OBRIGADA!
“Aqui, continuamos juntos. OBRIGADA!”
A parangona que a
seguir às Autárquicas de 2013
poderemos encontrar publicitada em enormes cartazes plantados junto às rotundas
deste quão peculiar concelho de Abrantes...
A
máquina partidária dos socialistas tubucos enveredou por uma eficaz estratégia de
marketing político tendo surgido em força no terreno ao anunciar a novel e promissora
Comissão Autárquica para a Cidadania,
conseguindo aglutinar cidadãos algo mediáticos e simpatizantes de outros quadrantes ideológicos em torno de uma causa subdividida em reuniões
sectoriais, iniciativa que d’ora avante se irá desvanecendo por ordem
natural, confirmando a sina de que o tempo tudo cura...
Tal
como aconteceu há quatro anos com a Cidadania
XXI.
Alguém se lembrará disto?
Foi
a rápida recuperação e repintura de vias públicas e muitas outras pequenas obras
de fachada associadas a uma catadupa de iniciativas lúdicas, desportivas e culturais que só voltarão a repeti-se daqui a quatro anos, sendo 60 mil euros da comissão política investidos na máquina propagandista, em reapresentações dos candidatos de freguesia em freguesia,
na redistribuição de brindes logotipados, na sucessiva remodelação de outdor’s, nas idas aos mercados e outros
insistentes contactos com as populações locais, foi a abertura de um gabinete de
atendimento personalizado no 18 da Rua Luís de Camões em que o poder
autárquico se fundiu com a concelhia do partido aglutinando a imagem de algumas
figuras semi-públicas nas áreas do desporto, da cultura, do comércio e da
indústria...
Estações autárquicas de dois em dois anos seria o ideal!
Aqui, funcionaram as teses de Friedrich Hegel em articulação com a emissora de ondas hertzianas subsidiada pelas parcerias municipais.
Parabéns
aos gestores publicitários!
É
certo e sabido que parte significativa da população de Abrantes assume a sigla do partido no poder como de identidade clubista se tratasse, ao ponto da comitiva durante as arruadas ter envergado camisolas
uniformes de inspiração desportiva, propagando a ideia de coesão e em contrapartida os demais
candidatos remeteram a sua projecção popular para os últimos quinze dias onde pouco
mais fizeram do que afixar alguns cartazes, não se esmerando no trabalho de campo,
não se apresentando nem promovendo rotinas de insistentes contactos com as populações, revelando falta de tenacidade e notória passividade que aos olhos das gentes
bem poderá ter sido interpretada como comodismo algo nefasto para a hipotética
gestão do município.
Sabemos
que directa ou indirectamente, a Câmara
Municipal de Abrantes é o maior
empregador do concelho e que bastantes empresas e comércio local contam com os organismos
municipais e estaduais para as tirar do sufoco económico e as relançar no
mercado, apostando num elenco sobejamente conhecido que lhes inspire confiança nos objectivos a atingir, em detrimento de outros candidatos menos projectados no território, sendo certo que uma parte informada da população, especialmente das zonas mais densamente habitadas, ciente dos
grandes fiascos financeiros da gestão municipal, interpretará tal esbanjamento de erário público com oliveiras centenárias e demais negociatas de imobiliário alienado
por um décimo do valor de aquisição ou do valor matricial como sinónimo de abastança económica
do município e no subconsciente as clientelas ensaiarão o trampolim municipal para alavancagem à subsidio-dependência em articulação com os
organismos estaduais de cariz europeu, enquanto a outra metade da população se abnegará aos sufrágios...
Entendemos que cada vez mais o ser humano é impelido por interesses e contrapartidas em detrimento das causas e princípios, não sendo por acaso que um dos estandartes durante a campanha eleitoral se sustentava no pedido do voto de confiança, porta a porta, fundamentado nos resquícios familiares, no amigo da câmara, da junta de freguesia ou de outra entidade administrativa que em determinada ocasião despachara um processo mais ou menos emperrado, satisfizera uma necessidade, correspondera a um pedido, mandara limpar o caminho, promovera a recuperação do fontanário ou tenha dado parecer favorável a uma reclamação, como se tais "obséquios" extravasassem as tarefas administrativas dos candidatos e suas arrastadeiras, no âmbito das funções que lhes foram delegadas.
"Em terra de cegos, quem te um olho é rei" será um provérbio inversamente proporcional ao grau de conhecimento e literacia das sociedades.
Por exemplo... cá, continuamos eternamente agradecidos!
É
disso exemplo a população de Oeiras que
prefere ser administrada pelo Isaltino
Morais “em cadeia de comando,” do que por um Moita Flores à solta!
Registando-se
uma afluência às urnas de 51,92% num
universo dos 18.210 votantes entre os
quais, 887 munícipes votaram em
branco por razões de insatisfação aliadas ao receio das consequências pseudo-administrativas inerentes a não anotar a sua participação cívica nas listas, perfazendo 17.323 eleitores.
Questionemos-nos pois, sobre o que é feito dos restantes 16.865 abstencionistas?
Não acreditando em zombies e considerando
que o último recenseamento eleitoral remonta ao ano de 2012, teremos que reduzir os abstencionistas em 10% por razão dos óbitos não aventados dos cadernos eleitorais e se lhes juntarmos os 5% que desistiram de
viver neste lindo jardim à beira mar plantado, optando por outras paragens mais
hospitaleiras, contabilizaremos 14.420 indivíduos
em que um número residual poderá não ter tido oportunidade de se deslocar às mesas de voto, sendo axiomático que a maioria dos netos dos homens que nunca foram meninos não se
encontra motivada para as questões sociais nem sensibilizada para as causas de cidadania, subvalorizando os actos cívicos em prol das actividades lúdicas.
Reparemos
que na noite do escrutínio, os telespectadores dos canais abertos preferiram
satisfazer o voyeurismo na apresentação dos concorrentes em mais um reality-show de cariz pimba, em
detrimento dos escrutínios autárquicos!
Se mitigarmos os números da emigração e dos óbitos, concluiremos que no país, aproximadamente 3.848.324 munícipes se abstiveram de votar,
significando que pelo menos 34% dos
portugueses se estão simplesmente borrifando para as questões políticas e para os
desígnios do país que os acolhe...
Porquê?
No íntimo bem sabemos que inserido no universo dos munícipes não votantes e daqueles que votaram em branco, reside um enorme leque de decepcionados, maltratados pelo Estado e amargurados com
os políticos que regeram, regem ou se propõem reger o bem público, consistindo exactamente
numa fatia de cidadãos auto-suficientes que não acredita em discursos fictícios, sorrisos amarelos,
abraços, beijos e promessas ocas, nem deposita a mínima confiança em campanhas
de sensibilizações oportunistas e diariamente sofre na pele a pressão dos impostos,
contribuições, taxas, sobre-taxas e tarifas que sustentam os investimentos em projectos fúteis, megalómanos e sem viabilidade económica, promovidos por gente que vive no conforto dos chorudos vencimentos públicos e subsídios de reintegração e, ou, de deslocação que lhes permite viajar pelos quatro cantos do mundo sob a égide da divulgação das regiões que representam, ignorando, subvalorizando ou depreciando o custo do dinheiro esgaçado ao suor dos que manjam o pão que o diabo amassou.
Neste universo de abstencionistas é comum ouvirmos o slogan popular:
"-São todos iguais. O que eles querem, é tacho."
A
maioria das abstenções e dos votos em branco são evidentes manifestações de
desalento e protesto silencioso.
Ao caso em apreço, vale para com um sistema político que não tem correspondendo para os 43% da
população e cuja percentagem funciona como um barómetro que vai oscilando de concelho para concelho consoante o grau de insatisfação e de descrédito dos munícipes para com o poder local! Em Abrantes ganhou a abstenção!
Os
políticos caíram no descrédito das populações só se revendo na fidelidade, no clubismo, no comodismo e no clientelismo e salvaguardando nas convicções daqueles que não desistem de acreditar na mudança cada vez mais travestida de
utopia...
Valente
nação em que os beneficiados são invariavelmente os habitués e atrás da fachada, Abrantes
não sendo excepção, também se inclui na regra...
Enquanto
parte daqueles que votaram na candidatura vencedora o fazem para defender a sua
estabilidade económica e social, a maioria dos abstencionistas e dos que
votaram em branco nada perderão com a sua atitude...
Assim,
melhor entendemos a mensagem:
“Aqui, continuamos juntos. OBRIGADA!”
1 comentário:
Um texto interessantíssimo,relatando os "meandros da política"de uma forma inteligente.
A verdade é que a abstenção atingiu níveis a ultrapassar 50% em muitos locais.A estes vamos juntar os votos em branco e o que dá?
Alguém se pode considerar vencedor em situações destas?
Não interessa aos políticos analisarem esta atitue dos cidadãos , por demais esclarecedora.
Algo vai muito mal num país aonde o povo rejeita o direito de votar.
Um abraço, amigo cidadão abt
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