O
BURACO
Vai
para uma semana que o norte do concelho
de Abrantes foi assolado por dois fenómenos que mobilizaram alguns
órgãos comunicação social bem como accionaram a veia opinativa de certos
blogger’s...
Dando-se
conta pela informação veiculada que os ditos procuravam a essência da coisa, enquanto
decorridas 48 horas após o sucedido, aos microfones da estação emissora de
ondas hertzianas parceiras do município e perante as tentativas goradas do
locutor-jornalista regressado da ressaca natalina, a responsável pela Protecção Civil do Concelho de Abrantes revelava
imprecisões quanto à localização exacta da coisa, que sob idêntico recobro
festivo, não se terá lembrando de perguntar ao seu vice-presidente e braço
direito, Mister Gomes que certamente
conhece razoavelmente aquele território até porque é de muita biolência o facto da mãe natureza fazer
das suas imediatamente a seguir às quadras festivas!
Afirmou
a senhora multipresidenta que já se
tinham para lá deslocado elementos da Protecção
Civil afim de se inteirarem e estabilizarem a situação...
Não gostando este Cidadão de escrever em vão nem sem conhecimento de causa
e assumindo uma atitude de freelancer blogueiro,
pese ultimamente trazer a lança um bocadito romba, resolveu pegar na digital,
calçar as botas e meter-se a caminho, rumo ao teatro de operações e às zonas de risco...
Dirigindo-se
ao troço de estrada municipal que segundo declarações posteriores da Presidente da Câmara e responsável
máxima pelos serviços de Protecção Civil
local, une o Souto à Atalaia e
percebendo de imediato que tempos antes da nossa Ministra da Agricultura Assunção Cristas por lá andar a apalpar menhires,
já por ali tinham passado os zifes
rapando o solo de toda a região.
Questionará
o ciberleitor sobre quem serão os zifes?
São homenzinhos munidos de motosserras que desbastam toda a floresta no sentido
de diminuir a concentração de biomassa combustível que facilitaria a propagação
dos incêndios florestais e nesse sentido, o norte do concelho de Abrantes terá servido de experiência
piloto para futuras intervenções de âmbito nacional...
Realmente
aquilo era um poço que anteriormente estaria cercado de vegetação cuja função natural seria a de
sustentar as ameias e impermeabilizar os terrenos envolventes...
Ora,
os zifes fizeram-lhe a depilação nas cercanias e nas bordas, de tal modo que chegada a época diluviana não houve torrão que se
contivesse e perante o assédio da humidade daí advinda, o buraco foi crescendo
e alargando a pontos de ameaçar o caminho municipal!
De
momento, tentam-se colmatar os desaforos da natureza através de dispositivos
artificiais...
Ftas de sinalização cercam a evolução do acontecimento!
Perante
as notícias veiculadas, não seria este o ponto mais periclitante do norte do concelho
e como o buraco do Souto não lhe deu muita pica, chegara a hora deste Cidadão
rumar para sudoeste onde existe uma pequena aldeia onde dizem um raio ter ali
feito das suas...
A Medroa!
Já tinham ouvido falar?
Duas
léguas vencidas e realmente, ao início da Rua
da Sobreira foram encontradas as ruínas de uma habitação...
Seria
aquilo?!
Não
senhores!!!
"O que quer daqui? Aquilo é dos Môcos!"
Empertigou uma das residentes...
Mais
adiante, a meio da barreira, discreto no interior dum quintal vigiado
por enorme cão rafeiro e duas caturras, lá estava mais um buraco protegido das intempéries com chapas onduladas de zinco submetidas ao peso de dois blocos de cimento assentes em travessas de
eucalipto e junto, a tal menina que falou para os órgãos de comunicação social, Noémia de sua graça e proprietária do espaço por herança...
Diria
que àsua passagem, a Ministra da
Agricultura terá deixado por ali um rasto de exoterismo e outras forças magnéticas que se traduziriam
no abrir de buracos no solo!
Analisado
o orifício e seus rebordos, verificada a ginjeira, examinadas as caturras e espiolhado
o pêlo do canideo que dava ideia de ensaiar as presas, de
chamuscado não havia qualquer vestígio e durante a conversa informal, olhando em redor foi
fácil compreender que também por ali tinham passado os zifes das motosserras,
limpando a região...
Mas
de facto, o mais importante seria o buraco
da Noémia pois foi por ele que este munícipe houvera percorrido tantos
quilómetros de uma só assentada!
Espreitando
bem lá para o fundo, percebia-se que se alonga numa espécie de túnel, enquanto entusiasmada sobre o terreno altamente escorregadio, a moçoila tentava dar
uma explicação algo electrostática para o fenómeno...
Dizia
ela que um raio terá ali caído entre as 8 e as 9 horas de Sábado dia 4 de Janeiro enquanto migava as couves
para as galinhas que andam um pouco encolhidas com frio!
A faísca passou-lhe entre as caturras, pelo meio das
galhas da ginjeira, rasou o focinho do cão... e tunga!
Foi um ver se te avias!
Abriu-se-lhe um buraco mesmo à frente dos lindos olhos!!
A rapariga diz que até ficou com a lâmina da faca deitando faíscas, e só
passado umas fracções de segundo é que ouviu o tal trovão...
Ora
bem, quando um tipo leva com um raio junto ao toutiço, ou fica completamente
paralisado ou então feito num tição, o efeito sonoro é sincronizado com o arco voltaico e nunca
percepcionado como um ribombar de tambores mas como um chicotear...
Quer
dizer que o fenómeno atmosférico, se o houve, terá sido de baixa intensidade, e
ao espetar-se na terra, abriu um buraquinho de pequeno diâmetro que com o aluimento do terreno circundante
se tem transformado num extenso buracão!
Pelas pombinhas brancas que esvoaçavam no local, tudo aponta para que se trate de uma mensagem do além ou na pior das hipóteses, conjectura-se que ali se tivesse aberto um portal de acesso à desaparecida civilização da Atlântida ou ainda, o resultado dum crooke de raios catódicos lançados por nave espacial com intenção de abrir a chaminé de passagem para uma base extraterrestre ali existente há longa data, supostamente antes de 17 de Junho de 1977, data em que o furriel da Força Aérea Portuguesa, José Francisco Rodrigues ia perdendo os tomates e o Dornier ao avistar um ovni mesmo à sua frente, pairando sobre a albufeira, pois cá o Cidadão abt sempre acreditou que os Castelos de Abrantes, do Bode e todo o norte do concelho reúnem as condições ideais para se fomentarem encontros imediatos do terceiro grau, pois são zonas de densos relevos que facilitarão a dissimulação dos homenzinhos verdes e contendo enormes massas de água fundamentais para arrefecer os reactores dos ovnis...
Foi
necessário chegar um idoso bem avinhado para nos explicar que
antigamente havia por ali uma mina que aventava áuga para uma fonte mais
adiante onde agora está um contentor do lixo e que o tecto daquilo devia ter aluído
com o amolecimento da terra por mor da idade ajuntada à chuva que vem
caindo, até porque no verão houve uns homens que andaram por ali a rapar o cabeço da Vergeira, deixando a terra desprotegida... assim reforçando as suspeitas cá do rapaz!...
Fez-se luz graças aos sábios conhecimentos deste ancião analfabeto, percebendo-se que o buraco da Noémia poderia remotamente
ter sido acelerado por uma descarga atmosférica atraída ao veio de água, exactamente no ponto onde a cavidade subterrânea conteria menos
espessura, antecipando a queda do tecto da mina e quanto ao ruído que fez estremecer a Noémia e os
populares sentiram,
teria sido causado pelo eco impactante de calhaus e terra desmoronando-se bem lá no fundo da cavidade rematada por um regueiro de água.
Como perante estímulos idênticos cada um de nós tem percepções diferenciadas conforme os padrões armazenados no nosso córtex cerebral e o nosso estado físico e psíquico, sendo submetida ao princípio de Weber na relação de proporcionalidade entre a energia do estímulo e a intensidade com que este foi interpretado, entendeu a
residente que não sendo aquilo uma erupção vulcânica ou fogo de artificio
com reluzentes lágrimas descendo do espaço sideral, então só poderia
provir dum corisco!!!
Antes isso que o Cabeço da Vergeira enfiar-se pelo Vale da Medrinha adentro, indo futricar os Tourizes...
Muito folclore e mito rural à mistura são óptimos ingredientes para vender notícia e tirar a aldeola do marasmo.
Segundo
o idoso, parece que naquele local quando dois aldeãos se desentendem, costumam
exclamar:
“Tás c’um raio no tótiço, nã tarda nada!!!”
Questionada
a Noémia se logo a seguir ao sucedido por lá tinham aparecido em primeira mão as equipas da Protecção Civil, respondeu que sim que vieram dois coveiros e um cangalheiro da Aldeia do Mato...
Os engenheiros geotécnicos é que apareceram passados uns
dias e agora, dia sim dia não, até lá vem a presidenta acompanhada de uns senhores...
Foi
preciso acontecer um fenómeno daquela envergadura para que a povoação da Medroa regressasse à ribalta das noticias
além-fronteiras e se reposicionasse no mapa dos roteiros turísticos de fenómenos paranormais!
Como
mais acima se encontra o edifício da escola primária desactivada e em estado de
degradação e abandono, era bom que alguém ali abrisse uma loja de conveniência e
comercialização de souvenir’s (mamoazinhas, menhirezinhos, picotozinhos, torrezinhas de vigia, artefactos paleolíticos), agúdias
fritas, ferraduras de Martinchel,
lambrusco palhêto e ginjinha com elas que conjugados ao buraco da Noémia poderiam realmente
tornar-se uma mina, quiçá, local propício à instalação duma
bomba de extracção de crude que desenvolveria a região, retirando
protagonismo aos Herity's de Abrantes!
Portanto caros ciberleitores e
jornalistas, não dramatizeis os buracos do norte do Concelho de Abrantes, se fazeis o obséquio...
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