Primeiro episódio.
Como a vida não está fácil, este praça resolveu trocar duas semanas de férias nas Caraíbas por um dia bem passado nas margens da albufeira do Castelo do Bode...
Subjugando o selim da máquina vermelho Ferrari atestada de véspera e elevando o piston ao red-line, fez-se à estrada na sua Famel Coty de duas velocidades, devorando o alcatrão a uma velocidade de sessenta quilómetros por hora, ressalvando as subidas, claro! O trânsito era escasso à exeção de uma coluna de viaturas militarizadas que o ousaram ultrapassar na rampa entre a Amoreira e Martinchel...
Naquela madrugada em que o astro rei prometia confrontar os seus raios com os raios cromados da Coty, este Cidadão que não pára de ter ideias maradas, de penico amarelo enfiado na mona, vestindo uma camisola negra de alças, de...
...estampados nos peitorais, pois havia-los trocado pela camisola negra com a imagem da Nossa Senhora de Fátima envergada daquela vez que foi em demandas da mamôa...
Ooop’s, não era esta a imagem... mas a que se segue...
Desculpem aí qualquer coisinha...
Pois bem, abaixo da cintura uns calções de banho brancos, sarapintados com corações grená e as havaianas entaladas entre o polegar e o maior completavam o conjunto, não esquecendo a pequena mochila cor-de-rosa desbotada, com o ursinho Pooh, resgatada aos Júniores, dos tempos em que frequentavam o infantário...
que albergava o toalhão de banho, o chapéu à cowboy e o protector solar... como aquilo era de marca, ia durando.
Devido à velocidade infernal, o vento tentava arrancar os tufos dos sovacos e desbastava a peitoral mata que espreitava sob a cava frontal da camisola.
Deixando de satisfazer o alter-ego e passando àquilo que interessa, nessa celestial manhã o destino eram as águas cálidas da albufeira do Castelo do Bode... e com o motor a ferver, conseguiu ir até ao parque náutico da Aldeia do Mato... afinal àquela hora já o espaço da piscina flutuante se completava com bué da veraneantes, o que motivou este rapazola a estacionar a Coty no parque sem esquecer de a amarrar a roda da frente com uma corrente a um dos postes de madeira e muito menos desconhecendo o que lhe iria acontecer durante este vertiginoso dia.
A pé, deslocou-se mais para diante e besuntando-se com o óleo do protector solar, foi-se estender ali para a margem no sopé da mamôa... sobre a toalha com a gaja boa impressa. Teria o sossego garantido.
Ora voltado de barriga para cima, reparou que a proeminência da dita cuja era evidente, limitando a linha do horizonte, não permitindo visualizar o que acontecia para além do umbigo.
Ná... houve que se virar de barriga para baixo... assim estava melhor...
A Companheira não se quis envolver nesta ociosa aventura pois da última vez, indo à pendura na Coty, deu um tralho do camandro, ficando com umas postelas nos joelhos e nos cotovelos por sarar... estando de momento a ganhar coragem para novas viagens...
Foi mergulhado em tais pensamentos que cá o praça se passou para o mundo onírico... não sabendo muito bem o tempo em que se manteve a ressonar sonoramente... com umas apnéias pelo meio.
Tendo os calcantes virados para o limite da margem, nem se apercebeu do que se estava a desenrolar bem perto dele... pois nunca se sabe exactamente o que acontece por debaixo daquelas águas infestadas de lagostins e achigãs... De quando em vez a actividade onírica era interrompida pelo ruído de um barco a motor e pouco mais...
A certa altura sentiu que algo lhe roçava na barriga duma perna, não se recordando bem de qual... passado outro bocado, novo roçamento... e assim sucessivamente...
Estremunhado, acordou em sobressalto pois veio-lhe á idéia aquela noticia que tinha passado na TV sobre um crocodilo que fora avistado na albufeira!
Qual gato em queda livre, este desgraçado deu um salto rodopiando sobre si, e sentado sobre os calhaus sentiu uma desagradável dôr no cóxis, dando com um lulu branco, bem tufado na zona das patas, orelhas e cabeça, que ganindo desalmadamente, fugiu por aquelas fragas adiante...
Coitado do bicho, se calhar este rapaz tinha-lhe dado um pontapé sem querer... Com a maldita fotofobia entranhada nas córneas, olhou na direcção oposta reparando na presença de um bife de meia idade que por ali deambulava e que pela expressão facial um tanto ou quanto engelhada, mais dava a idéia de ser o dono do bichano... Este praça um pouco embaraçado com a situação, apontou para o monte de pêlo branco, metendo conversa com o mister, no seguinte tom:
-Olá!... Que cãozinho tão querido... o bichano é seu?... Como se chama essa riqueza?
-Fuck it!
Pois... Bem se via que o brithish não sabia falar português... apenas arranhava umas coisitas da língua lusa...
Foquit... foquit... foquit...???!
Ah! “Foca”!
O cãozinho chamava-se “Foca”!
Que nome engraçado para se dar a um bichano tão querido... quando cá o Cidadão abt oferecer um destes animais à Companheira, também lhe vai atribuir o nome... de “Foca”... A ver se não esquece... “Foca”...
Ali há tanto tempo deitado...que grande tédio, meu Deus!
Com um temperamento hiperactivo, como é que este praça se aguentaria tanto tempo parado quieto...
Ná...
Havia que ir fazer qualquer coisa...
Por exemplo... Ir à procura do crocodilo... pois é!
O crocodilo que deu nas notícias!
E se o pensou, melhor o fez... toca de enrolar a garota boa estampada no toalhão, enfiar tudo na mochila cor-de-rosa com o ursinho Pooh, soltar os cavalos à Coty e ala que se faz tarde!
Com a povoação da Aldeia do Mato à esquerda e sem destino traçado, foi parar ao delta da Cabeça Gorda porque daquilo que tinha assistido no National Geografic, os crocodilos gostam de estagiar banhos de Sol nas margens dos deltas...
Vai de estacionar a motoreta vermelha Ferrari debaixo de uns tojos e de calções brancos com corações vermelhos e havaianas nos pés, com as suas parcas dioptrias, toca de sondar as margens... sem imaginar que se estava a meter numa alhada... mas...
Nada de especial...
Só o marulhar calmo das águas lambendo os calhaus...
Ao fundo, um lagostim trepava a encosta...outro mais adiante... de resto... nada... ah... um terceiro arranhando as dedos dos pés deste praça!
Ah! Filho da mãe!!!
“Levaste-me cá com uma sarrafada que fostes parar bem no meio das águas”!
Foi assim que pela primeira vez na vida, um crustáceo atrevido ultrapassou a barreira do som!
Ora, mais acima uns pinheiritos desbastados pelo fogo de há uns anos, uns eucaliptos, umas silvas... uns tojos e assim... mais além... adiante...
"""Mas... o que seria aquilo?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?
"Um arrepio atravessou todo o corpo deste praça!!!
Era incrível!!!
Chegando umas dezenas de metros mais perto e lá estava o dito cujo animal muito quieto, no meio da vegetação... dissimulado na sombra, debaixo dos tojos!!!
O que fazer???
Chamar a guarda?!!!
Não! O bicho entretanto mergulharia nas águas, desaparecendo de vista!...
Correr ao campanário da igreja das Fontes e tocar o sino a rebate??!?!
Assustaria o aligátor!!!
Sim porque aquilo tanto parecia ser um crocodilo... como ser um jacaré!
Um pau!
Era isso!
Sempre houvera dizer que para nos defendermos do ataque de um crocodilo era enfiando-lhe um pau na bocarra aberta, momentos antes do tipo abocanhar!!!
Ora um pau! Um pau... porra...porra...porrinha... Um pau também seria útil para passar ao possível plano “B,” que consistia em assentar umas valentes arrochadas no lombo e na cabeça do réptil de modos a pô-lo atordoado, caso a primeira tática falhasse!!!
Ora... nem a propósito!...
Aquele troço de pinheiro vinha mesmo a calhar!...
Devagar, muito devagarinho...evitando movimentos bruscos que pudessem chamar a atenção do animal... este rapaz aprochegou-se do madeiro... agarrando-o firmemente com a mão direita...
E agora, faltava a coragem... era preciso ter muita coragem e avançar... o tipo mantinha-se bastante quieto debaixo da folhagem, pensando que cá o Cidadão abt não o teria avistado...
Mas... carais... carais...
Além estava outro!
Ena pá!
E aqui bem perto do Cidadão, mais um!
Quatro!
Quatro ao todo... não...
Ali outro!
Ena, tanto crocodilo!!!
Vendo bem a coisa, este praça estava cercado por eles!
Todos tão quietinhos que não houvera dado conta de um viveiro de crocodilos!
Era o ninho!!!
Estava metido numa grande alhada!!!
E agora, há que dar às de vila diogo... ou desancar à paulada nos bichos??
A loucura é uma virtude e se morresse trucidado pelos bicharocos sempre ficaria para a história como o herói que detectou um viveiro de crocodilos na albufeira do Castelo do Bode, morrendo com glória numa luta desigual!
-À caaaarrgaaaa!!!
Foi desta forma que este praça, de pau em riste se atirou áquele que lhe parecia mais fracote...
Mas... c’um raio!
Os gajos vistos mais de perto pareciam estar camuflados!!!
E os olhinhos luzidios aparentavam ser de rostos humanos!!!
Mas cá o rapaz não tinha tomado nenhum psicotrópico!!!
Crocodilos com rostos humanos!!!
Aquilo decerto seria uma metamorose!!!
De G3?!
Ai... agora os crocodilos usam G3?! Como os tempos mudaram!!!
-Oh! Pá! Pára mas é lá com essa merda e desanda daqui para fora que nos estás a perturbar o exercício!
“?!?!?”
Uma voz feminina!
Um crocodilo fêmea?!
De súbito, à frente do Cidadão saltou uma moçoila militar de faixa dourada na presilha do bolso do dólmen!
Enaaa!
-Éééé... Lááaáá!
Aquilo eram os militares que estavam para ali todos camuflados... no meio daquela vegetação!!!
Que barracada do camandro!
-Desculpe, a menina não viu por aqui... um crocodilo?...
-Não goze, senão vou ter que o deter!...
Foi tempo de largar a vara, dar meia volta e... volver! Com um sorriso amarelo, claro... foi hora de pegar na Coty, dar o impulso ao pedal e de penico amarelo enfiado na cabeça, a mochila rosa às costas e a camisola negra de manga à cava com os IRON-MAIDEN ao peito, foi de zarpar... quanto antes!
Zarpar dali para fora e desta crónica também, para que o pessoal não se queixe que os post’s são extensos e enfadonhos de se ler...
Como tal, cá o Cidadão abt resolveu dividir esta saga;
...por episódios, tantos quantos as averiguações no terreno, as sugestões, a criatividade, o humor e a imaginação forem ditando...
Para continuar a ler o Crocodilo II clike aqui!
9 comentários:
Tá hilariantemente espectacular!
Aguarda-se com expectativa os proximos episodios desta saga da busca dos crocodilos perdidos do bode.
Mas não tenha duvidas da sua existençia dado que os tenho avistado varias vezes e até ando a ensinar habilidades a um dos bichos foragidos.
Desculpe-me este aparte mas o caro cidadão deveria inserir um post a informar os leitores que nenhum animal foi maltratado durante a cronica, dado que bem vistas as coisas isso foi pontapé em tudo que mexia, mais grave no pobre cão foca que provavelmente lhe salvou a vida porque em inglês tás Fuckit, quer dizer "crocodilo junto ás bolas".
Na expectativa de novos episodios sauricos.
Abraço e força na tecla.
Rir,rir, rir, foi rir do princípio ao fim. Um humor infindável, o deste cidadão! Vá-se lá saber se alguém largou um crocodilo na albufeira... continue com a sua saga, por favor!Para blogueiro, está mais do que óptimo, desmpenhando as suas funções.
Excelente sátira. Aguardo expectante pela continuação da busca!
Dr. Lello!
O senhor comentador será mestre agrónomo ou urologista...talvez...
Veja bem que cá o Cidadão vê-se à rasca para encontrar um sáurio que seja e o amigo até os amestra!
Com a rotação, o “Foca” foi vitima de danos colaterais...
Quanto ao crustáceo, cá o Cidadão dispensa-o no arranjo das unhas dos pés porque para isso tem a Companheira que o auxilia na difícil tarefa uma vez que este praça tem uma certa dificuldade em lhes chegar com as mãos...
Repare na alta nóia, ao dar entrada em caselas com as unhas aparadas!
Como é que conseguiria convencer a Companheira que tinha sido um serviço dos lagostins?
Hein?
Os próximos episódios perfilam-se mas há falta de tempo para os digitar.. logo vai... logo vai...
Muito obrigado pelas suas quão preciosas explanações... senhor dos Beiramar!
Estimado Joaquim...
Cuidado com esse diafragma!
Este praça não quer ser responsabilizado por uma possivel rotura entre o tórax e o abdómen!
Obrigado pelo alento e não deixe de comentar, senão este Cidadão esmorece!
Calma Artur!
Calma!
Olá cidadão abt !
Ai os crocodilos!
Nos tempos conturbados que correm ,o melhor mesmo é deixar de pensar em Moodys ,impostos e afins ...é só passar por aqui e rir até partir.
Acredite que faz bem à alma!
Abraços e parabéns.
Maria Marques
Ora viva Cidadão abt:
Regressando de umas férias Económicas e Ecológicas aqui estou numa de expectativa com o desenvolver desta aventura em Busca do Crocodilo Perdido.
Isto tudo lido com gosto é como estar dentro de uma aventura real, o bicho não aparece, as voltas são de partir o côco a rir e tudo o mais é o imprevisto de um final sabe-se lá como acabará.
Mas será mesmo verdade que ande por lá algum crocodilo?
Não será um Peixe Gato?
Sim, pois pelo que alguém afirma é isso que por lá anda mas, esperemos que o final da história nos possa revelar o que defacto por lá ande.
Acho que talvez vestindo um escafandro e ir até ao fundo daquelas águas pudesse saber o que na verdade por lá vagueia.
Que por lá existem grandes bicharocos isso é uma realidade, resta agora saber qual a natureza de tudo o que por lá exista.
Grandes nóias que por aqui passam onde o mais sisudo tem que arreganhar a taxa mesmo que não queira e, é caso para se dizer:
Nunca digas que desta água não beberei porque ás tantas, estando uma pessoa a dar banho à minhoca naquela zona, poderá saltar lá das profundezas esse bicharoco e pimba, já foste.
Quem sabe se daqui a uns tempos não haverá muitos bichinhos desses espalhados pelo rio abaixo e desembocando no Rio Tejo possam subir por ele acima, galgarem o açude vindo até ao mar da canoagem!..
Era cá uma cena do caraças não era?
Mas ficando na expectativa dos próximos episódios deste me vou até ao seguinte que as voltas já vão noutra direcção.
Xau, boa caçada e bons pedantes ao lado da 2 V.
Olá, Aqui-Ali-Acolá!
Quando sugeriram que cá o Cidadão projectasse o sentido de humor num blogue, evidentemente que não seria para deixar os ciber's decepcionados!
Umas folgazitas no trabalho são no que dá!Há que aproveitar esses tempos para despejar a imaginação na Web sem descurar o aspecto crítico das questões e as noticias dos avistamentos de um pseudo-crocodilo no Zêzere foram uma deixa excepcional.
Em torno cá do Cidadão não se fala noutra coisa quando se quer boa disposição e as ideias vão surgindo em catadupa como as cerejas!
Depois é colocá-las no topo do bolo!
O siluro é uma hipótese das mais viáveis mas enquanto não for provado o contrário, nunca se sabe o que esconde a imaginação nem as águas tão profundas onde estão mergulhadas imensas ruínas de habitações, moinhos, azenhas e aldeias completas... Ao mesmo tempo entre outros objectivos, esta busca constante serve para satirizar os alarmismos e os mitos rurais e urbanos criados pelas pessoas.
Obrigado pela sua passagem, ciber Aqui-Ali-Acolá!!
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