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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

sábado, 20 de agosto de 2011

O CROCODILO VI



O CROCODILO VI
Sexto episódio


Metidas as rodinhas a caminho e subjugado ao calor intenso que lhe trespassava as malhas da negra t-shirt com o verde Hulk estampado no peito e o punha a suar das estopinhas, lá seguiu este Cidadão abt ao encalço de Dornes... e do crocodilo!
Com tantas cenas frustradas o desânimo começara a instalar-se no psico... Dando gás à Coty, foi percorrida meia dúzia de quilómetros pela estrada fora até encontrar uma placa a indicar Dornes para o lado esquerdo...
Hum... de acordo com o sentido de orientação deste praça, as águas da albufeira ficavam-lhe à direita...
Assim, como seria possível que Dornes estivesse à esquerda?! Coisa esquisita...
Daí em diante desceu por umas quantas curvas serpenteantes sob denso arvoredo...
Dornes... indicava o sinal de trânsito... houvera chegado à pista sugerida pela senhora do buço, na taberna da Cabeça Ruiva...
Avistado o casario...
Dornes?!
Qual Dornes qual quê?
Aquela povoação era Águas Altas!
Cá o Cidadão abt chegara a Águas Altas que bem se fartou de a ver no cinema e depois nas televisões!
Para que não restassem dúvidas, estava bem escarrapachado no filme Dot.com do realizador Luís Galvão Teles, rodado em 2007!
Qual “Dornes” qual carapuça!
Os autarcas bem que tentavam enganar o pagode mas tanto também não, carais!
Vá-se lá compreender estes políticos!
Água Altas até condizia com Águas Belas e tudo!!!
-Dãããã???
Cá tínhamos a explicação para o problema entre os cunhados de Águas Belas!
No Dot.com, a povoação de Águas Altas foi sede de um centro nevrálgico retaliador de uma ciberinvestida castelhana com o intuito de plagiar este nome para uma marca de águas engarrafadas! Logo, os cunhados não se davam porque o espanhol seria adepto das águas e o português torceria pelo tintol!
Continuando a descer a ravina e deixando o casario pelas três horas, foi alcançada a margem da albufeira em poucos minutos. 
Era tempo de desligar o motor da Coty, descer a mochila cor-de-rosa desbotado com o ursinho Pooh, tirar o capacete amarelo e sentar nas rochas à sombra de uma árvore... depois de tantas frustrações, depois de tantos fiascos e depois de tanto sofrimento passado, era tempo de meditar se valeria a pena prosseguir em busca do crocodilo perdido...
 Pequenitas ondas tocadas pela fresca brisa iam rebentando nas rochas, molhando os pés cá do Cidadão abt... as chagas provocadas pelos espinhos das silvas marcavam presença, remoendo em dores constantes e numa comichão que não se podia... vendo bem, as havaianas denunciavam as unhas dos pés que se atreveram a crescer desalmadamente... adiante no lago, uma sombra escura sulcava a meia profundidade... 
Bah! Queria lá saber! Que se lixasse...
A sombra escura evoluía por debaixo da superfície aquática ora mais para a esquerda, ora mãos para a direita...
Bah! Queria lá saber... que se...
Bolhinhas de ar desfaziam-se à tona de água como se debaixo, algo as impulsionasse...
Bah! Queria lá...
Aquilo devia ser uma visão... os efeitos do calor intenso faziam-se sentir no processo sensorial e cognitivo...
Bah! Queria...
Eram efeitos de uma insolação... ou talvez não...
Bah...
Aquela mancha escura cada vez mais se aproximava cá do rapaz... curioso. Se... Maomé não vai á montanha... a montanha vem até Maomé...
Nem de propósito...
As bolhinhas de ar estouravam cada vez mais perto... com a mancha negra sempre por debaixo...
Com cuidado houve que alcançar uma pernada seca, tombada no solo rochoso... partiu-a... esgalhou-a... e ali tinha o instrumento ideal para assentar umas pauladas valentes no quer que aquilo fosse... crocodilo, jacaré, sáurio, caimão, lúcio, truta gigante ou raio que os partissem... o certo é que aquela coisa submersa pairava junto à margem onde agora de pé este descrente... com as duas mãos segurava firmemente o madeiro em riste!
Aí vem... aí vem...
Espanto!
-Um homem-rã!!!
Dããsse! Contava com tudo, menos com um homem-rã!!!
O dito cujo emergiu ali juntinho, respingando as redondezas... só passado um bom minuto é que, retirando os óculos de mergulho o fulano se apercebeu da presença cá do Cidadão abt que largara a arma letal e se voltara a sentar na rocha, seguindo atentamente as manobras que o mergulhador executava com o intuito de se desenvencilhar da garrafa de oxigénio...

-O que é que você está ai a fazer?!

Indagou o homem de negro... enquanto fora de água, ia descalçando as barbatanas...

-Olhe, caro amigo... em abono da verdade, ando à procura de um crocodilo perdido...

-Foi você que o perdeu?!

-Não senhor... Simplesmente ouvi nas notícias e...

-Deixe-se de tontices!

-Deixo-me de tontices, porquê?!

-Porque nestas águas não há nenhum crocodilo! O que as pessoas avistam é um peixe-gato! Um siluro! Percebeu?

-Mas... o que é isso de um peixe-gato?

-Ó amigo! É um peixe enorme que chega a pesar cerca de 300 quilos e a atingir os três metros de comprimento!

-Uuuh! Que exageeeero!!!

-Que exagero,?! Você está a irritar-me! Que exagero, uma ova! O silurídeo chega a viver oitenta anos!

-Mas se o peixe é assim tão velho e grande... também periga os humanos...

-Qual periga, qual quê! O peixe-gato é inofensivo para as pessoas e só devora outros peixes!

-Então quer dizer que o senhor ali debaixo das águas nunca viu  um crocodilo... é isso?

-Ah pois é! Essas notícias alarmistas só servem para prejudicar o turismo aqui da região!

-Não será bem assim... Por exemplo, cá o Cidadão foi atraído a estas paragens precisamente por causa do crocodilo!

-Deixe-se de conversas, homem! Julga que agora as pessoas normais se dedicavam à caça do crocodilo? Só os tontos!

Hum... O que uma pessoa tinha de ouvir... era coisa para mandar o ego de um homem abaixo...

-Olhe! Sabe o que lhe digo? Ainda bem que correm essas notícias para que o pessoal de Lisboa não venha para aqui lavar o cú e poluir isto tudo! Mas, também é bem feito! Vêm para aqui mijar nas águas da barragem e depois vão bebê-las a Lisboa!!! E sabe que mais? Ainda bem que se noticia a presença de um crocodilo porque isso vem preservar a biodiversidade desta região! São os barcos barulhentos com motores fora de bordo que afectam a piscifauna, são as pessoas aos gritos que assustam a passarada, os répteis e os mamíferos, são as clareiras deixadas pelas fogueiras de churrascos, são as plantas autóctones arrancadas e substituídas por espécies exóticas, são os detritos sazonais largados pela ocupação humana, é o impacte ambiental provocado pela circulação de veículos motorizados, e sabe que mais? Você sente-se é lesado no seu negócio por causa das notícias do avistamento do crocodilo!!!

-Ó homem! Você passou-se, ou quê!!!

-É assim, e mái nada!

Durante este desabafo cá o rapaz voltou a içar a mochila com o ursinho Pooh, colocar o capacete amarelo, dar um impulso no pedal de arranque da Coty e desandar ali para fora á procura de alimento enquanto a torre sineira de Águas Altas batia as catorze badaladas!
Subida aquela rampa até ao centro da aldeia, foi tempo de procurar um sitio onde se manducasse... chegara ele... a um estacionamento apinhado de altas máquinas... eram BMW’s... Mercedes, Audis... Cayennes... o que valia era este praça fazer-se deslocar num meio de transporte que cabia em qualquer cantito... ao caso, fora estacionar a Famel vermelho Ferrari de duas velocidades entre dois topos de gama de muitas velocidades altas e baixas, auto-bloqueio de diferenciais, turbo-intercooler’s, ares condicionados, vidros fumados... E estes fulanos queixam-se que o país atravessa a crise mais profunda desde a primeira grande guerra!
Retaliando os intentos do porteiro que era um canídeo com ar intrigado e algo contemplativo... talvez por causa do Hulk verde estampado na camisola negra, este praça transpôs o portal da Casa da Inveja... dirigindo-se para uma esplanada com mesinhas de quatro lugares a abarrotarem de gente.
De início teve algum pejo de se apresentar em calções de fazenda e camisola preta estampada com o Hulk verde e todo arranhado das silvas mas... ao ver tanto homem pelado e de burkalções, que são uns calções de banho com florinhas até abaixo do joelho e que se enrolam às pernas e aos testículos quando um gajo sai da água... e elas, de peitinhos todinhos ao léu...
...este rapaz perdeu a vergonha e avançou...

-???
Vá lá... tomem com um exemplar mais inteiriço.
...poucos metros porque as mesas de facto estavam todas ocupadas... seria necessário aguardar que alguma vagasse, o que não demorou muito tempo.
Abancado à mesa, mandou vir meia dose de caldeirada de peixe... aquilo demorava em saltar para o prato talvez devido à afluência de comensais... Nisto entrou um casal ficando especado à porta, esperando que se disponibilizasse outra mesa, coisa que ao momento se aparentava improvável...
Ele, homem magro de tez morena, cabelos molhados e escorridos para a nuca, camisa branca, desabotoada, mangas arregaçadas e calças pretas de um clássico bem vincado, calçando sapatos de sola... decerto seria uma pessoa das lides do rio, bastante habituada a apanhar sol, pescador tradicional... ou coisa assim... e ela... senhora de cintura larga, cabelo apanhado na nuca, ar exótico e vestes escuras compridas até aos pés cobertas por um avental colorido e debruado a renda... trazendo um bebé no regaço. o casal vestindo clássico destoava na sala composta por semi despidos...

-Aaaaíí Maríííííããn cagenti aqui nã apenha lugári e nunca mais almoçãn?

-Ó hómi cagenti tá com uma fómi de rapáári e tenho qui dar a mamádan à criânçãn?!!

-Aiii Mariãn que vão a ser duas e meia e tãn depressãn daqui nã saimes?

Cá o Cidadão abt apercebeu-se que aquelas vozes e o sotaque lhe eram familiares... Ah! De novo, o casal de pescadores... esperavam de pé que vagasse uma mesita para se poderem instalar... 
Coitados... 
Olhem... este praça ocupava uma mesa de quatro lugares, havendo três cadeiras livres... era isso!

-Psst! Psst!

O casal, de olhar distante... permanecia quedo...

-Psst! Psst!

O pescadorl olhou cá na direcção, perguntando...

-Quêim nóis?

-Sim vocês! Venham para aqui!

-Fazeri o quêi?

-Sentem-se nestas cadeiras vagas e partilhemos da mesma mesa!

-Aaaaiii hóme? Atão nã veis que aquêli éi o dú crocodiiliúúú!

-Olhãn! Pois éi?!!

-Vemones sentári lá home, que estou cansadãn de ficári ein pééíii?

E assim cá o rapaz teve ocasião de mais uma vez partilhar o espaço com os três amigos que não lhe largavam a peúga durante esta interminável saga em busca do crocodilo perdido!

-Olá! Mandei vir meia dose de caldeirada de peixe... é o prato dia... pode ser do mesmo prato para vocês?

-Aiii que esti senhôri é tãn simpátii?!!!

-Do sê pratu nã como... mas pode sêri da mesma comidãn, sim sinhôrin.

-Atã, qué do crocodiliúúú?

-Não me falem nisso! Uma dose de caldeirada para vocês dois deve chegar... não?

-Aiiii! Lá issúú é qui chêgân e sobrãn?!

-Aííí qui esti o senhori têin as arranhadelãns da cara, da testãn e dos bráçuns tão encarniçadãns? Até parece que infetarãum! Ponhãn-le tinturãn?!

-E onde arranjo a tintura ó dona? Isto vai secando...

E assim aconteceu... 
Pedida mais uma dose de caldeirada de peixe regada com uma garrafinha de sete decilitros e meio dum branco Terraços do Tejo 2010 bem geladinho e a senhora por ora rosadinha, com o braço esquerdo amparando a criança ao colo satisfazendo-se com meia litrosa de água bem portuguesa, foi-se compondo o repasto... De barriguinhas reconfortadas, era imperioso fazer conversa... encontrando assunto para quebrar o silêncio que se tinha instalado naquela mesa cercada por três esfomeados e um pingente.

-Contem lá... Já pescaram muito?

-O quêi?!

-Sim... Sendo vocês pescadores é natural que tivésseis apanhado qualquer coisita...

-Ó senhõriii! Nóis nã sermes pescadôris?!!! Nós sermes vendedores ambulântis!!!

-Ah não? Desde que vos conheci, sempre me convenci que fôsseis pescadores!

-Orãn essãn? Atã o senhõri nã sabiãn qui nós somus cigâânus?

-Nunca me passou tal coisa pela idéia! Vocês são ciganos? Qual é a sua terra?

-Nasci no Aveláááriii!?

-E a senhora?

-Aiii! sou aqui de pertúú! Sou do Pedrógão Grâããndiiii!!!

-Que engraçado! Vocês fazem vida da venda é?

-Sim senhôri! Nós vendemes trapinhúús, camisolinhãns, calcinhãns, cuequinhãns, sutiâns, sapatinhus e por aí adianti!

-E... onde têm a loja?

-Ali na bagage da carrinhãn! Andemes de terremterrãn a vendéri de portá portãn e fazemes alguns mercádis da regiãum! Fazemes vendãn ambulânti!

Depois dos cafés, o garçon trouxe a dolorosa...

-Dê-me cá isso...

Dois pães, uma água, uma garrafa de vinho, uma dose e meia de caldeirada e dois cafés... a casa houvera apresentado uma conta acessível...

-Aceitam pagamento por Multibanco?

-Temos sim...

-Deixem-se estar sentados... que eu já volto...

Pagando a continha por inteiro... assim cá o Cidadão abt sentiu-se deveras realizado neste segundo dia de frustrações...
Regressando à mesa... rematou ao casal de convivas:

-Está pago!

-Aaai mas o senhõri féis uma coisan dessãns?

-Fiz! E com muito prazer!

-Aiii senhôôriii!!! Que deus lhi pááguiiii! Tomi lá um beijinhúú!

-Ai Mariân, vêi lááá nã testiquis???

Aquele beijo doera bastante... fora aplicado sobre uma das chagas na face esquerda cá do desafortunado Cidadão...

-Fique descansado caro amigo que não lhe roubo a sua Maria.... Que sejam um casal sempre unido... e muito felizes!

Todos saídos do repasto, procedera-se às despedidas não fosse o caso da Maria se vir a afeiçoar cá ao rapaz ou ser mote para uma crise de ciúmes... enquanto o casal descia a ruela estreita... O alto da alva escadaria emanava um cheiro intenso a cera queimada... Cá o Cidadão... subiu...
Uma torre sineira em pedra xistosa e de formato pentagonal destacava-se no largo ladeado por muretes e pérgolas de vegetação... 
Pelos traços arquitectónicos... decerto que seria uma construção Templária...
A paisagens eram magníficas em Águas Altas... a península de casario branco avançava para o rio... 
Tanto de um lado como do outro se avistavam massas de água encravadas entre os montes adjacentes cobertos de pinhal... um nó atravessou-se-lhe na garganta... este praça sentia-se frustrado, gorado nos seus intentos... tudo lhe corria ao contrário...militares em exercício confundidos com gaviais, uma casa que afinal não era viveiro para crocodilos, uma carrinha que não era a incubadora ambulante, uma velha fanhosa que não dava recado de lagartos enormes, o pesadelo tido com um crocodilo ... um crocodilo insuflável e agora um homem rã que se houvera confundido com o sáurio...
Admirando tão belas vistas, ganhou vontade de desatar a chorar... uma enorme força saltava-lhe da alma para o peito e do peito subia à garganta... as chagas inflamadas, ardiam-lhe... tudo corria mal... cá o Cidadão olhou para trás dando com umas senhoras de lenço à cabeça e vestidas de escuro surgindo sorrateiramente por detrás da negra construção metálica assemelhando-se a uma churrasqueira, colocada junto à parede da igreja e de onde saíam lufadas de fumo negro... Foi até lá... De momento estava sozinho... que esquisito... aquilo albergava uma colecção de velas acesas espetadas nuns copinhos cuja cera ia escorrendo para um gradeamento metálico... Ali sim... escondido das vistas indiscretas, desatou a chorar baba e ranho até mais não... era preciso descarregar... chorar fazia bem...
De súbito, no interior da negra estrutura formou-se uma fumarola branca e muito brilhante... assemelhando-se a uma pequena nuvem...
Sobre essa nuvem surgiu uma figurinha muito engraçada, coberta com vestes douradas e um manto roxo, cuja cabeça era adornada por uma coroa real... 
Cá o rapaz olhou para trás... na esperança de descortinar o engraçadinho que tinha o projector... mas nada... népias... nicles!
-Porque choras, criatura de Deus...

-Quem, eu?

-Sim, tú!

-Mas a bonequinha... é a sério?

Aquela figura falava e tudo! Metera conversa com este desgraçado! O sacana do vinho branco era forte como o camandro e estava a dar a volta ao miolo! Nunca tal tinha acontecido!

-Não sou uma bonequinha... sou a Mensageira de Deus...que concebeu Jesus Cristo Redentor...

-Desculpe... pensei que fosse a linda princesa Leia Organa aprisionada pelo malvado Darth Vader... na estrela da Morte!

criatura de Deus! Isso é pura ficção científica... do realizador George Lucas...

-Assim sendo, quem é a bonequinha?

 -Sou a Senhora da Conceição, Mãe de Jesus e a ti, criatura, confundi-te com o meu filho primogénito...
-Mas então... ainda não percebi qual a razão da sua presença neste local...

-Sabes, criatura de Deus... as pessoas acorrem até mim em preces para que lhes dê graças na cura dos males do corpo e da alma...

-Ai sim! Ai sim? Olhe!!! Eu trago um problema para resolver!

-Confessa-te... filho de Deus, diz-me do teu problema...

-Sabe, Senhora da Conceição, mãe de Jesus Cristo... ando à procura de um crocodilo perdido nas águas desta albufeira...

O choro cá do rapaz tinha aliviado, levando a crer que se encontrava um milagre divino em progressão...


-Ainda não me dissestes quem tú és, criatura de Deus...

-Ah! Pois! Sou o Cidadão abt!

E aquela Senhora, ao desafio com este desafortunado, desatou num enorme Pranto!

-Senhora... E vós... porque tão desalmadamente... chorais?

Conseguiu questionar cá o rapaz enquanto com as costas das mãos, ia limpando as lágrimas salgadas que lhe atiçavam as feridas do rosto...

-Porque contigo, criatura de Deus, já não há nada a fazer... nem milagre que te valha...

Foi assim que ambos se juntaram num choro sincronizado... enfim... num enorme pranto sem fim... 
A Senhora do Pranto e um senhor em busca do crocodilo perdido discretamente entalados entre uma parede branca de Igreja e uma estrutura que abrigava as preces do vento e das vistas indiscretas... se quereis saber mais desta interminável epopeia, aconselho-vos a fazerdes uma visita a Águas Altas a que os nóias dos autarcas designam por “Dornes.” De facto aquelas paragens fazem milagres ao corpo e à alma dos mortais.
Cansados de ler, mas felizes... não é verdade? 
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