A PISCINA
Com o intento de predizer o tema aqui aportado, às
primeiras horas deste dia da Assunção de
Nossa Senhora ao Céu e da bênção da bicharada de Janas, outra bendição se abateu sobre o cabeço e arredores sob a
forma de uma carga de água de três em pipa,
sendo exactamente sobre esse maravilhoso líquido imprescindível à vida
planetária que por ora e aqui se verte quão profunda e singela orgia literária.
Recuando cerca de quinze anos, naquele tempo as cigarras
cravadas nos ramos das frondosas árvores atenuavam o calor com estridentes
trinados ludibriando a música difundida pelas colunas penduradas nas paredes, dissimulando-se dos melros, pardais e doutros graciosos passarões que beberricando cristalinas gotículas, por entre sebes saltitavam!
Pares de escorreitos corpos esvaíam infindáveis
prazeres sobre os toalhões estendidos no gramado.
O olhar do atento nadador-salvador registava transbordantes chapões refrescando a calçada quente e os inusitados gritos dos banhistas soavam distantes...
O bar concessionado facturava sandwiches, snacks, rusks, chips, canada dry
e coffe cream aos sedentos veraneantes espreguiçados
nas cadeiras tresmalhadas pela sombria esplanada.
Mergulhados nos matutinos, uns inteiravam-se dos
acontecimentos enquanto outros derretiam as ceras do tempo nas clássicas obras
literárias.
Pelo tom da pele, o local seria frequentado por goesas ou gente que se
dedicava ao bronze, de alma e... coração!!! ! ! !
Sem comungar das águas, alguns esvaziavam as tardes sob a
brisa fresca dos frondosos castanheiros
da índia.
Outros estendiam os toalhões sobre o relvado sonegado o
entardecer após furtivo mergulho.
Ali se fizeram e desfizeram arranjinhos.
Ali se partiu ao romance e se alcançou o desengano!
As manhãs estivais de terça a sexta-feira eram dedicadas
ao ensino da natação, onde no gozo das férias escolares os papás confiavam os
seus petizes à Escola de Natação do Clube
Náutico de Abrantes de onde saiam com diplomas de fazer inveja ao Relvas se levarmos em linha de conta que nesta área específica o nível 1 equivale à Licenciatura, o nível 2 corresponde ao Mestrado e o nível 3 acede ao Doutoramento.
Com o aumento da salinidade, no fundo
da piscina pequena perfilaram-se dezenas de negros caranguejos esgrimindo
suas tenazes sob os pés, rabiosques e barrigas dos incautos petizes que
chapinhavam as águas rasas.
Aquilo constituía um perigo medonho, não havendo cloro
que desse cabo de tanto crustáceo, acabando essa bicharada por encravar o mecanismo da
bomba de água!
Os afoitos aguardavam ansiosamente pela abertura da
prancha que funcionava a horas específicas onde saltavam de cabeça invertida, submergindo e emergindo de repente nas cálidas águas, quais submersíveis que por extravio dos contratos de aquisição ao sucateiro alemão não deverão possuir certificado de matricula, seguro actualizado, inspecção periódica validada e imposto único de circulação em dia e por isso há que tomar bastante cuidado com as insinuações, na medida em que às segundas o oásis
encerrava para limpeza e renovação das águas inquinadas pelos pés de atleta,
conjuntivites e outras micoses da mais fina estirpe.
Assim aconteceu durante muitos e longos anos até chegado o
fatídico dia em que se avariou a bomba hidráulica que impelia a água da piscina
ao filtro!
Entre induzidos e anilhas, só num verão a geringonça negou-se
uma, duas e três vezes!
Frustradas, as crianças da escola de natação regressavam a
casa e os veraneantes do after lunch batiam
com o nariz no harmónio da portaria...
A traquitana era sucessivamente reparada...
Porque a bomba se recusava a debitar quilolitros de H2O, volta e meia a
piscina encerrava por uns dias...
Os concertos faziam-se morosos e a câmara municipal não tinha cheta para adquirir uma maquineta nova!
No ano seguinte o motor voltou a pedir reforma....
A velhinha bomba da piscina não estava para proezas...
Vai daí, quando o dispositivo se negava a meio da aula
de natação, os monitores do Clube Náutico punham os petizes fazendo na tacinha, ou seja, metiam o pessoal de barriga
para baixo, esbracejando a seco, como se atravessassem o Canal da Mancha!
Terminara mais uma época balnear com a bomba de água pedindo
retentores...
Talvez porque os leites solares que untavam os veraneantes não fossem de igual estirpe, os ralos tivessem os crivos frouxos ou o buraco do ozono se tornasse devasso, o certo
é que o motheurfucker calcinou de vez na época balnear seguinte!
Não girava, nem p'ra diante, nem p'ra ré!
-Irra pr'á tranca d'àvó!
Trancou!
Dera-lhe o pifo para não escrever “o
peido mestre” ou “o canto do cisne,”
se usando de expressão mais snob.
Coincidência ou não, descontando o facto das portas
terem sido escancaradas ao público no mediático Dia
da Cidade, foi a 13 de Setembro
desse mesmíssimo ano da graça de 2003
que se procedeu à cerimónia de inauguração do Complexo Municipal de Piscinas, no Vale de Roubam, construído de
raiz junto a outra complexidade desportiva onde foi erigido o primeiro campo de basebol oficial de Portugal cuja
placa de lançamento é um charco de água choca, hostil à propagação de alfaiates e escaravelhos fluviais.
Supõe-se que nesse dia o Secretário de Estado da Administração Local,
Miguel Relvas, terá conseguido o
doutoramento em Desportos Aquáticos Por Via da Experiência, na especialidade
de Cem Metros Bruços por motivos de alguns anos antes ter observado atentamente
os movimentos rítmicos da rã que no mouchão
do Nabão tentara escapar dum pato bravo com mórbida fixação pelo
exoterismo e conseguido o mestrado em
Mariposa por no Colégio Nun’Álvares ter sido surpreendido por uma traça alada que
esvoaçando do guarda-fatos, lhe dera luta durante longas horas, sem antes apanhar
um dos maiores sustos da sua vida de estudante na firme suposição que a
mariposa saída do escuro fosse o fantasma do Dr. Raúl Lopes afagando seu picha-de-porco
para uma séria conversa com a rapaziada embravecida cuja soltura dependia do
rendimento escolar e que a bruxa malvada a qualquer instante se metamorfosearia
no Reitor!
Saído desta experiência sobrenatural e mais
recentemente envolvido em viagens fantasma, isto justificava o doutoramento em Ciências Ocultas!
Bem antes da aquisição do BMW, do Àquapólis, do Açude Insuflado por tecnologias tanakas, da prenda de natal para o Barão Vermelho, do projecto cúbico do Museu, da Tenda dos Milagres e do Cais
de Acostagem de Rio de Moinhos, já naquelas temporadas a câmara tubuca não tinha tusto para substituir a bomba de água na
piscina municipal do Jardim do Alto de Santo António, um dos cartões de visita da cidade de Abrantes, decerto com encargos menos dispendiosos que a manutenção dos tachos da guardiã de sítulas romanas...
...nem
chêta para mandar calafetar as fendas que iam avançando nas paredes, por mor
das fortes cabeçadas que os banhistas nela ousaram espetar, e assim os amantes
do Sol, da sombra das árvores, dos cigarros, das cigarras e do meio ambiente,
passaram a rumar às piscinas do Abrantur,
do Sardoal, do Aquavital e da gaiola anti-crocodilo do Parque Náutico de Recreio e Lazer da Aldeia do Mato...
Como a coisa resultou fixe e na campanha eleitoral
seguinte a plebe se satisfez com os isqueiros de cozinha, os aventais, os
bonés, os sacos e as pachachas-porta-cêntimos,
tudinho com o punho do poder p’ra não esquecer e, tempitos depois também chegou
a vez de se avariarem os motorzecos que purificavam a água das bastas fontes do
condado tubuco, levando a que o feudo optasse pelo seu encerramento, na medida em
que nos hipermercados da região há bastante água armazenada em parcelas de
cinco litros...
Nesse tempo seria dispensável a autarquia ter gasto mais
uma parga de €uros promovendo a colocação de muppies junto às rotundas,
anunciantes que de facto “Abrantes é uma
terra bestial para viver, trabalhar e investir “ porque desses excelentes predicados já os seus munícipes eram sabedores.
No dia em que é lavrada esta cronica a piscina original encontra-se votada ao abandono, à mercê das ervas daninhas
que brotam da calçada à portuguesa e na portaria prestada ao cavalo houve quem confundisse
o muro vermelho com uma Igreja
Anglicana e por tal lhe quisesse chegar o fogo!
Ali não há uma pedra como esta!
No complexo desportivo temos cada macaco em
seu galho porque quem pretender
encharcar o físico à pala dos
impostos terá que entrar num alguidar inóspito de pouca fundura onde não mergulhará de cabeça nem nas margens achará
pingo de sombra de planta onde se acoitar.
Quem pretenda tomar um drink terá que abandonar o ovo estrelado
deslocando-se à cafetaria sita no piso superior e quem deseje desfrutar de
sossego em comunhão com o meio ambiente necessitará saltar a vedação
espojando-se sob os pinheiros do exterior porquanto as folhas das árvores são uma
carga de trabalhos para se retirarem da piscina de lazer e das zonas
circundantes, exigindo um robôt nocturno para aspiração da camada vegetal e um
funcionário à cata de folhas soltas ao vento.
O ovo estrelado.
As duas piscinas estufadas de interior cujo tecto abre e
fecha consoante os vapores, são destinadas à prática da natação desportiva, da
hidroterapia e da hidroginástica não servindo para qualquer veraneante
mergulhar o frontispício.
Ali os nadadores não sofrem choques térmicos imprescindíveis
à tonificação muscular, à diminuição do ácido úrico, à revitalização do corpo e
da mente e não desenvolvem o sistema imunitário contra amigdalites, resfriados,
gripes e conjuntivites, contribuindo de sobremaneira para a despigmentação
cutânea e maior vulnerabilidade à radiação ultravioleta.
Tudo bastante prático e funcional!
Em contrapartida, no Alto
do Santo António a infra-estrutura da piscina
municipal foi votada ao abandono, não se entendendo se o espaço onde os
papás presos à vedação materializam memórias retalhadas, será reabilitado como Museu Aquático de Abrantes para que a terceira idade possa nele humedecer seus
artelhos em marés de sargaços.
10 comentários:
Foi nessa piscina que aprendi as primeiras braçadas.
É inacreditável a falta de consideração que os senhores responsáveis têm para com as identidades da população.
Falta de dinheiro para manter esse espaço lúdico? Não me parece, quando sobra para ostentações.
Tudo votado ao abandono.
É assim que vão sendo tratadas as memórias do povo abrantino.
Caro cidadão abt !
De norte a sul do país está tudo a retalho.Tudo por culpa da crise(dizem uns ).Tudo por culpa da incompetência(dizem outros)...resultante de canudos tirados a fórceps com requintes de corrupção...
As cidades vão ficando desertas,comércio e indústria de rastos .Assistimos à destruição de um património que era de todos nós...à partida da nossa juventude ,ao envelhecimento populacional...
Até quando ?
Um abraço.
Artur:
Para o ano que vem, com mil promessas o povo abrantino voltará a ser considerado!
É uma boa oportunidade que os abrantinos têm para exigirem que a sua memória seja respeitada!
É certo e sabido que depois de tanto esbanjamento em futilidades a presidência da câmara se descartará com a Lei 8/2012 - Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso e provavelmente mais uma vez o Zé Povinho encandeado com mil e uma promessas se deixará embalar na cantilena!
Maria Marques:
De norte a sul do país tudo a retalho ou tudo esfarrapado a exemplo do que documenta a triste imagem do bar da piscina!
Assistimos sim, à destruição do nosso património e também assistimos à promoção descarada de outros patrimónios!
Saudações bloguísticas!
Boas ...
Pois é Cidadão, a piscina era um ponto de "romaria" para a juventude durante o Verão. Muitas foram as tardes que passei neste complexo. Depois vieram os iluminados com aquelas teorias duma "terra boa pra viver e investir" e veja lá o Cidadão que acabaram com uma das coisas que realmente trazia alguma qualidade de vida à juventude do concelho. Nem sequer se deram ao trabalho de tentar a oferta da concessão do espaço a privados, por forma a manter um equipamento de valor, para a cidade e para o concelho e ao mesmo tempo reforçar o incentivo à pratica de natação, entre jovens e menos jovens. Isto é esperteza saloia. Mas a saloiada não ficou por aqui, ele foram cemitérios à americana, arrelvamento de pinhais, açudes, cujos custos de manutenção ainda estão para ser contabilizados no futuro, já para não falar do impacto ecológico no rio, hoteis de 4 estrelas, Ofélias, museus, cidades imaginárias, cobóis vermelhos e claro, o tal campo de basebol, o melhor de Portugal. Os chico-espertos que têm andado a governar (e a governar-se), este concelho ficam muito bem na fotografia da falta de estratégia adequada às realidades e necessidades do município.
Lá para os lados de São Facundo, freguesia a que retiraram tudo, sustituíram fossas sépticas individuaís por uma colectiva que, por mal construída, atira com a trampa para os cursos de àgua. Isto obra de uma empresa municípal, criada para profissionalizar uns serviços que sempre estiveram a cargo do executivo e que paga chorudos ordenados a certas pessoas. Pessoas estas que se encarregam de introduzir taxas e tarifas, por tudo e por nada e assim garantir as regalias a que tem direito. Esta política do "mais olhos que barriga" tem sido um desastre completo, veremos é se o povo se decide a votar de modo diferente e posteriormente exigir insenção, seriedade e competência aos autarcas que elegem.
Cumprimentos ao presidente do concelho de administração e ao Cidadão
Saberá caro Tramagalense...
...que durante a crise económica que nos assola, pelas férias grandes uma parte da juventude desta terra ruma aos festivais de música de todas as espécies e origens e às concentrações de motos, de norte a sul do País?
Às tantas é capaz de também passar pela escassez de oferta lúdica dos concelhos governados pelos tais iluminados.
De momento Abrantes não tem uma sala de cinema a funcionar com programação exceptuando uma Gala entre meia dúzia de espectáculos e de concertos por cada ano!
Concessão a privados seria tirar “visibilidade” ao novo complexo piscinico isto há dez anos atrás porque se fosse hoje, seria “desalavancar” o complexo piscínico!
Pois é meu caro esqueceu-se da ABUSA que tem dado um prejuízo do camandro em que a despesa mensal de contratação e eteceteras se cifra em 5600 €uros e a receita mensal é de aproximadamente em 650 €uros resultando num prejuízo aproximado de 4950 €uros a serem pagos por quem?
Saberá explicar o amigo Tramagalense, ou outro ciber que eventualmente leia este comentário?
O problema do voto é que as massas populares não têm a mínima consciência destes desgovernos com proveito próprio, pese muitos criticarem o que lhes é visível – as “Portas e Passagens,” nas Barreiras do Tejo e a “Tenda dos Milagres,” no Rossio ao Sul do Tejo, porque eles nem sabem o que é isso do Àquapólis e outros tantos vivem dependentes do, e eternamente gratos ao poder instituído!
O população abrantina tem medo da mudança e isso é um trunfo para o poder instituído!
Quanto à fossa de São Facundo poderá afirma-se com alguma certeza que o atentado ambiental do saneamento das Arreciadas se transferiu para lá!
Nos tempos em que o Cidadão abt utilizava os meios cibernéticos para divulgar esse atentado por além-mar, houve uns fraquinhos de espírito que tiveram a desfaçatez de enviarem comentários impróprios para consumo, reveladores do seu civismo e dignos de serem enviados directamente para o lixo, rendendo-se ao facto consumado da porcaria escorrendo pelos terrenos adiante e dos aromas que por ali tinham o prazer em respirar, formando pântanos que contaminavam os lençóis de água e a genética dos seres vivos, como por exemplo vitelos nascendo bicéfalos ou outras deformações genéticas menos visíveis, naturalmente esperançados em retirar protagonismo aos fenómenos do Entroncamento!
Com o problema quasi resolvido, jamais ousaram comentar sobre o assunto!
Saudações bloguísticas!
Muitas e boas horas nesta piscina, banhos, saltos, namoro e fugir aos ralhos do Justo. Bons tempos.
Agora os tempos andam tão depressa e tão desatinados que a rapaziada já nem devia estar preocupada com o estado da piscina; mas sim com a água para a encher.
Porquê reparar uma piscina se estamos a tentar vender a água bem essencial para a vida, e pertença de todos nós aos tubarões privados??
Contracenso!
Pobre piscina. Pobres todos nós.
Também eu molhei o cú algumas vezes nessa piscina. Aproveitava os feriados das aulas e as tardes das quartas e das sextas, pirava-me para lá e mamava umas tostas que eram uma maravilha!O Justo é que era um bocado chato quando a malta queria saltar das pranchas mas era o serviço dele!
Pois, pois, caro Doutor Beiramar!
Sendo privatizada a água dos Serviços Municipalizados de Abrantes, concluímos que deixará de ser um bem público!
Invariávelmente para não destoar, mais uma vez a coisa está a fazer-se pela calada... à revelia da opinião pública, claro está, porque esses servem para pagar as taxas e as tarifas!
Deve ser um dossier top secret do município!...
Encerrada a maioria das fontes do concelho, talvez depois de privatizadas as suas águas já sirvam para consumo!
Alcolobre???
Isso escreve-se?!
É que está a dar um bom exemplo à malta nova, hein!
Carregadas de poliinsaturados!!
As tostas barradas com manteiga engordam e mais tarde o pessoal terá que arrastar os pneus!!
Nos feriados das aulas aproveita-se é o tempo para se estudar as matérias mais dúbias ou que necessitam ser exercitadas!
Português, matemática e física por exemplo, necessitam bastante dedicação!
Mande sempre bitáitadas das boas!
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