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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

sábado, 27 de agosto de 2011

O CROCODILO VII



O CROCODILO VII
Sétimo episódio

  
A situação derrancava-se em lágrimas com a Senhora para um lado e o Cidadão abt para o outro. Quem com uma vela acesa dali se aprochegasse, bem cedo a recolhia... Aquele pranto de modo algum terminava até a aparição ter lançado a seguinte questão...
-Criatura de Deus, que santo é esse, tão feio e verde que trazes no peito?

-Não é um santo. Senhora... é o Hulk...

-O jogador de futebol?...

-Não, Senhora do Pranto... É um ícone da animação! Começou por aparecer nos livrinhos de histórias aos quadradinhos como o alter ego do Doutor Robert Bruce Banner...

-Eiiia ca ganda seca! Criatura de Deus, por ventura nunca passastes por situação mais grave do que este teu sentimento de frustração em busca de um mero crocodilo?

Irra que a bonequinha hologramanizada tornava-se chata com tanta pergunta formulada... depois de pensar um bom bocadito, este praça recordou-se que de facto há bastante tempo... se tinha livrado de boa...

-Sim, Senhora do Pranto! Há bastantes anos estive metido numa situação que ainda hoje não me sai da memória...

-Confessa-me, criatura de Deus, o que foi que te aconteceu assim de tão complicado... há muitos anos...pode ser que a tua alma ainda tenha salvação...

Afogado em soluços e lágrimas que escorriam pelo rosto causando fortes ardores nos arranhões provocados pelos espinhos do balseiro, este praça foi contando o sucedido...


-Há muito, muito tempo, viajava eu de mota... à minha frente seguia um auto-tanque dos bombeiros... à retaguarda vinha uma locomotiva... perseguida por um cacilheiro... Do lado esquerdo... atalhando-me a escapatória, um carro da polícia ia no encalço dum cavalo enorme... mais acima... efectuando voos rasantes à direita da minha nuca, um helicóptero ameaçador oscilava vezes sem conta... o grande problema residia em que todos avançávamos à mesma velocidade...

-Sim... E depois?

-Tentei travar mas tive medo de ser abalroado pela locomotiva e pelo cacilheiro... Se aumentasse a velocidade... enfiava-me debaixo do auto-tanque dos bombeiros... desviando-me pela esquerda batia contra o carro da polícia e se me chegasse mais para a direita... está a ver a desgraça que não seria... de certeza mesmo que levaria com os patins de aterragem do helicóptero pela carola!!!

-Isso sim, foi uma situação bastante complicada... Como te saíste dela... criatura de Deus? Para agora estares aqui, só um grande milagre te terá salvo...

-Sabe Senhora do Pranto... Ainda aguentei aquilo durante uns intermináveis cinco minutos!

-Ai, valha-nos eu, que sou a Virgem Santíssima! Imploraste a São Cristóvão que é o padroeiro dos viajantes!

-Ná!...

-Evocaste São Marçal que é padroeiro dos bombeiros!

-Também não!

-Não sei o que te diga, filho... Deixa-me cá ver...

-A Senhora do Pranto nem calculará como cá o Cidadão abt se saiu desta... mas que saiu, lá isso saiu!!!

-Oh criatura de Deus... Ás páginas tantas... Evocaste Santa Dinfna...

-Quem é essa?!

-Deixa estar... Numa aflição dessas... evocaste um Deus pagão... Por exemplo... Neptuno,Deus dos mares!

-Nhã, nhã, nhã! Também não! Cada vez mais frio...

-Prontos! Já sei! Evocaste a Senhora do Loreto que é protectora dos aviadores!

-Falhou outra vez...

-Então criatura de Deus!!! Descose-te e não me moas mais a paciência!!!

-Reparai, Senhora do Pranto... deixei parar o carrossel... e apeei-me!!!
-Olha! Desapareceu sem sequer se despedir!!!

Exorcizada a bola que lhe ascendia pela  traqueia, este Cidadão saiu bastante mais aliviado e intrigado daquela caixinha das lamentações sem arranjar explicação plausível para a aparição do holograma.
Dando uma voltita pelo outro lado do templo outras facetas da paisagem se lhe foram revelando...
Aquela chaminé tradicional... fazia-lhe confusão ao juízo...
Como seria previsto que o ocaso se daria rente às vinte horas e quarenta minutos, sobravam-lhe três horas e tal de claridade e meio depósito de gasosa... para chegar a caselas...
Acedendo à inseparável Coty deu-se conta que a coitada já não tinha a companhia dos maquinões motorizados que tanto as valorizavam, dando lugar a uns quantos pingos de óleo no empedrado chão...
Ninguém lhe houvera cobiçado o capacete amarelo nem a mochila cor-de-rosa desmaiado com o ursinho Pooh... menos mal...
Colocado o equipamento num corpo sofrido de arranhadelas de balseiros, era tempo de embalar a máquina pela calçada abaixo até entrar em funcionamento, galgando metros sem conta sob a aragem fresca das sombras do casario e descarregada a frustração, nova esperança se lhe foi formando nos neurónios... Deixando a península para trás e seguindo uma estrada asfaltada esta alma rumou à direita até apanhar um caminho que tomava as águas do rio Zêzere. Parou a maquineta, sentando-se numas rochas de onde conseguia outra magnifica contemplação sobre Águas Altas. À distância, este praça ia perscrutando o motor de um barco vogando na massa de água... Uma espécie de zebro cinzento... Um pequeno semi-rígido com dois tripulantes a bordo...que na retaguarda tinha incorporado um arco encimado por pirilampos azuis... pareciam ser dos bombeiros... ná... eram os géninhos... A embarcação foi vogando pelas águas adiante... O de binóculos observava as margens rodando a cabeça até dar com a presença cá do Cidadão junto à sua Coty... Descrevendo um U sobre a esteira de espuma, o bote aproximara-se rápidamente das rochas que este praça pisava... Com o motor desligado a embarcação deslizou suavemente sobre as pequenas ondulações até se vir imobilizar juntinho às havaianas...
-Boa tarde!

Saudou o géninho com divisas verdes formando dois V.

-Boas!

-O senhor... o que faz por aqui?

-Procuro um crocodilo!

-Não brinque com a autoridade!

-Volto a perguntar-lhe... o que faz por aqui a uma hora destas?

-Volto a responder-lhe... ando na busca de um crocodilo!

-Hum... O senhor encontra-se num estado lastimoso... o que foi isso? Caiu da mota?

-Não! Cai num balsêro.

-Hum... está bem... E ainda não se tratou?

-De quê?!

-Desses lenhos na pele... ou do que é que devia ser?

-Ah! não!

-Hum... onde foi que caiu?

-Numa descida de um caminho junto à ponte que une os concelhos de Vila de Rei e Ferreira do Zêzere...

-Hum...Pois... Está bem... e o que ia fazer para esse sítio?

-Fui precisamente atrás do crocodilo, senhor guarda!

-Ena pá! O homem viu o crocodilo!!! Onde? Onde?

Atalhou o agente que se mantinha ao volante da embarcação.

-Não era um crocodilo de verdade... era um crocodilo insuflável que se confundia à distância!

-Estás a ver, Humberto! Bem te disse que o outro avistamento era uma bóia dos cachopos... perdida!

-E os senhores guardas, o que fazem por aqui de barco?

-O senhor não tem nada a ver com isso! Como se chama?

-Cidadão!

-Só Cidadão?! E os apelidos?

-Abt!

-Abt? Cidadão abt?!?

-Yess!!

Parecia que os géninhos tinham visto o Berzebú!

-Você é o famoso Cidadão abt... de Abrantes?!!

-Óh,  messa!

-Eh! Home! Dê cá um abraço!

Foi num piscar de olhos enquanto o inquiridor abandonou a embarcação seguido do outro agente, tendo aquelas duplas palmadas nas costas doído cum’ó carais, não só devido à força imprimida mas também inerente às chagas ocultas pela negra t’shirt com o Hulk impresso no peito e que se faziam sentir a todo o momento...

-Veja bem que até costumo ler as suas crónicas na Internet!

Carregou o agente Humberto...

-Porra! Não fazia idéia que fosse assim tão famoso, carais!

-O que o pessoal se diverte lá em casa! Vai escrever sobre isto?

-Vou, sim senhor!

-Que espectáculo! E nós vamos entrar nessa crónica?

Questionou o agente Timoneiro...

-Vão pois, se aceitarem, claro!

-Está a ler o meu nome aqui na farda?

Retorquiu o agente Humberto...

-Estou sim senhor!

-Peço-lhe o favor que evite pronunciar os nossos nomes na sua crónica...

-Está bem, amigo agente... vou-me referir a si como sendo o agente Humberto... pode ser?

-Muito bom!

-E eu? E eu?

-Pode ser o agente Timoneiro?

-Come-se...

-Vamos ao que interessa... Olha! Olha! O bote está a desandar pela àgua! Vocês não o ancoraram!?

-Eia Humberto! E agora??? Estamos fritos! Temos que despir a farda, pá!!!

-Deixem-se estar que já volto!

E desta feita cá o Cidadão abt não foi em busca do crocodilo mas do bote perdido! Um mergulho e umas quantas braçadas em crawl foi quanto bastou para alcançar o vogante semi-rígido... Tomando a pega por suporte, num impulso este praça descortinara dois remos no chão da embarcação, sendo um instante enquanto a devolveu aos agentes... entretanto reparou que presa ao interior do bote estava uma carabina municiada com anestesiantes, dois rádios transmissores, uma rede de pesca... os potentes binóculos e um chalavar estendido a todo o comprimento do estrado...
A concorrência era forte... Perante um equipamento tão sofisticado... o que poderia fazer o Cidadão abt com o seu capa-grilos? Encharcado mas realizado, este praça foi descortinando conversa...

-Ora onde é que íamos... Ah! Pois! Vocês andam à procura dum crocodilo?

-Somos do SEPNA... e desenvolvemos acções de vigilância em toda a região compreendida a jusante da foz da ribeira do Alge.

-Ah bom... E tiveram sucesso nas vossas buscas?

-Nem por isso...

-Vocês acreditam mesmo que ande por aqui um crocodilo?

-Quer dizer... há várias pessoas a denunciarem a situação das daí até ao ponto daquilo que viram ter sido um crocodilo...

-Afinal são buscas sem fundamento... passear... gastar gasolina... tudo à custa dos contribuintes. Uma boa vida...

 -Repare... o fundamento para essa história dos crocodilos é muito antigo e passa por um casal de holandeses que dizem ter vivido há bastantes anos nesta região... os mais antigos contam que os sujeitos faziam uma vida perversa e tinham uns crocodilos amestrados que até respondiam ao toque de palmas... dizem que há muitos, muitos anos, em certa ocasião foram visitados por um camarada ex-combatente na guerra de libertação da Sumatra que eclodira lá para as bandas da Indonésia. Quando no ano de1949 os holandeses procederam à retirada das tropas, houve dois camaradas militares que trouxeram crias de crocodilo numas caixinhas escondidas nos fundos da bagagem...
Ficando esses bicharocos na posse de um deles, o mais endinheirado e consequentemente reunia melhores condições de vida para sustentar os bichanos... e sendo por cá as leis frouxas no que dizia respeito ao ambiente, o fulano veio habitar para região... como ia contando, o holandês que tinha uma grande pancada ensinou os crocodilos a fazerem umas habilidades... umas porcarias...e assim... bom... como lhe hei-de explicar... badalhoquices... está a perceber? 

Um dia mais tarde quando o outro holandês veio até cá visitar o antigo camarada de armas, logo lhe indagou pelos crocodilos... ao que o holandês perverso lhe explicou que estavam abrigados debaixo da vegetação e o à vontade era tal que até partilhavam a piscina com os humanos... Curioso e emocionado, o visitante pediu ao amigo para lhos mostrar... Vai daí, o holandês de cá bateu as palmas uma vez e de imediato apareceram dois majestosos sáurios exibindo as suas enormes dentições... Bastante assustado e presumindo que corria risco de vida, o visitante recuou uns passos... Nessa altura o anfitrião tranquilizou-o explicando-lhe que os animais era mais mansos do que dois cachorrinhos... para demonstrar a veracidade e a confiança que depositava nos lagartos, logo desafivelou o cinto, arreando as calças... Ao bater das palmas por duas vezes sucessivas, um dos majestoso crocodilos avançou para o residente erguendo-se nas patas dianteiras e abocanhando o membro do seu dono, deixou o visitante horripilado na expectativa de que estaria uma tragédia para acontecer! 
-Olhó meu!

-Shhiuu!Cale-se homem! Ele bem sabia que o ex-camarada era meio maluco e se ainda estava vivo naquele momento, bem o devia ao arrojo temerário com que o camarada de armas o resgatara das catanadas dos guerrilheiros indonésios revoltosos! Pelos vistos, desde esses gloriosos tempos nada mudara nele. Embasbacado de todo, reparou que o anfitrião tirava imenso prazer do tratamento que sáurio lhe estava a aplicar no sexo! Dez minutos depois, o holandês maluco arrumou com dois punhões no toutiço do animal fazendo com que o bicho com extrema delicadeza lhe soltasse o “coiso”. Seguidamente o dono dos crocodilos convidou o ex-camarada de armas a desfrutar das mesmas sensações... ao o visitante lhe respondeu que, experimentar até experimentava mas não sabia se no fim daquilo ainda aguentaria com os dois murros na cabeça!

-Gaita! Isso foi mesmo verdade?!

-São histórias que se contam por aí...

-E os holandeses... Vocês já os averiguaram?!

-Averiguámos sim senhor, mas não detectámos indícios de que qualquer holandês tivesse habitado nesta região nem que eventualmente deixasse escapar algum crocodilo para a albufeira...

-Sendo assim... seguindo o raciocínio... uma vez que não há por aqui vestígios de holandeses... é lógico que também não existem crocodilos!

-Correcto e afirmativo!

-Sabem amigos... o Sol está a descer cada vez mais e tenho que ver se chego ainda de dia a casa...

-Ouça cá, ó Cidadão! Você vai colocar essa dos holandeses na Internet?

-Vou pois... É uma estória fixe!

-Eh! Eh! Vai ser uma risada!!!

-Adeus amigos! Cá o Cidadão sai daqui bastante mais enriquecido!

Assim foi... Este praça voltou a colocar o capacete amarelo e a mochila cor-de-rosa, deu ao pedal de arranque e num  abalo sem embalo, desapareceu na íngreme subida, deixando dois géninhos acenando despedidas suspensas num bote!
Depois foi mais uma questão de rebobinar o filme... Subir a enorme estrada sinuosa... voltar á direita... passar por Águas Belas...
Entrar em Ferreira do Zêzere e dar uma voltinha em torno acagaçado cidadão ferreirense...
Descer as curvas em direcção à enorme ponte que cruza o Zêzere... subir a pique e em Vila de Rei voltar à direita na direcção de Abrantes... evitar o teste de travões porque da ultima vez ia dando um tralho... isto e o motor da Coty a falhar... gaita... entrara na reserva... mudar a posição da torneira, acelerar na subida... e rezar para que a gasosa desse até casa... As trevas invadiam a paisagem... À entrada de Abrantes já a iluminação pública se fazia valer...
Pensando na Companheira, recordava-se de como ela se mostrara furibunda ao microfone do tijolo falante...
Felizmente a gasosa deu para chegar ao lar, doce lar...
Enquanto arrumava a máquina no alpendre já a gata Cristie rondava os artelhos deste praça com a cauda espetada na vertical e o pelo do lombo eriçado... aquilo era mau presságio...
Executando sinuosidades entre os artelhos e emitindo tímidos e piedosos miares, o felíno ia atrapalhando as passadas cá do rapaz... sinal inequívoco de que a coisa não estava de feição...
Coragem... foi preciso bastante determinação para meter a chave à fechadura quando por artes e manhas a porta se abriu automaticamente... não! Foi ela que num acto sincronizado a abriu pelo lado de dentro...
Aquela expressão severa... talhada em redondinho rosto marcado por dois olhinhos negros e arregalados... enregelava cá o coração... agora é que ia ser o delas!
Atrás da Companheira, no corredor repousavam duas malas inchadas de roupa... e a gata Cristie ronronando-se nelas... como querendo dizer... “são tuas, meu lorpa"...
De súbito... exclamou a Companheira erguendo as mãos na direcção desta desafortunada cara...

-Já estava para te ligar, meu vadi...?! Ahh! A minha alma está parva!!! Coitadinho! O que te fizeram? Foi o crocodilo? Estás num estado lastimoso! Vem cá meu querido, para te poder curar essas feridas! Meu Deus! Isso aí precisa de Bétadine! Também tens umas chagas enormes nos braços e por todo o corpo!! Ai minha Virgem Santíssima! Isso pode infectar! Eu bem te avisei para regressares a casa ontem mas tú não quisestes saber e agora apareces assim todo ferido! Deves ter tido uma grande briga com o crocodilo! Ao menos conseguiste apanhá-lo? Conta-me cá meu filho como fizeste isto!!!

Há males que vêm por bem... Se não fossem as feridas provocadas pelos espinhos das silvas, o caldo estaria entornado... aquelas chagas impressionavam qualquer agnóstico...
Após tomada uma retemperadora banhoca, a paciente Companheira gastou um bom quarto de hora de volta do saco de discos de algodão embebidos em meio frasco de tintura, absorta na gloriosa missão de desinfectar as chagas deste rapaz.
Quando foi para o computador já a cara-metade lhe trouxera uma chávena de chazinho bem quente...
O aroma a um tacho de caldo verde em ebulição encaminhava-se a partirda cozinha...
Este Cidadão sentou-se à escrivaninha ligando a máquina q1ue após emitir aquela melodia... lhe foi digitando o seguinte:
“Como a vida não está fácil, este praça resolveu trocar duas semanas de férias nas Caraíbas por um dia bem passado nas margens da albufeira do Castelo do Bode...
Subjugando o selim da máquina vermelho Ferrari atestada de véspera e elevando o piston ao red-line, fez-se à estrada na sua Famel Coty de duas velocidades, devorando o alcatrão a uma velocidade de sessenta quilómetros por hora, ressalvando as subidas, claro! O trânsito era escasso à exeção de uma coluna de viaturas militarizadas que o ousaram ultrapassar na rampa entre a Amoreira e Martinchel (...)”
Vai daí, a Companheira apresentou um prato em barro salpicado a arroz, emanado um idílico aroma de fervilhante guisado condimentado a cravinho...


-O que é isto?

-Coelho guisado...

-São fígados de coelho?!

-Não...São moelas...

-Moelas de coelho?...

-Sim... moelas de coelho...

-Ainda bem... sabes que detesto guisado de fígado de coelho... Causa-me náuseas...

-Então?! O que achas? Está bom?

-Um acepipe, Companheira... Sabes cozinhar, Companheira!...


E... se quiserdes saber o resto desta interminável, intrépida e maravilhosa aventura do Cidadão abt em busca do crocodilo perdido, viajai até aqui!

sábado, 20 de agosto de 2011

O CROCODILO VI



O CROCODILO VI
Sexto episódio


Metidas as rodinhas a caminho e subjugado ao calor intenso que lhe trespassava as malhas da negra t-shirt com o verde Hulk estampado no peito e o punha a suar das estopinhas, lá seguiu este Cidadão abt ao encalço de Dornes... e do crocodilo!
Com tantas cenas frustradas o desânimo começara a instalar-se no psico... Dando gás à Coty, foi percorrida meia dúzia de quilómetros pela estrada fora até encontrar uma placa a indicar Dornes para o lado esquerdo...
Hum... de acordo com o sentido de orientação deste praça, as águas da albufeira ficavam-lhe à direita...
Assim, como seria possível que Dornes estivesse à esquerda?! Coisa esquisita...
Daí em diante desceu por umas quantas curvas serpenteantes sob denso arvoredo...
Dornes... indicava o sinal de trânsito... houvera chegado à pista sugerida pela senhora do buço, na taberna da Cabeça Ruiva...
Avistado o casario...
Dornes?!
Qual Dornes qual quê?
Aquela povoação era Águas Altas!
Cá o Cidadão abt chegara a Águas Altas que bem se fartou de a ver no cinema e depois nas televisões!
Para que não restassem dúvidas, estava bem escarrapachado no filme Dot.com do realizador Luís Galvão Teles, rodado em 2007!
Qual “Dornes” qual carapuça!
Os autarcas bem que tentavam enganar o pagode mas tanto também não, carais!
Vá-se lá compreender estes políticos!
Água Altas até condizia com Águas Belas e tudo!!!
-Dãããã???
Cá tínhamos a explicação para o problema entre os cunhados de Águas Belas!
No Dot.com, a povoação de Águas Altas foi sede de um centro nevrálgico retaliador de uma ciberinvestida castelhana com o intuito de plagiar este nome para uma marca de águas engarrafadas! Logo, os cunhados não se davam porque o espanhol seria adepto das águas e o português torceria pelo tintol!
Continuando a descer a ravina e deixando o casario pelas três horas, foi alcançada a margem da albufeira em poucos minutos. 
Era tempo de desligar o motor da Coty, descer a mochila cor-de-rosa desbotado com o ursinho Pooh, tirar o capacete amarelo e sentar nas rochas à sombra de uma árvore... depois de tantas frustrações, depois de tantos fiascos e depois de tanto sofrimento passado, era tempo de meditar se valeria a pena prosseguir em busca do crocodilo perdido...
 Pequenitas ondas tocadas pela fresca brisa iam rebentando nas rochas, molhando os pés cá do Cidadão abt... as chagas provocadas pelos espinhos das silvas marcavam presença, remoendo em dores constantes e numa comichão que não se podia... vendo bem, as havaianas denunciavam as unhas dos pés que se atreveram a crescer desalmadamente... adiante no lago, uma sombra escura sulcava a meia profundidade... 
Bah! Queria lá saber! Que se lixasse...
A sombra escura evoluía por debaixo da superfície aquática ora mais para a esquerda, ora mãos para a direita...
Bah! Queria lá saber... que se...
Bolhinhas de ar desfaziam-se à tona de água como se debaixo, algo as impulsionasse...
Bah! Queria lá...
Aquilo devia ser uma visão... os efeitos do calor intenso faziam-se sentir no processo sensorial e cognitivo...
Bah! Queria...
Eram efeitos de uma insolação... ou talvez não...
Bah...
Aquela mancha escura cada vez mais se aproximava cá do rapaz... curioso. Se... Maomé não vai á montanha... a montanha vem até Maomé...
Nem de propósito...
As bolhinhas de ar estouravam cada vez mais perto... com a mancha negra sempre por debaixo...
Com cuidado houve que alcançar uma pernada seca, tombada no solo rochoso... partiu-a... esgalhou-a... e ali tinha o instrumento ideal para assentar umas pauladas valentes no quer que aquilo fosse... crocodilo, jacaré, sáurio, caimão, lúcio, truta gigante ou raio que os partissem... o certo é que aquela coisa submersa pairava junto à margem onde agora de pé este descrente... com as duas mãos segurava firmemente o madeiro em riste!
Aí vem... aí vem...
Espanto!
-Um homem-rã!!!
Dããsse! Contava com tudo, menos com um homem-rã!!!
O dito cujo emergiu ali juntinho, respingando as redondezas... só passado um bom minuto é que, retirando os óculos de mergulho o fulano se apercebeu da presença cá do Cidadão abt que largara a arma letal e se voltara a sentar na rocha, seguindo atentamente as manobras que o mergulhador executava com o intuito de se desenvencilhar da garrafa de oxigénio...

-O que é que você está ai a fazer?!

Indagou o homem de negro... enquanto fora de água, ia descalçando as barbatanas...

-Olhe, caro amigo... em abono da verdade, ando à procura de um crocodilo perdido...

-Foi você que o perdeu?!

-Não senhor... Simplesmente ouvi nas notícias e...

-Deixe-se de tontices!

-Deixo-me de tontices, porquê?!

-Porque nestas águas não há nenhum crocodilo! O que as pessoas avistam é um peixe-gato! Um siluro! Percebeu?

-Mas... o que é isso de um peixe-gato?

-Ó amigo! É um peixe enorme que chega a pesar cerca de 300 quilos e a atingir os três metros de comprimento!

-Uuuh! Que exageeeero!!!

-Que exagero,?! Você está a irritar-me! Que exagero, uma ova! O silurídeo chega a viver oitenta anos!

-Mas se o peixe é assim tão velho e grande... também periga os humanos...

-Qual periga, qual quê! O peixe-gato é inofensivo para as pessoas e só devora outros peixes!

-Então quer dizer que o senhor ali debaixo das águas nunca viu  um crocodilo... é isso?

-Ah pois é! Essas notícias alarmistas só servem para prejudicar o turismo aqui da região!

-Não será bem assim... Por exemplo, cá o Cidadão foi atraído a estas paragens precisamente por causa do crocodilo!

-Deixe-se de conversas, homem! Julga que agora as pessoas normais se dedicavam à caça do crocodilo? Só os tontos!

Hum... O que uma pessoa tinha de ouvir... era coisa para mandar o ego de um homem abaixo...

-Olhe! Sabe o que lhe digo? Ainda bem que correm essas notícias para que o pessoal de Lisboa não venha para aqui lavar o cú e poluir isto tudo! Mas, também é bem feito! Vêm para aqui mijar nas águas da barragem e depois vão bebê-las a Lisboa!!! E sabe que mais? Ainda bem que se noticia a presença de um crocodilo porque isso vem preservar a biodiversidade desta região! São os barcos barulhentos com motores fora de bordo que afectam a piscifauna, são as pessoas aos gritos que assustam a passarada, os répteis e os mamíferos, são as clareiras deixadas pelas fogueiras de churrascos, são as plantas autóctones arrancadas e substituídas por espécies exóticas, são os detritos sazonais largados pela ocupação humana, é o impacte ambiental provocado pela circulação de veículos motorizados, e sabe que mais? Você sente-se é lesado no seu negócio por causa das notícias do avistamento do crocodilo!!!

-Ó homem! Você passou-se, ou quê!!!

-É assim, e mái nada!

Durante este desabafo cá o rapaz voltou a içar a mochila com o ursinho Pooh, colocar o capacete amarelo, dar um impulso no pedal de arranque da Coty e desandar ali para fora á procura de alimento enquanto a torre sineira de Águas Altas batia as catorze badaladas!
Subida aquela rampa até ao centro da aldeia, foi tempo de procurar um sitio onde se manducasse... chegara ele... a um estacionamento apinhado de altas máquinas... eram BMW’s... Mercedes, Audis... Cayennes... o que valia era este praça fazer-se deslocar num meio de transporte que cabia em qualquer cantito... ao caso, fora estacionar a Famel vermelho Ferrari de duas velocidades entre dois topos de gama de muitas velocidades altas e baixas, auto-bloqueio de diferenciais, turbo-intercooler’s, ares condicionados, vidros fumados... E estes fulanos queixam-se que o país atravessa a crise mais profunda desde a primeira grande guerra!
Retaliando os intentos do porteiro que era um canídeo com ar intrigado e algo contemplativo... talvez por causa do Hulk verde estampado na camisola negra, este praça transpôs o portal da Casa da Inveja... dirigindo-se para uma esplanada com mesinhas de quatro lugares a abarrotarem de gente.
De início teve algum pejo de se apresentar em calções de fazenda e camisola preta estampada com o Hulk verde e todo arranhado das silvas mas... ao ver tanto homem pelado e de burkalções, que são uns calções de banho com florinhas até abaixo do joelho e que se enrolam às pernas e aos testículos quando um gajo sai da água... e elas, de peitinhos todinhos ao léu...
...este rapaz perdeu a vergonha e avançou...

-???
Vá lá... tomem com um exemplar mais inteiriço.
...poucos metros porque as mesas de facto estavam todas ocupadas... seria necessário aguardar que alguma vagasse, o que não demorou muito tempo.
Abancado à mesa, mandou vir meia dose de caldeirada de peixe... aquilo demorava em saltar para o prato talvez devido à afluência de comensais... Nisto entrou um casal ficando especado à porta, esperando que se disponibilizasse outra mesa, coisa que ao momento se aparentava improvável...
Ele, homem magro de tez morena, cabelos molhados e escorridos para a nuca, camisa branca, desabotoada, mangas arregaçadas e calças pretas de um clássico bem vincado, calçando sapatos de sola... decerto seria uma pessoa das lides do rio, bastante habituada a apanhar sol, pescador tradicional... ou coisa assim... e ela... senhora de cintura larga, cabelo apanhado na nuca, ar exótico e vestes escuras compridas até aos pés cobertas por um avental colorido e debruado a renda... trazendo um bebé no regaço. o casal vestindo clássico destoava na sala composta por semi despidos...

-Aaaaíí Maríííííããn cagenti aqui nã apenha lugári e nunca mais almoçãn?

-Ó hómi cagenti tá com uma fómi de rapáári e tenho qui dar a mamádan à criânçãn?!!

-Aiii Mariãn que vão a ser duas e meia e tãn depressãn daqui nã saimes?

Cá o Cidadão abt apercebeu-se que aquelas vozes e o sotaque lhe eram familiares... Ah! De novo, o casal de pescadores... esperavam de pé que vagasse uma mesita para se poderem instalar... 
Coitados... 
Olhem... este praça ocupava uma mesa de quatro lugares, havendo três cadeiras livres... era isso!

-Psst! Psst!

O casal, de olhar distante... permanecia quedo...

-Psst! Psst!

O pescadorl olhou cá na direcção, perguntando...

-Quêim nóis?

-Sim vocês! Venham para aqui!

-Fazeri o quêi?

-Sentem-se nestas cadeiras vagas e partilhemos da mesma mesa!

-Aaaaiii hóme? Atão nã veis que aquêli éi o dú crocodiiliúúú!

-Olhãn! Pois éi?!!

-Vemones sentári lá home, que estou cansadãn de ficári ein pééíii?

E assim cá o rapaz teve ocasião de mais uma vez partilhar o espaço com os três amigos que não lhe largavam a peúga durante esta interminável saga em busca do crocodilo perdido!

-Olá! Mandei vir meia dose de caldeirada de peixe... é o prato dia... pode ser do mesmo prato para vocês?

-Aiii que esti senhôri é tãn simpátii?!!!

-Do sê pratu nã como... mas pode sêri da mesma comidãn, sim sinhôrin.

-Atã, qué do crocodiliúúú?

-Não me falem nisso! Uma dose de caldeirada para vocês dois deve chegar... não?

-Aiiii! Lá issúú é qui chêgân e sobrãn?!

-Aííí qui esti o senhori têin as arranhadelãns da cara, da testãn e dos bráçuns tão encarniçadãns? Até parece que infetarãum! Ponhãn-le tinturãn?!

-E onde arranjo a tintura ó dona? Isto vai secando...

E assim aconteceu... 
Pedida mais uma dose de caldeirada de peixe regada com uma garrafinha de sete decilitros e meio dum branco Terraços do Tejo 2010 bem geladinho e a senhora por ora rosadinha, com o braço esquerdo amparando a criança ao colo satisfazendo-se com meia litrosa de água bem portuguesa, foi-se compondo o repasto... De barriguinhas reconfortadas, era imperioso fazer conversa... encontrando assunto para quebrar o silêncio que se tinha instalado naquela mesa cercada por três esfomeados e um pingente.

-Contem lá... Já pescaram muito?

-O quêi?!

-Sim... Sendo vocês pescadores é natural que tivésseis apanhado qualquer coisita...

-Ó senhõriii! Nóis nã sermes pescadôris?!!! Nós sermes vendedores ambulântis!!!

-Ah não? Desde que vos conheci, sempre me convenci que fôsseis pescadores!

-Orãn essãn? Atã o senhõri nã sabiãn qui nós somus cigâânus?

-Nunca me passou tal coisa pela idéia! Vocês são ciganos? Qual é a sua terra?

-Nasci no Aveláááriii!?

-E a senhora?

-Aiii! sou aqui de pertúú! Sou do Pedrógão Grâããndiiii!!!

-Que engraçado! Vocês fazem vida da venda é?

-Sim senhôri! Nós vendemes trapinhúús, camisolinhãns, calcinhãns, cuequinhãns, sutiâns, sapatinhus e por aí adianti!

-E... onde têm a loja?

-Ali na bagage da carrinhãn! Andemes de terremterrãn a vendéri de portá portãn e fazemes alguns mercádis da regiãum! Fazemes vendãn ambulânti!

Depois dos cafés, o garçon trouxe a dolorosa...

-Dê-me cá isso...

Dois pães, uma água, uma garrafa de vinho, uma dose e meia de caldeirada e dois cafés... a casa houvera apresentado uma conta acessível...

-Aceitam pagamento por Multibanco?

-Temos sim...

-Deixem-se estar sentados... que eu já volto...

Pagando a continha por inteiro... assim cá o Cidadão abt sentiu-se deveras realizado neste segundo dia de frustrações...
Regressando à mesa... rematou ao casal de convivas:

-Está pago!

-Aaai mas o senhõri féis uma coisan dessãns?

-Fiz! E com muito prazer!

-Aiii senhôôriii!!! Que deus lhi pááguiiii! Tomi lá um beijinhúú!

-Ai Mariân, vêi lááá nã testiquis???

Aquele beijo doera bastante... fora aplicado sobre uma das chagas na face esquerda cá do desafortunado Cidadão...

-Fique descansado caro amigo que não lhe roubo a sua Maria.... Que sejam um casal sempre unido... e muito felizes!

Todos saídos do repasto, procedera-se às despedidas não fosse o caso da Maria se vir a afeiçoar cá ao rapaz ou ser mote para uma crise de ciúmes... enquanto o casal descia a ruela estreita... O alto da alva escadaria emanava um cheiro intenso a cera queimada... Cá o Cidadão... subiu...
Uma torre sineira em pedra xistosa e de formato pentagonal destacava-se no largo ladeado por muretes e pérgolas de vegetação... 
Pelos traços arquitectónicos... decerto que seria uma construção Templária...
A paisagens eram magníficas em Águas Altas... a península de casario branco avançava para o rio... 
Tanto de um lado como do outro se avistavam massas de água encravadas entre os montes adjacentes cobertos de pinhal... um nó atravessou-se-lhe na garganta... este praça sentia-se frustrado, gorado nos seus intentos... tudo lhe corria ao contrário...militares em exercício confundidos com gaviais, uma casa que afinal não era viveiro para crocodilos, uma carrinha que não era a incubadora ambulante, uma velha fanhosa que não dava recado de lagartos enormes, o pesadelo tido com um crocodilo ... um crocodilo insuflável e agora um homem rã que se houvera confundido com o sáurio...
Admirando tão belas vistas, ganhou vontade de desatar a chorar... uma enorme força saltava-lhe da alma para o peito e do peito subia à garganta... as chagas inflamadas, ardiam-lhe... tudo corria mal... cá o Cidadão olhou para trás dando com umas senhoras de lenço à cabeça e vestidas de escuro surgindo sorrateiramente por detrás da negra construção metálica assemelhando-se a uma churrasqueira, colocada junto à parede da igreja e de onde saíam lufadas de fumo negro... Foi até lá... De momento estava sozinho... que esquisito... aquilo albergava uma colecção de velas acesas espetadas nuns copinhos cuja cera ia escorrendo para um gradeamento metálico... Ali sim... escondido das vistas indiscretas, desatou a chorar baba e ranho até mais não... era preciso descarregar... chorar fazia bem...
De súbito, no interior da negra estrutura formou-se uma fumarola branca e muito brilhante... assemelhando-se a uma pequena nuvem...
Sobre essa nuvem surgiu uma figurinha muito engraçada, coberta com vestes douradas e um manto roxo, cuja cabeça era adornada por uma coroa real... 
Cá o rapaz olhou para trás... na esperança de descortinar o engraçadinho que tinha o projector... mas nada... népias... nicles!
-Porque choras, criatura de Deus...

-Quem, eu?

-Sim, tú!

-Mas a bonequinha... é a sério?

Aquela figura falava e tudo! Metera conversa com este desgraçado! O sacana do vinho branco era forte como o camandro e estava a dar a volta ao miolo! Nunca tal tinha acontecido!

-Não sou uma bonequinha... sou a Mensageira de Deus...que concebeu Jesus Cristo Redentor...

-Desculpe... pensei que fosse a linda princesa Leia Organa aprisionada pelo malvado Darth Vader... na estrela da Morte!

criatura de Deus! Isso é pura ficção científica... do realizador George Lucas...

-Assim sendo, quem é a bonequinha?

 -Sou a Senhora da Conceição, Mãe de Jesus e a ti, criatura, confundi-te com o meu filho primogénito...
-Mas então... ainda não percebi qual a razão da sua presença neste local...

-Sabes, criatura de Deus... as pessoas acorrem até mim em preces para que lhes dê graças na cura dos males do corpo e da alma...

-Ai sim! Ai sim? Olhe!!! Eu trago um problema para resolver!

-Confessa-te... filho de Deus, diz-me do teu problema...

-Sabe, Senhora da Conceição, mãe de Jesus Cristo... ando à procura de um crocodilo perdido nas águas desta albufeira...

O choro cá do rapaz tinha aliviado, levando a crer que se encontrava um milagre divino em progressão...


-Ainda não me dissestes quem tú és, criatura de Deus...

-Ah! Pois! Sou o Cidadão abt!

E aquela Senhora, ao desafio com este desafortunado, desatou num enorme Pranto!

-Senhora... E vós... porque tão desalmadamente... chorais?

Conseguiu questionar cá o rapaz enquanto com as costas das mãos, ia limpando as lágrimas salgadas que lhe atiçavam as feridas do rosto...

-Porque contigo, criatura de Deus, já não há nada a fazer... nem milagre que te valha...

Foi assim que ambos se juntaram num choro sincronizado... enfim... num enorme pranto sem fim... 
A Senhora do Pranto e um senhor em busca do crocodilo perdido discretamente entalados entre uma parede branca de Igreja e uma estrutura que abrigava as preces do vento e das vistas indiscretas... se quereis saber mais desta interminável epopeia, aconselho-vos a fazerdes uma visita a Águas Altas a que os nóias dos autarcas designam por “Dornes.” De facto aquelas paragens fazem milagres ao corpo e à alma dos mortais.
Cansados de ler, mas felizes... não é verdade? 
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