O CROCODILO III
Terceiro episódio
De tão compenetrado estava... que este Cidadão se esquecera desligar o motor da Coty...
Apeando-se, os seus olhos não se descolavam daquele templo tão simples e singelo... Só o raio da portada é que destoava...
Ah, pois... você que apenas agora tomou contacto com estas crónicas maradas que sobrevivem há três anos, queira saber que de momento este praça não o pode atender porque vão decorridos dois episódios em que anda em busca do crocodilo perdido na Albufeira do Castelo do Bode!
Tendo em conta que o amigo se encontra para aí sentado frente ao monitor em vez de praticar exercício físico, o que lhe faria muito melhor à saúde, este rapaz tem o prazer de o convidar a ler o primeiro e de seguida, o segundo episódios que antecedem o presente, caso contrário não saberá enquadrar-se no enredo desta treta!
Registe-se porém que a leitura deste terceiro episódio é desaconselhada a pessoas sugestionáveis, a cardíacos e a menores de idade, pelo que este praça não se responsabilizará quanto aos danos dai resultantes.
Pois bem, o coreto ocultava uma senhora bastante idosa, que para abreviar esta crónica, vamos apelidá-la da “Velha,” que enchia um cântaro de barro numa Fonte ali próxima... de facto ao encher o pote, metade da água escorria para fora porque olhava atenta em direcção a este praça... bem sabia que tinha um bom visual e era bastante jeitoso, nas nunca se tinha apercebido que até as raparigas mais idosas o admiravam assim tanto...
-Chrhrum crhum...
Isto fora um pigarreio com o intuito de acertar as cordas vocais...
-Boa tarde, senhora...
-Boa farde...
Neste momento cá o praça apercebeu-se que aquela velha poucos dentes teria...
Procuro um crocodilo...
-O que é ifo?
-É um lagarto enorme... aí assim com dois metros e tal de comprimento...
Explicou cá o Cidadão enquanto exemplificava esticando os braços de par em par, na horizontal e de palmas das mãos enconchadas!
-Afão o fenhor não fira o cafacete?!
-Ah pois,... desculpe!
Só agora houvera reparado que se tinha esquecido do penico amarelo enfiado na carola! Colocado o dito cujo sobre o retrovisor da máquina, voltou à carga... um pouco desconfiado com o que a velha manuseava enquanto o cântaro cheio de água, extravasava para o chão.
-Isso que a senhora tem nas mãos... são ovos de crocodilo?
-Não fenhor.. fão ófus das minhas galinhas!
-È que dizem que há um bicharoco desses ali na Albufeira do Castelo do Bode...
-Fá eu nunfa houfi falar nifo! Há por aqui uns lagartos nas árfores mas fão fastante fais fequenos!
Dali o Cidadão não se safava... para criar mais confiança ainda perguntou...
-Esta capela...está pr’ aqui tão isolada, porquê?
-Óh fenhor! Fem fe fê que não é de cá! Isto é uma história muito longa! Antigamente havia um fastor que andava por aqui com um refanho de ofelhas até que um dia reparou que elas comiam os tojos todos menos um mais verde e viçoso... quando se afroximavam dele destavam a esfirrar como se aquilo tivesse fimenta!
-Era o crocodilo?!!
-Não era, fão fenhor. Debaixo defe tojo que era rodeado for muitos alecrins, o fastor encontrou uma fonequinha muito bonita, protegida pela sombra.
-Era o crocodilo?!!
-Ó hóme, cale-se e oiça! Fegou nela, enfiou-a no barrete, levou-a para casa e escondeu-a numa arca! No dia feguinte quando foi à frocura da foneca, ela já lá não estava! Finha desafarecido. O fastor levou as ovelhas para o mesmo sítio e voltou a encontrar a fonequinha debaixo do mesmo tojo. Foltou a levá-la fara casa, e mais outra vez a fonequinha lhe desafareceu da arca! Na manhã feguinte já lá não estava!
-Foi o crocodilo que a levou!!
-Não fenhor! Fesconfiado, regressou ao tojo lá a encontrando, muito frilhante e fonitinha! Nos dias seguintes enfiava-a na manga do casaco, amarrando as fontas com dois atilhos e quando chegava a casa já ela tinha desafarecido oufra vez...
-O bicho comeu!...
Fale-se um momento se faz favor! Defois contou o que estava a afontecer à mãe e aos fatrões, e mais farde aqui nas aldeias ao redor já o fovo fodo fabia. Aquilo era um milagre da Senhora Virgem Santíssima.
-Então, não era o crocodilo?
-Afinal, o fenhor quer ouvir o resto, ou não? Despois construíram aqui a capela e o altar até está no sítio onde a fonequinha se escondia no tojo. Quando era garota, ainda me lembro que uma fez antes do Ciclone, afareceram umas formas muito esquisitas... eram umas serfentes muito grandes e às cores que vinham a desabar dos céus e o fovo das aldeias em volta correu todo para aqui a pedir à Senhora que os livrasse do tamanho mal que esfava para assentar, e a Senhora do Tojo acudiu-nos às preces!
-Antes do Ciclone? O que é que isso quer dizer?
-Fabe fenhor, for aqui os tempos dividem-se em anfes e despois do Ciclone... e aquilo aconteceu em Janeiro de 1938... e o Ciclone foi...
-O Ciclone era um crocodilo?
-Arre faita cú fenhor é chato! O Ciclone não era um crocodilo, não fenhora! O Ciclone foi uma femfestade fedonha que levou fudo à frente! Foi no dia 15 de Fevereiro de 1941 que eu fem me lembro! Finha freze anos na alfura!
-Ah! Quer dizer que por estas paragens as eras se dividem em "a.C." Antes do Ciclone, e em "d.C." Depois do Ciclone?
-Fode ser! Mas há outra história inferessante! Uma vez as gentes eram fantas aqui à água que se desentenderam com a vez e armou-se uma briga que só farou sabe como?
-Não!... Não me diga que apareceu um crocodilo e deram todos às de vila diogo!
-Ai fenhor! Focê e o frocodilo!!! A água farou de correr e frontes! As fessoas viram um milagre naquilo e pararam a briga!!!! Frontes! Qual frocodilo, qual quê!!! Frontes!
-Obrigado por me ter contado essas lendas tão lindas, minha senhora. Decerto que saio daqui mais enriquecido. Bem-haja, mesmo!
-Adeus, fenhor.
Neste entretanto cá o rapaz resolveu espreitar por debaixo de umas silvas e de uns tojos ali crescidos... podia ser que lá encontrasse o crocodilo ou resquícios do senhor sábio da construção que fora vereador camarário... mas népias! Nem vereador nem crocodilo! Nada!
-Enfão o fenhor fensa que a Senhora lhe vai afarecer aí debaixo do mato? É?
-Não... procurava outra coisa...
-O fenhor fem é muita fé!!!
Com a velhinha desaparecendo ao fundo da ladeira de terra batida que levava ao casario arruinado da Brunheta, este praça voltou a colocar o penico amarelo, cavalgar a Coty dando-lhe ao pedal de arranque que estranhamente fez o motor pegar à primeira tentativa e ala que se faz tarde...
-Milagre...
Pensou.
Quer dizer... em sentido contrário vinha a tal furgoneta branca com o casal de pescadores...
-Sinhôriii Compri calquer coisitããn! Uma camisolitããn qui á nôti faiz friúún? Vá lááá?!
Gritava o pescador pela janela, aos comandos da furgoneta enquanto ao lado, a Maria dava a mamada a um bebé!
-Não quero, não quero e... não quero!
-Aíiie cú hóme é um garganêêêruuun???!!
Berrou a Maria a plenos pulmões...
Uns castiços estes pescadores...
Chatos como a putassa... mas uns castiços...
Foi assim este praça rumou sem destino algum, mais para norte... com a motoreta no red-line... passando por umas quantas aldeias perdidas nos vales... Atalaia, Sentieiras, Carrapatoso...
Bairrada...
Sobreira Alta...
...e as Fontes...
Soberbo!
Que vistas espectaculares!
O norte do concelho de Abrantes é bastante rico em paisagens... Sempre com as águas da albufeira ao fundo...
Hummm
O crocodilo devia andar por ali... algures...
O sol descia no horizonte, proporcionando um fim de tarde fenomenal...
Em terrenos tão altos cá o Cidadão abt não se safava... se desvendasse o sáurio, seria junto às águas... e não ali...
Se bem o pensou, melhor o fez... desceu por uma ladeira abaixo com o motor desligado para poupar a gasosa que estava cara cum’ó catano, atravessando o povoado da Portela, seguindo-se a Cabeça Ruiva e...
-Porra!
Havia que meter travões a fundo porque ali se acabava a estrada!!!!
Atingira o fim da picada!
Do sáurio não haviam vestígios de maior...
A não ser... pois!
Era mais do que evidente!
Reparando nas margens, junto à água as rochas estavam completamente estraçalhadas!!!
Que horror!
Como animal deveria ser enorme!
O gerúndio afiava as garras naquelas escarpas ribeirinhas!
Um monstro!
O que o pessoal avistava nas águas era apenas a ponta do iceberg!
-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!
Ora bolas!
Agora só cá faltava o tijolo falante!
Tinha ficado esquecido no fundo da mochila cor-de-rosa desbotada com o usrinho Pooh!
-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!
Havia que tirar tudo de dentro... o chapéu, a toalha com a gaja boa estampada, a carteira, o protetor solar...e bem no fundo... o que era isto... Ah! O capa-grilos!
Finalmente... o tijolo falante...
-Tirrimm...tirrrimm...tirrimmm!
Já vai!... Já vaaai!!
-Tou?
-biririririiririii!
-Sim, querida...
-biririri...ritititi...biriri!!!
-Não querida... Ando à procura do crocodilo...
-rrrrititititititibiririrti ti?
-Desculpa, vá!
-titititi bibibri titi ti!
-Não querida... estou aqui junto às águas da barragem, perto das Fontes!
-ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti?
Ah, desculpem também vocês que estão a ler isto!!
Era cá a Companheira a perguntar a que horas este praça chegaria a casa para o jantar e com outras observações que não interessam para o caso...
-ciccisisisiiri pirititi?
-Não querida. Eu cá me desenrasco... Como qualquer coisa numa tasca e pronto!
-firitidi dititirirdi!
-Está bem, não te zangues, vá!
-tirirtibiciridi?
-Não! Durmo por cá! Logo me desenvencilho,..bem sabes como sou! Com três pauzinhos faço uma cabana!
-ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi! rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi! rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi! rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti
-Não é ikebana!!! É uma cabana, carais!”””
-dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi! rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti
-Está bem, vá, não te irrites que isso faz-te mal ao coração...
-riri ri riri ti? firitidi dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi! rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti? firitidi dititirirdi
-Vá... não gastes mais no telefone!
-rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti?
-Vou desligar... vá!... que amanhã a gente depois conversa com mais calma...
-dititirirdi ! rrrrititititititibiririrti ti? ninini fifitititiri rititi riri ri riri ti –
-Um beijinho... vá!
-rrrrititititititibiririrti ti? tirirtibiciridi
-Prontos, já chega. Dorme uma noite descansada...
-tirirtibiciri ititiri rititi
-Vá... sossega que isto vai correr tudo bem...
-ini fifitititiri
-Pronto, está bem, desculpa lá!
-niffifi
Devem-se ter apercebido que cá a Companheira do Cidadão abt estava por demais furiosa...
Só para nós que ninguém nos ouve... quando ela se irrita, prega com cada seca que não vos digo, nem vos conto!!!!
Depois de desligado o tijolo falante e como a luz do dia ia escasseando, este raça deu-se a contemplar o ambiente. só agora reparara que à sua frente, formando um lombo a sair das águas, havia uma ilhota com um casario... Aquilo era lindo!
Só o Cidadão, a imensa massa de água, a paisagem, o marulhar, duas mesinhas de alvenaria... e a Coty vermelha Ferrari...
De súbito um gemido... um choro de criança... ou de mulher... ou um canto de sereia vindo do delta do rio, era trazido pelo vento...
O Cidadão resolveu procurar a sua origem... avançando pela reentrância do braço de água... os gemidos sentia-se mais perto... talvez fosse o crocodilo estraçalhando uma criancinha com a enorme bocarra de oitenta e tantos dentes... subiu ao alto de umas rochas... e o que avistou?... Uma jovem tágide ousara subir as águas do Zêzere, entregando-se aos prazeres da carne... de blusa descaída denunciando os voluptuosos seios desnudados, cabelos pretos e longos pendentes sobre o rubro rosto adornado por lábios carnudos, aquela linda rapariga de saia arregaçada revelando os glúteos, sentava-se de cócoras sobre a cintura dum rapaz prostrado no chão duro... e em infindável frenesim, entregava-se a uma cavalgada épica como se mais mundo não houvera! Os gemidos libertados numa cadência constante soavam cada vez mais guturais, intensos, perdidos no espaço... e a ninfa transformara-se numa cruel vampira cravando os dentes no pescoço do companheiro! Ele exausto e ela, fogosa de todo, enganchada, sempre a dar-lhe, numa dança sem música nem fim. As ancas meneavam-se-lhe ritmadas como não fossem sua pertença. O casal abandonado aos prazeres da carne e aos desígnios de Afrodite, deusa do amor, deliciava-se com as forças mais animalescas e telúricas que a natureza humana poderia consentir... e decerto, acedendo às recomendações de Sua Excelência o Senhor Presidente da República... está claro!
O lindo par desconheceria que a profundeza das águas estava infestada de seres estranhos, de serpentes de água, de lagostins, de lúcios, de siluros, de cavacos e de jacarés enormes, caso contrário perderiam a pica toda...
Enquanto este cenário se desenrolava sob uma brisa suave, lá fora o Estado Português aguardava nove meses para atribuir uma dívida colossal ao produto de tanto amor e paixão arrebatadores... tinham que aproveitar bem os tempos enquanto a vida não lhes começasse a fintar as voltas... Naquele frenesim nem deram com a presença deste praça... Espreita ou empata f**** eram os únicos epítetos de que não quereria ser acusado...deixá-los ficar para ali abandonados e na paz do Senhor...
Já o Sol se ocultava por detrás do monte sobranceiro quando houve necessidade de trepar a pé até uma tasquinha que reparara existir naquele povoado da Cabeça Ruiva...de dentro vinha o som de uma telefonia e o aroma a sopa de nabo... é que cá o rapaz tinha resolvido permanecer ali até à madrugada seguinte porque seriam as horas mais indicadas para detectar a presença do réptil... pela fresca é que os bichos acorriam aos cursos de água para se alimentarem e outros darem caça às incautas presas...
-Boas tardes...
-Bõa nôti!
Ou isso...
-Há por aqui alguma coisa que se coma?
-Pode sêri uma sopinha?
-Sim, serve... o que vier à rede é peixe!
-E que mais há-de sêri?
-Sei lá... o que é que têm para aí a sair?
-Uns jaquinzinhos fritos...
-O que vem a ser isso?
-Ó senhor! São carapaus piqênos, embrulados em farinha e fritos no azête!
-Ena, ena! Vêm mesmo a calhar!
-Atão... o senhor já sabia o que era?
-Não... foi um amigo da internet, um tal Aqui-Ali-Acolá que mos recomendou!
-Outra gaita! Amigos na internete? Isso não é os computadores?
-São... porquê?
-Agente conhecemos as pessoas sem ser nos computadores! E p’ra bebere, o que vai sere?
-O que têm?
-Lambrusco!
-Lambrusco?! O que é isso?
-Bem se vê que o senhore não é de cá! Lambrusco é o vinho da casa, uma espésse de vinho verde feito da uva tinta lambrusca, que já se colhe pouca aqui na região e se entorna muito bêm com os jaquinzinhos! Onde se vê mais dessa vinha é ali para os lados de Martinchel e no Souto.
-Pode ser...
Constantemente vigiado pelo taberneiro, depois de em silêncio ter sido degustada uma bela refeição atestada com duas fatias de pão caseiro e rematada por uma bagaceira, chegara a hora de pagar a pequena conta e lançar a questão... fulcral...
-Senhor... por acaso não viu por aqui um crocodilo?
-Outro maluco!
Que resposta sêca!
Bolas!
Isto estava a correr mesmo mal...
Fizera-se noite lá fora e este praça tinha que arranjar sítio onde pernoitar... lembrou-se que no fim da picada vira um recanto com uns banquinhos e umas mesinhas redondas em cimento... aquilo era abrigado... como quem tem boca vai a Roma, foi lançada outra questão ao taberneiro... podia ser que pegasse...
-Senhor... por acaso tem um cobertor velho que me empreste para pernoitar ali em baixo junto à água?
O homem botou um olhar místico de piedade e admiração...
-Isso arranja-se... mas o senhor vai dormir lá em baixo?!
-Vou pois!
-Ouça cá, mas acredita que há por ali um crocodilo a sério? É?
-Quer dizer... ainda não o vi... mas trago cá uma fezada em como o hei-de encontrar!...
-Tá bem... tá...
Foi assim que cá o Cidadão se desenrascou... ali quase debaixo das mesas, deitado sobre a toalha com a gaja boa estampada, um velho cobertor por cima... e a mochila cor-de-rosa desbotada com o ursinho Pooh a servir-lhe de almofada... naquela noite escura não havia luar... o pio do mocho feria as encostas sobranceiras e o vento soprava forte...o marulhar das águas iam rebentando nas rochas arranhadas pelo sáurio... e ao longe, umas luzinhas cintilando naquela Ilha do Lombo... do outro lado da margem... mais pontinhos luminosos e de vez em quando os faróis de um carro traçavam a escuridão do espaço longínquo... desafiando o firmamento... mais perto, um ou outro peixe chapinhava a superfície da água com o seu característico marulhar... estariam curiosos com a presença cá do rapaz...
O Cidadão olhou para o firmamento... tantas estrelinhas... a Via Látea... as sete estrelas da Ursa Maior... mais além... as trinta... estrelas da Cassiopéia... a Ursa Menor... e a Estrela Polar... a Andrómeda mais adiante... Perseus...
...parecia estar sorrindo... de quando em vez uma estrela cadente desviava a atenção até desaparecer no horizonte... ou caído no outro lado da serra...sabe-se lá... e assim este praça foi perdendo a noção do tempo e do espaço... entregando-se aos braços de Morfeu e ao “Rapid Eies Movement”...
Indeterminado tempo decorrido, sentiu que a água o encharcara... olhou na direcção da albufeira... mais uma ondulação a molhar-lhe o corpo... outra... agora, um chapinhar distante...
Era dia!
Como as horas passaram rápidas!
Vindo do lado das Fontes, o Sol espreitava por detrás do casario!
Olhou melhor!
Impressionante!
Na direcção à Ilha do Lombo conseguia-se percecionar a ondulação progressiva... qual maremoto que se espraiava violentamente nas margens!
Avistara um vulto medonho progredindo das profundezas!
Do meio das águas erguera-se um enorme sáurio, um ser descomunal!
O bicharoco era um crocodilo dos enormes!
Um monstro colossal! O animal teria para aí uns três metros de envergadura!
Da enorme bocarra saíam dois serrotes de dentes ensanguentados!
Na vertical, erguendo-se das águas volteava-se no ar sistemáticamente e mergulhando de seguida, provocava um enorme chapão!
Outra linha de ondulação contínua esbatia-se violentamente nas margens! Mais uma vez o bicho mostrou o dorso, cortando a tona das águas a uma velocidade estonteante!
Mergulhou novamente...
Fez-se silêncio...
Um silêncio estranho...
Mais um salto para fora de água com um enorme peixe debatendo-se-lhe entre as mandíbulas!
Mergulhou novamente!
Ao longo da superfície avistavam-se cardumes em fuga, sulcando as águas agitadas!
Outro silêncio de morte!
Um odor a cadáver...
-Mas que horror!!!!
O jacaré, ou crocodilo ou o que quer que aquilo fosse, voltou a surgir à tona das águas revoltas...
Com a cabeça de uma cabra estraçalhada nos dentes!!!
Cá o Cidadão abt esperava que aquele colosso não se apercebesse da sua presença no local e na hora errados!!!
Conseguira ver-lhe os olhos alaranjados e flamejantes!!!
Bom... bom... Esta crónica vai longa p’ra caraças e com os dedos imprecisos, tremendo sobre o teclado! Isto pode dar cabo do coração!
Não estão reunidas as mínimas condições para prosseguir este relato!
Aguardem pelo próximo episódio pois cá o praça está necessitando uma cerveja bem gelada...
Até logo!
Ciau, ciau!
Ah! Pois! Para visitardes o Crocodilo IV, clikai aqui!
14 comentários:
Caro cidadão está no bom caminho,as pistas apontam para o denominador comum do avistamento do animal. Isso mesmo; "lambrusca" o mesmo nobre elemento que a pobre senhora que fez o primeiro avistamento enquanto enchia os garrafões de agua na albufeira, tombou pela garganta abaixo, dado que um dos recipientes ainda trazia um restito, para ai umas duas litrosas do precioso nectar.
Aguardamos aqui na intituição, os doentes,e o pessoal dormente, perdão, docente o desenrolar tragico que se adivinha nesta cronica saurica.
Ai C´um Catano mas que ganda cena, isto dava cá um filme e peras.
Mas que moca de riso prá qui vai, só lido é que se pode ver o que isto faz esquecer a tristeza que vai neste país.
Então até meteu jaquinzinhos e tudo?
Vc não sabia o que eram jaquinzinhos?
Isso é do melhor home, é só abrir a boca que até vão espinhas e tudo cá pra dentro do reservatório humano.
Mas é mesmo realidade este monstro andar por aí?
E passar uma noite ao relento fora de casa não deu direito a quando chegasse a casa estar a porta vedada por vaguear fora sem permissão da companheira?
E então que tal a sensação de tar a espiolhar uns jovens na sua habilidade matinal no melhor fernesim que a vida nos dá?
Puxa que isso não se faz, já nem na mata ou em um lugar bem longe da civilização se pode dizer que se está descansado a bater no fundo do poço.
Irra que assim não vale, isso dá direito a multa pesada por delito de espreita oculto ao acto mais sigiloso que Deus nos deu??????
Nem a velhinha fanhosa com a história da Senhora do Tojo teve direito a poder desenvolver toda a fábula descrita no tempo.
aC. antes do Ciclone, dC. depois do Ciclone - Fode ser?
Mas isto diz-se?
Eh..eh..eh.. que nóia marada catano, já não comento mais, fica para a próxima aguardando o próximo capítulo.
Mas que ganda bicho, qual o nome dele, não trazia bandeira?
Ah..ah..ah..
Aguardo a próxima Release..
Caro Dr. Graciano Beirar, Lello para os amigos;
Uma overdose de essência de “lambrusca” põe qualquer homem a ver crocodilos, quanto mais uma mulher!
A tal senhora se queria atestar os garrafões com água do Castelo do Bode, e se num deles continha duas litrosas do “lambrusca”, o melhor que ela fez, de facto foi emborcá-lo porque se o despejasse na albufeira iria poluir as águas e atordoar os peixinhos do rio!
Para tal, a mulher teria o barbasco e o udre, ervas que batidas numa rocha junto à água, liberta um seiva que põe os peixes zonzos!
Por exemplo a trutas e as bogas saltavam-lhe de imediato para a bilha!!!
O siluro, pela sua estatura avantajada, esse acabaria por fazer estragos no paredão da barragem e nos pilares da ponte do Vale da Ursa!
O desenrolar do relato dos acontecimentos em busca do crocodilo perdido requer uma pausa, na medida em que as emoções transbordaram a capacidade de concentração e em termos de actividade psicomotora estava-se a reflectir no teclar dos dígitos!
Desde que foi publicado este terceiro episódio, num intervalo de 7 horas e de acordo com as estatísticas, já 67 cibernautas acederam ao assunto, que têm entupido os gigabytes!!!
Quando isto acalmar, logo irá o resto!
De novo aqui para comentar devido a que no comentário anterior, me esqueci de dizer o seguinte:
Mais umas belas fotos dessa ilha tão linda vista à distância e que já cá cantam para o meu baú.
Defacto estas fotos estão maravilhosas.
E mais, quanto ao tijolo falante, é coisa que é indispensável nos dias que correm porque, se houve coisas boas que a evolução nos trouxe, essa foi uma delas que não podemos dispensar e muitas vidas já salvou bem como muito progresso veio trazer à humanidade.
Só é pena não poder-mos contactar através dum tijolo com os animais, pois assim vc logo saberia onde andava o tão famigerado croco e com ele negociar tréguas para uma suposta sessão fotográfica a publicar nas revistas Vip e jornais com maior tiragem.
Inté
Aqui-Ali-Acolá!
Cá o Cidadão abt não pode saber tudo, não é verdade?
Não fora a sua recomendação e se o taberneiro da aldeia de Cabeça Ruiva não o sugerisse, nunca este praça viria a saber o que eram os “jaquinzinhos” nem “vinho lambrusco”.
De facto cá o Cidadão nessa ocasião por lhes separar as espinhas, vai daí, fartou-se e acabou por os devorar inteiros!
Foi mais uma descoberta!
Pois bem, quanto ao monstro, este praça também questiona se de facto anda um ou mais crocodilos na albufeira. Se o soubesse não metia a Coty ao caminho porque a gasosa fica a mais de 1.60€ por litro!
Pois, o pessoal não percebeu mas na longa seca ao tijolo, de facto ela ameaçou que colocaria as tralhas à porta de casa!
Vamos a ver... vamos a ver...
Espiolhar o casal, não!
Aquilo não passou de um mero acidente de percurso!
A causa era nobre!
Recorde-se caro Aqui-Ali-Acolá que no momento se levantaram fortes suspeitas de estar ali o crocodilo!!!
E se assim não tivesse acontecido, estas crónicas não tinham levado com a tal pitada de erotismo!
Quanto à velhinha desdentada, no início do diálogo sobre o assunto do Ciclone, cá o praça inté julgou que ela se estivesse a referir à banda Australiana AC/DC, ao seu vocalista e ao maluco e espectacular guitarrista Angus Young, porque por lá também há muitos crocodilos!
De resto, este praça não tem culpa que a velha seja fanhosa!!! Ora bolas!
Caro Aqui-Ali-Acolá! Este seu excelente comentário foi do melhor em termos de feedback e boa disposição, recebido até agora!
Obrigado, e mande sempre!
Ciber Aqui-Ali-Acolá!
Quanto ás fotos elas inicialmente destinavam-se ao Passo a Passo mas os destinos cruzaram-se, houve que reportar a digníssima Festa dos Tabuleiros e entretanto surgiu o tema do crocodilo na comunicação social, que foi uma deixa excepcional cá para o Cidadão poder desenvolver o tema central e outros periféricos que promovam os valores culturais das regiões interiorizadas e até certo ponto, ostracizadas.
A cereja em cima do bolo.
A sequência dos episódios tem sido mais rápida por haver um tempo de férias no serviço que há que aproveitar da melhor forma.
Cá o Cidadão entra num outro mundo quando escreve estas crónicas maradas, o que é uma condição essencial!
Faça o favor de desfrutar as fotos à vontade na medida em que este é um espaço de partilha, em todos os sentidos!
Note que nem todas as fotos são originais, como por exemplo a da aurora boreal, dos crocos ou a do presidente Cavaco Silva!
As originais distinguem-se pelas paisagens e pelos monumentos, tendo inscrito passoapassoabt nos link’s de imagem.
O tijolo falante é um elemento que veio revolucionar a sociedade contemporânea e é bastante util quando não utilizado como meio de ostentação, como gadjet, como afirmação de grupinhos etc.
Também o tijolo falante se torna nefasto quando usado no meio de reuniões, cerimónias litúrgicas ou outras, que toca ou é atendido nos momentos menos oportunos, ou em plena sala de aulas em que muitos mal formados se dão ao desplante de terem os auscultadores nos ouvidos ou assistirem ao visor perante os seus interlocutores. Há aqueles que são escravos das prestações de modelos tecnologicamente renovados com funções cuja utilidade, ou não é nenhuma ou é o ócio!
É nestes pontos que o Cidadão contesta o tijolo falante! Ao contrário do que suporá, anda por aí uma fauna que usa destes tijolos à custa dos contribuintes e outra tanta fauna que enriquece desmesuradamente e consegue reformas chorudas à custa destes tijolos falantes...
Deixe lá que pela evolução tecnológica a que assistimos, qualquer dia os crocodilos também serão portadores de tijolos falantes!
Boas bitáitadas!
Bolas!Isto vai com uma dinâmica fantástia. Está envolvente e não deixa ninguém indiferente!Desta vez é que o amigo vai apanhar o crocodilo da albfeira? Pelos vistos,está quase.Coragem homem!
Poças. Eu de férias que nem me apercebi da acção que para aqui vai!Seja duro e não lhe perdoe! Se o crocodilo fôr capturado, os veraneantes voltam a meter os cuzinhos na água e você no 10 de Junho vai ganhar uma medalha do Presidente da República!Não desita que o dinosssauro está quase agarrado!
Olá, João Esteves.
O amigo só aparece quando as coisas aquecem!
Isto por enquanto não vai passando de uma sucessão de frustrações... talvez seja desta que cá o Cidadão consiga sacar o crocodilo das águas e provar a todo o mundo que de facto havia pelo menos um sáurio na albufeira do Castelo do Bode!!!
Acha que com tanta azáfama, há por aqui falta de coragem?!
Pelo amor da Senhora do Tojo!
Deseje sorte cá ao rapaz, que bem vai precisar dela!
Extenuado de mais uma semana de pesado fardo, prostrado em plena hibernação sofastica, apenas perturbada pelos incómodos saltos da agulha nalguns picos em venerados vinis que o tempo e o uso não gastaram mas tremuras de outros passados arranharam, panaceia vintage melómana-relax-inseparável destas siestas, senão quando, sobressaltado e com os tímpanos em feedback me deparo com a amada em estrondosas gargalhadas.
- ??????
- Tou a ler as crónicas do ABT!
- ??
- Qual Dan Brown na busca do Graal, anda em demanda … dum crocodilo. Palmilha entremeadamente com velocípede a albufeira e as gentes.
- Dum quê?
- Tás def? Dum crocodilo….dum JACARÉ!
- Ó mulher, tu não me digas que o cidadão nem os minutos de celebridade televisiva que esse Tramagalense já teve desconhece? Ná…não acredito.
- Ó homem cala-te e deixa-me ler a parte III!
- Xixa, tem paciência mas escreve aí nos coments do cidadão um convite para vir aqui á Vila que eu apresento-o ao “Jacaré”. Ora rabisca lá pró cidadão senão gasta as suas feriazinhas nessa novela pra nada e ainda fica com as malas à porta.
Não póstou… perturbou o relax (até do cupido)… pósto eu!
Convite consumado.
Alcolobre!
Você todo descansado a gozar férias, em vez de vir dar uma mãozinha na busca do crocodilo perdido e ainda por cima encoraja este desgraçado a ser duro com o bicho?!
Se isto vier a correr mal, o mister decerto ficará com um peso na consciência para o resto da sua vida!
Olhe meu caro, quando cá o rapaz, depois da cena marada com o lulu Foca na Aldeia do Mato, se resolveu meter nestas andanças, um dos factores ponderados foi precisamente o da medalha no 10 de Junho!
Agarrar o dinossauro na albufeira?
Está muito certo, ciber Alcolobre, desde que o bichano não ande completamente agarrado com o tintol lambrusco!
Continuação de boas férias!
Olá, RL
Com que então baixou a guarda e a amada aproveitou para espreitar o blogue cá do praça, hein!
Tá-se a ver que aí pelo reino dos vinílicos saudosismos, a irreverência ganhou terreno!
Tá-se, tá-se!
Cá que o Cidadão saiba, no Tramagal não há um croco, mas uma jaca!
Reflita, caro RL... Refita...
Se cá o Cidadão for até à capital da forja e das tramagas parando de bitáitar de todo, com a crise que o país atravessa, entrariam em depressão pelo menos as trezentas e setenta e duas almas que até ao momento leram este terceiro episódio de "em busca do crocodilo perdido" o qual foi batizado de "O Bodinho" pelos cibernautas e respectivos veraneantes.
As malas à porta são um risco acrescido.
Esta situação constrangedora não foi a primeira vez que sucedeu... Por exemplo quando este praça descobriu a Deolinda, tal tragédia esteve iminente!
Mas cá a rapariga, nas horas difíceis é um espectáculo de Companheira!
Aliás, por cá, toda a famelga ri sem parar... com estas situações travessas.
Pensando bem, é melhor continuar por aqui a pândega, nem que seja para a sua Maria poder continuar a dar as estrondosas gargalhadas por essas bandas!
Bom dia, boa tarde ou boa noite, consoante a hora em que leia este comentário!
Eh!Eh!Eh! O que mais estará para vir? Esse cidadão não é fresco. Esperem-lhe pela demora!
Ó ciber Joaquim...
Talvez por o tempo ter refrescado, ao dia e à hora em lhe é dada resposta a este seu comentário, a demora do quinto episódio faz-se notar...
Lol!
Enviar um comentário