dinheiro no fundo da carteira...
Fez-se silêncio e um compasso de espera...
A linda rapariguinha de finos lábios e delicada tez, vestindo casacão condizente aos leves cabelos, espigando corpo de mulher, voltou à carga transbordante de sensualidade...
-Que estranho... Hoje as pessoas parecem tristes...

O pai da menina olhou para este Cidadão que observando aquele quadro digno de registo, pacientemente aguardava a vez de ser atendido pela operadora de caixa...
Um olhar evasivo e inquiridor...
Talvez pensando que este rapaz lhe estivesse a conquistar os olhos negros da linda filha...
Mas não... Apenas lhe admirava tal beleza, notando que aquela família vestia no mesmo tom...
Então, caro ciberleitor? Ganhe lá calma! O Cidadão bem sabe que as mulheres são a mais bela obra d'arte concebida à face da terra, mas o amigo não necessita prostrar-se dessa forma!!!
A mãe ia rebuscando os fundos à carteira até o enfadado pai se chegar junto das suas mais-que-tudo, sacando terna e silenciosamente o pequeno cartão de plástico verdejante e introduzindo a combinação numérica no terminal de multibanco que acederia à conta bancaria...
Outro cruzamento de olhares comprometedores com este Cidadão que aguardava a vez de ser atendido...
Havia que disfarçar este ar observador...
Saíram silenciosos, com a menina de olhar flamejante.
Chegara a vez do Cidadão ser atendido...
A operadora da caixa dobrava as peças de roupa enquanto quebrando o gelo, que se fazia sentir, este cliente as ia questionando...

-Será que os cortes mudaram muito desde a última vez? É que não me está a apetecer perder tempo a experimentar estas peças na cabine de prova.

-Este senhor é 54 de peito e 50 de cintura...

Interveio a segunda atenciosa funcionária.

-Talvez não... de cintura veste o 48... Mas leva aqui o 50... Se não lhe servir, tem quinze dias para trocar... Guarde o talão...

Enquanto a primeira scannerizava códigos de barras, a segunda insistia:

-Olha que o senhor de certeza que tem 50 de cintura e de ombros é um 56!

-De blazer por vezes visto o 54 e outras, o 56 Depende do corte!

Indecisos, os profundos olhos femininos exploravam todo o corpo deste freguês...

-Ou XL?

As unhas decoradas a verniz lilás salpicado em prata percorriam incessantemente os vincos das vestimentas...

- Por ventura estão-me a tirar as medidas?

As duas jovens senhoras coraram, seus rostos descomprimiram e as suas mãozitas pararam de restolhar os sacos de papel pardo...
Não será tanto assim mas para lá caminha... Um pouco mais de barriga... talvez...
Apertando o reflexivamente um dos volumes contra o seu ventre e esboçando contidos sorrisos, a operadora da caixa arriscou:

-O senhor é bastante convencido!

-Desculpem ter-vos proporcionado estes momentos de evasão... Foi pura brincadeira. Desejo-vos um bom Natal e para os vossos entes mais queridos.

-Este ano o negócio vai muito fraco, senhor... Não se vende nada...

-A continuar assim... Ainda podemos ir parar ao desemprego!

Aqueles rostos abriram-se de par em par, soltando tímidas gargalhadas. As funcionárias tinham acabado de ser apanhadas no dobrar da esquina...
Paga a despesa, para trás ficaram duas senhoras com espirito mais alegre, trocando impressões, desconhecendo-se sobre que assunto.
Lá fora, qual colibri sorvendo a seiva da flor, o pai da menina monologava com o monitor da caixa multibanco...
O certo é que ao entrarmos nas grandes superfícies encontramos promoções a torto e a direito e os poucos clientes dão primazia aos cestos de compras em detrimento dos carrinhos...
Começam a ser recuperadas as pilecas arrecadadas e o parque automóvel vai envelhecendo.
As pessoas vão reciclando, vão aproveitando, vão racionalizando, vão-se tratando de forma mais humanista...
Os gadjet’s vão deixando de ser considerados bens de primeira necessidade, as marcas passando para segundo plano da afirmação social, os comportamentos tribais da juventude vão-se diluindo, cada vez mais introspectivas, as pessoas vão perdendo arrogância, valorizando a interdependência...
Neste Natal muitas famílias dispensarão o ritual de troca de prendas enquanto tantas outras nem disporão de verba para enfrentar as despesas com velhoses, couves, bacalhau e peru...
As máquinas fiscais do Estado resgatam cada vez mais do que lhes é devido, perseguem, trucidam, devoram...  e o Presidente da Republica deixou expirar o prazo de pedido de fiscalização preventiva do Orçamento de Estado para 2013...  
Tratasse de um pequeno estabelecimento comercial sobrecarregado de impostos e as fiscalizações seriam implacavelmente incisivas...
O certo é que actualmente os cidadãos estão a pagar com língua de palmo, os empréstimos, os investimentos e os desvarios de outrem.
Neste final de ano somente 4% dos portugueses tiraram férias, qualquer coisa como aproximadamente duzentas e vinte e três mil almas sufragadas entre ministros, presidentes, administradores, motoristas de assessores, especialistas, reformados parlamentares, gestores de parcerias público-privadas e por ai adiante!
Se não for Boy do sistema então deixe-se de ilusões, caro ciberleitor... que se isto em breve trecho não mudar, as boas novas não nos voltarão a sorrir tão cedo.
Desejos que no ano de 2013 a crise lhe seja leve.