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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

sábado, 6 de julho de 2013

CATA-VENTO



CATA-VENTO

  Fazia uma canícula de invejar a Amareleja quando este Cidadão tentou resguardar-se dos raios ultravioleta bem acima dos 40 graus centigrados, num recanto sombrio e mobilado a mesas de pic-nic, ali para as bandas da Esplanada 1º de Maio... mesmo à rectaguarda do posto de turismo.
Um filhote de cuco arrulhava discretamente enquanto a restante passarada piava baixinho entre o folhedo dos plátanos, não fosse chamarem as atenções dos alérgicos às árvores ou serem topados pelas avejanas de quem arrecadariam repetidas lavagens filosóficas de se ficar tal e qual.
Máquinas devoradoras de distâncias roncavam na Avenida 25 de Abril enquanto leves sopros de brisa incomodavam o folhedo amarelecido que se desprendia das galhas. 
Parecia impossível como o pequeno espaço conservava temperaturas amenas, nada comparáveis ao braseiro que se fazia sentir na restante esplanada onde saltitavam pardalitos que não conseguiam manter as patitas firmes sobre o escaldante asfalto. 
Estava portanto um calor do camandro!!!
Fazendo contas de cabeça, o Cidadão encucava no quinhão que lhe caberia para liquidar trinta oliveiras centenárias adquiridas pela gastadeira municipal...
Se facturadas ao mês, caberiam aproximadamente quatro euros a cada agregado familiar a descontar no concelho de Abrantes e não fosse o negócio estar publicado no portal "BASE.gov" até os munícipes apolíticos poderiam acreditar que os cinquenta mil euros mais IVA e uns pózes de logistica e replantação, resultariam de colecta feita entre os pais dos alunos da Escola Básica Maria Lucília Moita...
Sob intenso calor, o tronco do plátano ia rangendo e emitindo breves estalidos...
O marulhar da ramagem assemelhava-se ao compasso de carretos metálicos jogando entre si, alternado com um ruído semelhante a cabos de aço chicoteando metais, semelhante ao ranger dos navio acostado em porto seguro...
Querem lá ver que o plátano ganhou vida?!
O Cidadão já observara plantas carnívoras mas à excepção das protagonizadas nas aventuras do Flash Gordon, as demais são de diminuta estatura, contento vistosos pólipos que deixam os gulosos insectos completamente grudados à substância viscosa contida nas folhinhas...
O plátano insistia em emitir pequenos ruídos metálicos, promovidos à primeira ordem cognitiva deste munícipe...
Pois...
Na aldeia do Pego o município erradicou trinta e dois destes espécimes por os entender nefastos para a saúde pública, o que faz sentido…
Segundo consta, as raízes de meia dúzia avançavam por debaixo das moradias enrolando-se lentamente às canalizações e infiltrando-se nos esgotos das casas de banho...
Azar o deles, em vez de se meterem nas casas do comum contribuinte, foram fazer cócegas a um administrativo mor que tratou do seu processo de erradicação bem como acenar com os mecanismos judiciais contra quantos se manifestarem contra a desarborização do Largo do Sobral…
Em certa ocasião, há bué da anos, este Cidadão leu qualquer coisa relacionada com a literatura negra que constava de plantas vorazes, originando a que durante um boa parga de meses tivesse desenvolvido botanofobia a heras, buganvílias, glicínias, roseiras, jasmim, madressilva, passiflora e outras raízes aéreas, exceptuando as vides...
"Trepem, trepem trepadeiras! Trepem, trepem pelo ar! Que de plantas rasteiras, está a terra a abarrotar. Trepem, trepem trepadeiras! Trepem, trepem sem parar! E se o muro acabar, trepem, trepem trepadeiras, por um raio de luar."
As consequências foram nefastas ao ponto de evitar montar as canadianas perto de vegetação rasteira e sempre que ia à casa de banho... não podia passar sem vistoriar os gargalos dos sanitários!!!
Na deita não esquecia passar uma vista d’olhos por baixo da cama...
Uma época horrível em que os vasos das plantas decorativas foram parar ao galinheiro, não só porque a fotossíntese podia comer o oxigénio da habitação como a polinização poderia asfixiar um desgraçado durante o sono, ao ponto de duas pedreses aparecerem completamente esventradas e suas penas espalhadas por todo o lado, ao que a Companheira deduziu que tivesse sido trabalho de doninha, explicação que nunca venceu o cepticismo deste Cidadão...
As coisas ganhavam consistência, recordando a época vencida, em que o Smirnoff foi substituído pelo Zoloft e o médico desaconselhou a literatura negra...
Arregaçou discretamente os fundos das calças, não fosse as raízes dos plátanos já lhe terem tomado o pulso aos artelhos...
-E o jornal do Crime, Senhor Doutor... Poderei por ventura ler o Jornal do Crime?
-Esse muito menos...
-Gaita!
E foi assim...
As folhas ressequidas cambalhotavam ao sabor vento que se levantava na calçada...
Sacudindo as botas, nada de novo... apenas um pombo em voo rasante veio pousar no murete dianteiro, observando atentamente as manobras furtivas deste cidadão… o columbus apresentava ar polido e elegante, dando para suspeitar se por acaso não seria um dos tais colaboradores do município tubuco que andam por aí observando tudo…
Ou por exemplo… um agente da Polícia Informática de Defesa do Estado!
Ali pousara outro...
Se bem se lembram, nos tempos d’antando houve uma polícia destinada a sufragar, investigar, perseguir, capturar, deportar e eliminar quantos manifestassem insurreição ao regime, sustentando as investigações nas dissidências ideológicas.
Hoje em dia os investigadores preocupam-se com o combate às opiniões difundidas via internet que sejam avessas aos sistemas institucionalizados de cariz azeiteiro, tentando encontrar elementos de prova que eventualmente se possam coadunar à vertente penal de modo a intimidar os inconvenientes fazedores de opinião.
Neste contexto até um incivilizado cuspir para o chão poderá ser processado como perigoso cuspir para o ar, bem fazendo lembrar os tempos da velha senhora em que um papagaio foi de cana por repetir trechos antagónicos ao regime e que ia ouvindo na via publica: 
Eram frases frequentemente saídas do bico do papagaio...
Tinha-se a ave transferido para a nova residência do regime totalitarista quando de tão vistoso,  um galo a cumprir pena por violação sexual confundiu o Osório com uma galinha, enveredando pelos galanteios do arrasto da asa…
Farto de tanto assédio, certo dia berrou-lhe o Osório:
Arregaçando as bainhas das calças e tudo parecia igual...
Os estalidos compassados faziam-se sentir cada vez mais presentes...
Agora parecia que tudo se passava na cabeça, ou melhor, por cima da cabeça do Cidadão...
Ali mesmo ao lado, o abrigo da paragem dos autocarros mostrava indícios do apetite voraz do plátano... 
Pelo aspecto da coisa, o quer que seja, terá um apetite voraz e força de mandíbulas capaz de trucidar o braço humano numa só trinca!!
Seria necessário agir com bastante cuidado...
Erguendo a vista muito discretamente para não surpreender nem se deixar surpreender reparou que algo se movia bem acima da copa da árvore...
Aquilo parecia o pescoço dum réptil, se é que têm pescoço... vindo à mente imagens de colossais serpentes outrora confrontadas nas estepes africanas...
Desde que andara à cata do crocodilo perdidojamais sentira arrepios em tempos quentes... 
Quer dizer.. quando surgem resquícios de paludismo também é assolado por   idênticas sessões...
O vulto progredia lentamente entre as clareiras de luz que a folhagem deixava escapar no solo, fazendo-se ouvir um reco-reco...
Talvez uma cascavel...
Foi espreitando cautelosamente entre a folhagem para não chamar a atenção daquele...
Bolas!
Era o braço da grua que estaciona na obra estagnada, girando ao sabor da brisa e passeando o enorme guincho suspenso sobre a cabeça dos transeuntes que naturalmente se deveriam precaver com capacetes de construção civil...
Saindo do sombrio abrigo, este praça dirigiu-se ao tosco paredão defendido por chapas metálicas que são habituais na paisagem urbana do concelho, lá estando cravada uma panóplia de sinalética obrigatória na prevenção de acidentes...
Pela lógica, todo o espaço subjacente à rotação do braço da grua estará sob a esfera jurídica da empreitada, concluindo-se que a Esplanada 1º de Maio careça de medidas preventivas de sinistros, como por exemplo painéis afixados no retiro das merendas, abrigo da paragem dos autocarros e limítrofes...
Junto ao Palácio da Justiça, cá o Cidadão dedicou algum tempo na observação da grua destravada cujo braço apontava a direcção da brisa, como se cata-vento fosse...
Pois é!
 Tendo Abrantes a maior pêra da Europa, a maior árvore de natal do país e o recinto escolar do mundo com a maior concentração de oliveiras centenárias, que nem nas arábias, também esta santa terrinha merecerá o epíteto de possuir o maior cata-vento do país! 
É tudo à grande e à portuguesa!
Do primeiro piso do palácio das injustiças melhor se avistava a evolução da grua abandonada no bloco de betão que rasga o pano de uma muralha de valor substancialmente inferior a trinta oliveiras cinco vezes mais recentes...
A vista do conjunto semi edificado no declive reportou o Cidadão a tempos idos, algures junto ao rio Nabão...
 Frei Serrano traria as fraldas agarradas ao rabo quando em Thomar havia uma esplanada protegida por frondoso arvoredo onde os seres pensantes esqueciam o tempo em amenas cavaqueias, redundando prejuízo para o negócio da pastelaria adjudicada, na medida em que o consumo para uma tarde de ananases se restringia ao café e copo d’àgua...
Vai daí, o industrial que explorava a planura resolveu cortar um centímetro nos pés dianteiros das cadeiras, permanecendo os assentos discretamente inclinados para diante.
Repousando os músculos lombares sobre o conjunto ergonómico os veraneantes que demandavam a aprazível esplanada, solicitavam bens de refrescante consumo e quanto mais se relaxavam, mais os corpos perdiam firmeza, primeiro descaindo no plano vertical e de seguida as nalgas deslizavam sobre os assentos, acabando com as barrigas encaixadas debaixo das mesas.
Cinco minutos escoados e a fim de obterem posição algo confortável, os clientes teriam de se chegar para riba, interrompendo a descontra...
Já a modorra se lhes colava aos corpos e tinham de repetir o inusitado movimento, quebrando o estado hibernativo...
Ao fim do terceiro ensaio, formavam ideia em rever as montras da Corredoura delegando as filosofias para posteriores sessões e libertando os lugares a favor de diferentes consumidores.
O industrial descobriu a fórmula perfeita de induzir rotatividade nos fregueses, rentabilizando o espaço sem ferir susceptibilidades...
Indagará o ciberleitor sobre a relação entre este assunto e o bloco de betão armado embutido a meio pano da muralha.
Bora lá!
É que ambos assentam em planos inclinados e consequentemente ambos terão tendência em escorregar, sem no entanto ferirem susceptibilidades aos fregueses dentro da tal rotatividade...
Suponhamos por exemplo que devido à densidade da massa envolvida na construção do mercado faraónico, os alicerces fossem insuficientes para travar o deslizamento do túmulo?
Nesse prisma o construtor adjudicado teria que desmantelar o imbróglio para melhor poder abrir outros alicerces consistentes de modo a que o Bunker da Céu não deslizasse pelo declive... daí até nenhum aventureiro aceitar pegar na escaldante batata podre por tuta e meia, seria um truz...
Como cá o Cidadão escreveu, será apenas uma conjectura, uma suposição, claro!
Para concretizar a obra de arquitectura tumular que decerto atrairá bastante turismo, bem o Barão Vermelho poderia criar uma empresa fantasma para recrutamento de mão-de-obra espectral, promovendo inscrições por via electrónica, criando bancos de dados, vendáveis para diversos...